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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Escapulário do Carmo

A palavra escapulário provém do termo latino scapula, e significa ombros, e indica propriamente um vestido ou hábito que certas ordens religiosas, como os Beneditinos, Carmelitas, Cistercienses e Dominicanos usavam desde os tempos mais remotos, colocado por cima do hábito normal cobrindo os ombros até a altura do peito, com o motivo de manifestar através de mais um sinal a consagração que faziam a Deus. O povo cristão, imitando este costume, começou a usá-lo só que em menores proporções.

O escapulário que ficou mais popular e conhecido é o da ordem do Carmo, que parece ter servido de modelo para todos os outros. É formado por dois pedaços de pano de lã, retangulares, de cor marrom escuro, unidos por dois cordões. Num pedaço de pano há a figura de Nossa Senhora do Carmo e, no outro, a do Sagrado Coração de Jesus. Quem recebe o escapulário mediante a cerimônia aprovada pela igreja poderá usufruir de todos os privilégios que estão mencionados abaixo. Estes privilégios foram concedidos em primeiro lugar aos Carmelitas e, mais tarde, a todo o povo cristão.

Origem: São Simão Stock: graça da perseverança final

Nascido na Inglaterra por volta do ano 1165, aos 12 anos de idade se retira para viver em solidão acompanhado de um crucifixo e de uma imagem de Nossa Senhora. Anos mais tarde, continuar a levar uma vida de eremita acaba conhecendo um grupo de religiosos do monte Carmelo que foram parar na Europa fugindo dos sarracenos. Sentindo-se enormemente atraído pela vocação destes religiosos, decide entrar para a ordem meses depois. No ano de 1245 é nomeado sexto geral da ordem (diretor geral).

Ocupando este cargo e vendo as dificuldades e perseguições intensas a que estavam sendo sujeitos - chegaram quase ao ponto de desaparecerem -, decide recorrer à proteção de Nossa Senhora invocando-a com o título de Flor do Carmelo. Nossa Senhora atende a sua súplica e lhe aparece, rodeada de anjos e segurando o escapulário da ordem. Em seguida fez uma promessa: "isto será para ti e para todos os Carmelitas privilégio. E morrendo com este escapulário não sentirá pena do fogo eternamente, e morrendo com isto será salvo". (N. Calciuri, O, Carm., Vita fratrum de sancto Monte Carmelo, 1461, editado en "Ephemerides Carmeliticae" 5 [1955] 444).
Embora a data desta visão seja incerta, situa-se dentro do generalato de São Simão (1245-1265) e é anterior ao dia 13 de janeiro de 1252, dia em que o papa Inocêncio IV expediu a bula Ex parte dilectorum, onde testemunha a veracidade deste privilégio. É incerto também o lugar da aparição. O conteúdo desta promessa é a perseverança final (a salvação) a quem morra usando este escapulário.

Esta graça da salvação eterna é preciso entendê-la corretamente. A graça que Nossa Senhora concede aos que usam o escapulário e morrem com ele é a de se arrependerem de todos os pecados cometidos em vida, já que é de fé que só se pode salvar quem esteja em estado de graça na hora da morte.

Privilégio sabatino: papa João XXII

À primeira promessa de perseverança final, é preciso acrescentar o chamado privilégio sabatino. Por este privilégio, a pessoa que usar piedosamente o escapulário, Nossa Senhora a tirará do Purgatório (se lá estiver) e a levará para o Céu no sábado seguinte após a morte. Esta promessa da Santíssima Virgem foi comunicada pelo papa João XXII na bula Sacratissimo ut culmine no dia 3 de março de 1322.

A sua origem é a seguinte: como a igreja já estava reunida há dois anos (1314-1316) para escolher o Sumo Pontífice e a questão não se resolvia, Nossa Senhora aparece ao futuro papa, que terá o nome de João XXII, e anuncia-lhe a sua eleição e lhe ordena que, uma vez eleito, promulgue uma nova graça para a ordem do Carmelo. São estas as suas palavras: "João, Vigário do meu Filho, espero de ti uma ampla e favorável confirmação da Sagrada Ordem dos Carmelitas que sempre me foi muito cara... se entre os religiosos ou confrades desta ordem, houvesse algum que ao morrer tenha que pagar seus pecados no cárcere do Purgatório, Eu, que sou a Mãe de Misericórdia, descerei ao Purgatório no primeiro sábado após morte, e o livrarei para conduzi-lo ao Monte Santo da Vida Eterna" (cfr N. Calciuri, o.c. p. 405-406).

No final do século XVI a autenticidade deste privilégio foi posta em dúvida e atacado até o ponto do inquisidor geral de Portugal e de Avignon proibir que fosse pregado ao povo. Os Carmelitas recorreram à Santa Sé e o papa Paulo V, mediante um decreto, pôs fim à questão autorizando que o pregassem com toda liberdade a todos os cristãos.

Foram tantas as confirmações deste privilégio por parte da Santa Sé que alguém chegou a afirmar "que nenhuma outra devoção, fora o terço, tem sido tantas vezes confirmada como o privilégio sabatino" (Cfr. M. di S. Maria, Il Privilegio Sabatino. Parte storica: "Lo Scapulare" 2 [Roma 1950] 71-72). Para as repetidas afirmações do Privilégio Sabatino por parte da Santa Sé pode-se consultar o Bullarium Carmelitanum II, p. 47 ss.; 68; 196 e 596, etc.

Condições requeridas para merecer estes privilégios

Para alcançar o privilégio da perseverança final se requer:
1. Usar o escapulário do Carmo, imposto e abençoado devidamente pelo sacerdote.
2. Usá-lo piedosamente, ou seja, esforçar-se por cumprir os deveres cristãos.
3. Levá-lo posto na hora da morte.
Para alcançar o privilégio sabatino se requer:
1. Usar o escapulário do Carmo, imposto e abençoado devidamente pelo sacerdote.
2. Usá-lo piedosamente, isto é, esforçar-se por cumprir os deveres cristãos.
3. Levá-lo posto na hora da morte.
4. Guardar a castidade segundo o próprio estado.
5. Rezar diariamente o ofício divino (os que estão obrigados a ele); os demais fiéis podem comutar esta obrigação por outras práticas da piedade cristã.

Conclusão

Todas as aprovações do escapulário feitas pelos papas nos últimos séculos dão a esta devoção um valor inestimável. "Traz sobre o teu peito o santo escapulário do Carmo -diz monsenhor Josemaría Escrivá-. Poucas devoções (há muitas e muito boas devoções marianas) estão tão arraigadas entre as fiéis e têm tantas bênçãos dos Pontífices. Além disso, é tão maternal este privilégio sabatino" (Caminho, n.500).

"Há muitas outras devoções marianas que não é necessário recordar neste momento. Não se trata de introduzi-las todas na vida de um cristão - crescer na vida sobrenatural é muito diferente de um simples ir amontoando devoções -, mas devo afirmar, ao mesmo tempo, que não possui a plenitude da fé cristã quem não vive algumas delas, quem não manifeste de algum modo o seu amor por Maria.

Os que consideram ultrapassadas as devoções à Santíssima Virgem dão sinais de terem perdido o profundo sentido cristão que elas encerram, e de terem esquecido a fonte de que nascem: a fé na vontade salvífica de Deus Pai; o amor a Deus Filho, que se fez realmente homem e nasceu de uma mulher; a confiança em Deus Espírito Santo, que nos santifica com a sua graça. Foi Deus quem nos deu Maria: não temos o direito de rejeitá-la, antes pelo contrário, devemos recorrer a Ela com amor e com alegria de filhos" (Mons. Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n.142).

Indulgências

Pode-se ganhar indulgências plenárias:
1. No dia da imposição do escapulário.
2. Na solenidade de Nossa Senhora do Carmo (16 de julho).
3. Na festa de São Simão Stock (16 de maio).
4. Na festa de São Elias, profeta (20 de julho).
5. Na festa de Santa Teresa de Jesus (15 de outubro).
6. Na festa de São João da Cruz (14 de dezembro).
7. Na festa de Santa Teresa do menino Jesus (1 de outubro).
8. Na festa de todos os santos da ordem do Carmo (14 de novembro).

Textos do magistério

Inocêncio IV (1243 - 1254)
Publica três documentos sobre o escapulário: um em 1246, outro em 1247, e o mais importante no dia 13 de janeiro de 1252 (bula Ex parte dilectorum). Neste último documento ameaça de excomunhão os que negam a promessa feita por Nossa Senhora a São Simão Stock: "isto será para ti e para todos os Carmelitas privilégio. E morrendo com isto será salvo" (Cfr. E. BERGIER, Les registres d'Innocent IV [París] 1, 1884).

João XXII (1316 - 1334)
Bula Sacratissimo ut culmine (março de 1322)
"João, Vigário do meu Filho, espero de ti uma ampla e favorável confirmação da Sagrada Ordem dos Carmelitas, que sempre me foi muito cara... se entre os religiosos ou confrades desta ordem, houvesse algum que ao morrer tenha que pagar seus pecados no cárcere do Purgatório, Eu, que sou a Mãe de Misericórdia, descerei ao Purgatório no primeiro sábado após a sua morte, e o livrarei para conduzi-lo ao Monte Santo da Vida Eterna"

Paulo V (1605 - 1621)
1. Breve Cum certas (outubro de 1606): concede indulgências aos que usam o santo escapulário, devidamente imposto.
2. Decreto (junho de 1608): permite aos Carmelitas publicar em suas pregações que o povo cristão pode crer piedosamente (com motivo dos sufrágios das almas dos confrades mortos em caridade) que a Santíssima Virgem ajudará com sua contínua intercessão, com seu sufrágios, com seus méritos e especial proteção, depois da morte, e especialmente no sábado, aos que tenham levado o escapulário em vida, guardado a castidade própria do seu estado, rezado o Ofício Parvo, ou na sua falta, tenham observado o jejum da Igreja e a abstinência nas quartas-feiras e sábados, exceto no dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo (Cfr. Sumário de indulgências da Confraria do Escapulário, aprovado pela Sagrada Congregação das Indulgências 1-XII-1866).

Pio IX (1846-1878)
Documentos que estabelecem que a forma do escapulário do Carmo é imutável e tem que ser de lã (julho de 1868).

Pio X (1903-1914)
Concede a dispensa para o uso do escapulário de metal. O escapulário de pano continua sendo mais recomendável por ser mais simbólico.

Pio XII (1939-1958)
Epístola aos Gerais dos PP. Carmelitas (fevereiro de 1950).
Devido ao sétimo centenário do escapulário, o denomina a “primeira devoção mariana, memória de humildade e castidade, breviário de modéstia e simplicidade, símbolo de súplicas e consagração ao Coração de Maria. Ninguém ignora, certamente, quanto o amor à Santíssima Mãe de Deus contribuiu para avivar a fé católica e os costumes cristãos, especialmente através daquelas expressões de devoção com as que, de modo especial com relação às outras, parece que as mentes se enriquecem de doutrina sobrenatural e as almas são solicitadas ao cultivo da virtude cristã. Entre estas figura, em primeiro lugar, a devoção ao santo escapulário dos Carmelitas que, adaptando-se por sua simplicidade a índole de todas as pessoas e com ubérrimos frutos espirituais está amplamente difundida entre os fiéis cristãos. Com grato ânimo, entendemos que, ao aproximar-se o sétimo centenário da instituição desse escapulário da divina Mãe do Monte Carmelo, os religiosos Carmelitas, tanto calçados como descalços, estabeleceram promover solenes celebrações em honra da Bem-aventurada Virgem Maria. Esta piedosa iniciativa a recomendamos de todo coração, tanto por nosso constante amor para a Mãe de Deus como por nossa agregação, desde a mais terna idade, à confraria de tal escapulário, e desejamos de Deus uma abundante chuva de favores. Porque não se trata de coisas de pouca importância, mas da aquisição da vida eterna, em virtude da tradicional promessa da Beatíssima Virgem; trata-se, de fato, da empresa mais importante e do modo mais seguro de levar a cabo. Certamente o sagrado escapulário, como veste mariana, é sinal e garantia da proteção da Mãe de Deus; mas não pensem que a veste pode conseguir a vida eterna na preguiça e na indigência espiritual já que avisa o Apóstolo: “Procurai vossa salvação com temor e tremor” (Fil 2, 12¨). Portanto, todos Carmelitas, que, tanto nos claustros da primeira e segunda ordem como na terceira ordem regular e secular e nas confrarias, pertencem, por um particular vínculo de amor à família da Beatíssima Mãe, tenham no memorial de tal Virgem o espelho de humildade e de castidade; tenham na simples confecção desta veste, um breviário de modéstia e simplicidade; tenham sobretudo, na veste que de dia e de noite levam, a elegante expressão simbólica das súplicas com que invocam a ajuda divina; vejam, finalmente, naquela consagração o Sacratíssimo Coração da Imaculada Virgem Maria que recente e vivamente temos recomendado. Certamente, a piedosíssima Mãe não deixará de fazer que os filhos que expiam no Purgatório suas culpas alcancem o mais cedo possível a pátria celestial por sua intercessão, segundo o chamado privilégio sabatino que a tradição nos transmitiu”.

Paulo VI (1963-1978)
Exortación Marialis cultus (fevereiro de 1974)
Cremos que entre as formas de piedade mariana deve contar-se expressamente o terço e uso devoto do escapulário do Carmo. Esta última prática pela sua própria simplicidade e adaptação a qualquer mentalidade, tem conseguido ampla difusão entre os fiéis, com imenso fruto espiritual.