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terça-feira, 13 de março de 2007

Aborto: síndrome pós aborto

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 405/1996)


Em síntese: O aborto tem, para a mulher, conseqüências fortemente traumatizantes, como reconhecem bons psicólogos. Por vezes manifes­tam-se logo explicitamente; às vezes ficam latentes por algum tempo. A autora do artigo enumera vários sintomas desse traumatismo, e procura pistas para aliviar a mãe abatida; entre estas, afirma a conveniência de que, feito o aborto, a mulher reconheça a realidade; não raro ela é vitima, porque induzida a abortar; em vários casos, porém, ela procura espontane­amente eliminar o feto - o que contraria o instinto materno característico do sexo feminino. O artigo analisa diversas situações, valendo-se dos estudos de colegas em medicina.

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Publicamos, a seguir, um artigo da Dra. Wanda Franz, PhD, sobre as conseqüências do aborto para a mulher. A autora é Professora Associada de Recursos Familiares na Universidade de West Virginia (USA). O trabalho tem por título What is pos-abortion Syndrome? e foi traduzido para o português pelo Dr. Herbert Praxedes, Professor Titular do Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense. O texto português foi editado pelos Arquivos Brasileiros de Medicina, julho de 1995, vol. 69, n° 7, pp. 359-361 . Visto que tal estudo é de grande interesse para o Brasil, merece divulgação, de mais a mais que a sua linguagem não é demasiado técnica. Eis por que, com as devidas licen­ças o reproduzimos. - Seja aqui expressa a gratidão da Direção de PR ao Prof. Dr. Herbert Praxedes, valioso colaborador de nossa revista.

1. EXISTE OU NÃO A SÍNDROME PÓS-ABORTO?

Que sabemos das conseqüências prejudiciais do aborto para a mu­lher? Aqueles que aconselham e executam abortos, sempre afirmaram não haver efeitos psicológicos desfavoráveis importantes decorrentes do aborto e, além disso, nenhum trauma a longo prazo. O problema com tais afirmati­vas é que essas pessoas empregadas ou não em clínicas de aborto e ou­tras, adeptas dessa prática, nunca estão em condições de avaliar na mu­lher as conseqüências que se seguem ao aborto. Imediatamente após o ato, o pessoal clínico simplesmente manda a mulher para casa, e, se ela vier a ter problemas, deverá ir procurar auxílio em outro lugar qualquer.

Uma investigação mais sistemática demonstra que todas as reações perigosas ao aborto ocorrem tardiamente. Este padrão de reação retardada fez com que seja muito mais difícil delimitar, avaliar e caracterizar o proble­ma. A par disso, a comunidade de saúde mental tem sido muito lenta em reportar as reações desfavoráveis ao aborto. Eu sou de opinião de que o aborto é um procedimento traumático, que tem repercussões negativas para a mulher, mas cujas manifestações objetivas podem ser retardadas.

Recentemente os terapeutas têm observado pavores irracionais e de­pressões ligadas às experiências abortistas e rotularam o problema como síndrome pós-aborto (SPA). Dr. Vicent Rue comparou-a à desordem ansio­sa pós-traumática (DAPT), a qual a comunidade

psiquiátrica reconhece como uma reação a longo prazo encontrada nos veteranos da Guerra do Vietnam, que subitamente exibem comportamento patológico anos após a experiên­cia vivida na guerra. Rue acredita que a SPÁ é uma forma de DAPT. É significativo o fato de que a Associação Americana de Psicólogos levou doze anos para reconhecer oficialmente a DAPT como uma entidade clíni­ca.

Uma questão importante é: todas as experiências abortivas são auto­maticamente estressantes ou apenas algumas mulheres têm problemas? Se apenas algumas mulheres sofrerão da SPA, quais são as característi­cas daquelas mais suscetíveis? Essas são questões que não podem ser completamente respondidas agora. Rue acredita que existam várias

cate­gorias de reações: que algumas mulheres respondem com grande trauma, outras com reações moderadas, enquanto um terceiro grupo pode vir a nada sofrer posteriormente. A terapeuta Terry Selby, porém, acredita que cada aborto produz um trauma na mulher.

O aborto é, antes de tudo, um procedimento físico, o qual produz um choque no sistema nervoso e que deve provocar um impacto na personalida­de da mulher. Além das dimensões psicológicas, cada mulher que se sub­meteu a um aborto deve encarar a morte de seu filho que não nasceu, como uma realidade social, emocional, intelectual e espiritual. Tanto Selby como a Dra. Anne Speckhard trabalharam com mulheres que tentaram ignorar os efeitos do aborto e ambos acreditam que, quanto maior a rejeição, tanto maior a dor e a dificuldade quando a mulher resolve finalmente enfrentar a realidade da experiência abortiva.

2. COMO SE EXPLICA A EXISTÊNCIA DA SÍNDROME PÓS-ABORTO?

Para entender este achado e ter alguma base para raciocínio e pesqui­sa da SPA, é necessário que entendamos a orientação teórica dos terapeutas e seus "pressupostos". A primeira premissa é que existe um processo inconsciente em ação em cada pessoa e que controla os estados emocionais e, em última análise, o comportamento. Se uma verdade é por demais desagradável, é possível aos seres humanos suprimir ou repri­mir a realidade na parte inconsciente de suas mentes de forma a não ter que conscientemente pensar nela. Isto é uma faculdade muito importante, porque nos protege da necessidade de pensar constantemente sobre acon­tecimentos muito dolorosos.

Uma segunda premissa postula que, mesmo sendo possível re­primir fatos reais, eles, apesar disso, continuam a afetar nossos esta­dos emocionais e nosso comportamento. Quando existe excesso de rejeição, a dor reprimida nos traumatiza de alguma outra forma. De acordo com os clínicos, quando as mulheres que abortaram rejeitam ou reprimem sua experiência, os desajustamentos podem acarretar grande descontrole emocional quando próximas a crianças, um medo irrealístico a médicos, uma incapacidade de tolerar um exame ginecológico rotineiro, ouvir o som de um aspirador de pó ou ser sexualmente estimuladas, etc.

O fato importante a ser entendido é que estas manifestações são rea­ções irracionais a acontecimentos perfeitamente normais; as mulheres não têm consciência de sua ligação com a experiência abortiva. É somente através da terapia que a ligação freqüentemente emerge. Assim, a partir dessa perspectiva teórica, admite-se que mesmo mulheres lesadas por suas experiências abortivas podem, de boa fé, alegar não terem sofrido reações adversas, já que os sentimentos foram reprimidos, não havendo noção cons­ciente dos mesmos. Além disso, de acordo com a mesma teoria, quanto maior a repressão, quanto maior a rejeição, maior é o dano à personalidade da mulher.

Como mencionado antes, Selby acredita que quanto maior a negação, mais graves serão as reações e mais doloroso será o tratamento. David Reardon, em seu levantamento de mais 200 mulheres pertencentes ao mo­vimento de Mulheres Vitimadas pelo Aborto (WEBA), encontra também evi­dências, em suas observações, de que quanto mais tarde a realidade é admitida, mais difícil é a solução do problema. Assim, a conclusão é que cada aborto tem efeitos prejudiciais sobre a mulher.

Os defensores do aborto advogam que somente as mulheres com pro­blemas psicológicos anteriores têm dificuldade em suportar as experiênci­as abortivas. As próprias mulheres discordam dessa proposição. Contudo, pode ser verdade que mulheres com problemas prévios sejam mais suscetí­veis às reações mais graves. Nós simplesmente não temos elementos para responder a essas questões de imediato. Podemos, entretanto, concluir, com certeza, que essas mulheres deveriam ser protegidas de traumas futu­ros induzidos por experiências abortivas.

3. QUAIS AS MANIFESTAÇÕES DA SÍNDROME PÓS-ABORTO?

Quais são os problemas que uma mulher que provocou um aborto deve encarar? Antes de tudo e principalmente, a necessidade de enfrentar a rea­lidade de ter provocado um aborto.

A verdade é que, quando uma mulher aceita submeter-se a um aborto, ela concorda em assistir à execução de seu próprio filho. Esta amarga realidade que ela tem de encarar, se opõe vivamente àquilo que a sociedade espera que as mulheres sejam: pacien­tes amorosas e maternais: Isso também vai contra a realidade biológica da mulher, que é plasmada precisamente para cuidar e nutrir seu filho ainda não nascido. Assumir o papel de "matadora", particularmente de seu

pró­prio filho, sobre o qual ela própria reconhece a responsabilidade de proteger, é extremamente doloroso e difícil. O aborto é tão contrário à ordem natural das coisas, que ele automaticamente induz uma sensação de culpa. A mulher, entretanto, deve admitir sua culpa para poder conviver com ela.

Existe uma escola de pensadores, adotada pela maioria dos promoto­res de aborto, que afirma que a admissão da culpa não é necessária. Sus­tentam eles que, se uma mulher se sente culpada, é porque alguém "colo­cou a culpa nela". O que eles sugerem é que isso acontece, porque a mu­lher foi forçada pelos adeptos dos movimentos Pró-Vida a "assumir uma atitude de culpa", que cria uma dor desnecessária e que não leva a lugar algum.

Presumem eles que a culpa não emerge do interior da mulher, mas ao contrário é incutida para dentro dela. Contudo, a experiência das mulheres que se submeteram a abortos não está de acordo com essa afirmação. Ao contrário, as mulheres pertencentes ao movimentos de Mulheres Vitimadas pelo Aborto relatam que a culpa se manifestou e cresceu com a própria experiência abortiva; foi parte da reação própria ao aborto e não infundida nelas por outras pessoas.

A primeira providência enfatizada pelos clínicos que trabalham com mulheres que se submeteram a abortos, é fazer com que elas chorem pelo filho perdido. A realidade é que uma criança morreu e a resposta humana natural à morte é a tristeza. Se a mulher é impedida de assim reagir, ela terá dificuldade de encarar a realidade da experiência abortiva. Entristecer-­se significa que ela tem noção de seu filho e que ela está chorando por uma determinada pessoa que morreu. Obviamente isto é mais difícil quando se trata de uma criança que nunca foi vista. Era um menino ou menina? Qual a cor dos cabelos e dos olhos que ele ou ela teriam? O problema é ainda mais intrincado no caso do aborto, porque o corpo da criança é geralmente muti­lado e é difícil para a mulher pensar na criança cujo corpo não mais existe.

Dr. E. Joanne Angello compara isso ao problema que enfrentam os pais de uma criança que teve morte violenta e cujo corpo não é encontrado, impedindo que ele seja velado ou enterrado. Como se pode resolver o pro­blema? Em primeiro lugar, a mulher deve admitir que a criança está morta, de maneira que ela possa chorar por ela. Para chegar a este ponto, a mu­lher tem que quebrar suas rejeições para permitir o reconhecimento da cul­pa. A culpa pode ser então utilizada terapeuticamente para ajudá-la a acei­tar o fato de que ela errou, pedir perdão e ser curada.

4. A TERAPIA CORRESPONDENTE:

Os terapeutas desenvolveram estratégias diferentes para ajudar a mulher. Por exemplo, Speckhard desenvolveu uma conduta fazendo com que a mãe visualize seu bebê dando a ela uma boneca para representar o filho morto. Ela é encorajada a dar um nome à boneca e falar com ela sobre seus sentimentos e tristeza. Isto lhe dá uma oportunidade de se "desculpar" com o bebê morto pelo que ela lhe fez e começar a prantear a criança perdida.

A abordagem de Selby requer que a mulher exteriorize a dor de sua experiência. Ela acredita que ela deva admitir como reais e liberar as emo­ções contidas e que nunca foram expressas por terem sido reprimidas pela rejeição. Isto pode ser um procedimento emocionalmente muito doloroso. Uma abordagem inteiramente diferente é contudo necessária para mulheres com um ano ou mais de experiência abortiva e que pedem uma alternativa ou um programa do WEBA. Elas geralmente já admitiram sua culpa e so­frem por ela, mas necessitam de alguém para ajudá-las no sofrimento.

Assim, existe uma variedade de problemas e necessidades e uma di­versidade de estratégias para ajudar as mulheres no processo de cura. A despeito dessa diversidade, existe algo que todos os terapeutas têm em comum: é acreditarem que a cura deve ser encarada como um aconteci­mento espiritual. Frei Michael Mannion sintetizou sua posição quando dis­se: "O Autor da vida deve curar a perda da vida". Somente pela aceitação do amor e o perdão de Deus a mulher pode ser curada. Qual a natureza dessa cura? Pode ela apagar o aborto como se ele nunca tivesse ocorrido? A resposta a esta última questão é "não". Como uma mulher do WEBA colo­cou: "Pode-se ser curada da culpa, mas a tristeza está sempre lá".

Assim, o primeiro propósito da experiência de cura é superar os efei­tos adversos da culpa não admitida, mas o remorso pelo ato é para toda a vida. Por mais completa que seja a cura, a realidade do ato em si não pode ser apagada. O bebê abortado é uma pessoa humana real cuja ausência será sentida pela mãe e por aqueles ao redor dela, enquanto eles viverem. Os novos relacionamentos que a mãe vier a desenvolver, serão afetados pela ausência da criança morta. Crianças nascidas subseqüentemente ao aborto terão um irmão morto, cuja realidade causará sempre um impacto em suas vidas. A experiência clínica de Angello com tais crianças tem sido considerável. Seus pais se caracterizam por uma proteção patológica aos filhos, receando perdê-los por algum acidente ou doença. O desejo obsessi­vo de outros filhos é decorrente da necessidade de terem uma criança para colocar no lugar da morta. Esse comportamento é extremamente prejudicial à evolução e ao desenvolvimento normal dos filhos.

Assim os efeitos do aborto atingem a vida de cada indivíduo à volta da mulher, incluindo seus amores e filhos futuros. Por exemplo, como alguém diz a seus próprios pais que um seu neto foi morto e que nunca participará de um Natal ou uma excursão ao zoológico? Como se fala a um filho que nasceu depois, porque um irmão ou uma irmã foram mortos e, mais impor­tante, porque ele em particular não foi assassinado?

Como explicar o aborto a um futuro marido que deseja casar-se e ter uma família? Que dizer, se a mulher ficou estéril? Seria a esterilidade cau­sada pelo aborto? Estas são questões duras, que devem ser respondidas. Felizmente, a mulher que se curou estará apta a lutar para superar esses problemas, mas nunca será fácil; antes, sempre será doloroso. De que maneira são as mulheres vitimadas pelo aborto? Primeiro de tudo, nós sabemos que a maioria das mulheres que se submeteram a abor­to teriam preferido outra solução para o problema. Elas são claramente vítimas de uma decisão tomada por outros. Contudo, muitas mulheres real­mente escolhem o aborto. Podem elas ser consideradas vítimas? Os dados sobre a síndrome pós-aborto indicam que a culpa e a dor inerentes ao aborto em si mesmo vitimam a mulher. Como uma mulher, membro do WEBA, coloca: "Uma vez que a mulher se torna mãe, ela será sempre mãe, tenha ou não nascido seu filho. O filho morto fará parte de sua vida, por mais longa que ela seja". O aborto não é definitivamente a "solução fácil" de um grave problema, mas um ato agressivo, que terá repercussões contínuas na vida da mulher. É nesse sentido que ela é vítima de seu próprio aborto e temos obrigação para com a mulher de lhe dizer esta verdade.

2 comentários:

Maycon de Oliveira disse...

Por favor, vocês podem perguntar pra algum feto que foi abortado o que ele acha do aborto?

Maycon de Oliveira disse...

Olhando por um viés sómente afetivo, irracional, é fácil tomar parte de uma opinião. É claro que um aborto mau sicedido causa problemas, tanto para a mão quanto para a criança, em se tratandod ela sobreviver. É por isso que é necessário o aborto na rede pública, para que esses problemas diminuam.