(Revista Pergunte e Responderemos, PR 456/2000)
Em síntese: A Beatificação de Francisco e Jacinta Marto, adolescentes e videntes de Fátima, causa surpresa: podem tais crianças ter tido a fé e o amor característicos da santidade proclamada pela Igreja quando beatifica ou canoniza alguém? - A resposta a tal indagação é dada pelo Sr. Bispo D. Alberto Cosme do Amaral numa valiosa homilia proferida na basílica de Fátima aos 20 de fevereiro de 1981, quando se começava a mover o Processo respectivo de Beatificação; o prelado cita testemunhos de peritos que atribuem aos adolescentes a compreensão suficiente para viverem uma santidade heróica.
* * *
A Beatificação de Francisco e Jacinta Marto (13/05/2000), pequenos pastores e videntes de Fátima, suscita questionamentos. Na verdade, os dois morreram em idade adolescente: Francisco nasceu a 11/06/1908 e faleceu aos 4/04/1919, com menos de onze anos de idade, e Jacinta viveu de 11/03/1910 a 20/02/1920 (quase dez anos!). - Donde a pergunta: podem crianças de tão pouca idade ter compreendido a grandeza da fidelidade a Cristo a ponto de poderem ser proclamadas santas? A santidade dos Santos canonizados pela Igreja não requer maturidade tal que um adolescente ainda não pode vivenciar? - A tais perguntas quis o Sr. Bispo de Leiria-Fátima, na época D. Alberto Cosme do Amaral, responder numa homilia bem estruturada, proferida na basílica de Fátima aos 20/02/1981. O texto conserva sua atualidade, de modo que vai, a seguir, reproduzido.
SANTIDADE HERÓICA
"Diante de nós abre-se a perspectiva da Beatificação e Canonização dos Servos de Deus Jacinta Marto e Francisco Marto. A abertura dos processos informativos faz nascer a esperança de que virão a ser beatificados e canonizados.
Unidos na vida, na morte e na glória do Céu, não os separemos hoje na reflexão e na celebração desta tarde. De inicio, acolhamos em nosso coração e em nossas súplicas esta esperança que bem pode tornar-se realidade jubilosa.
Aquela palavra de Jesus - "Sede perfeitos como o Pai do Céu é perfeito" - dirige-se a todos nós e não apenas a um pequeno grupo de privilegiados. Se o Senhor não restringiu o seu apelo, não podemos limitar a capacidade de resposta a certa categoria de pessoas, a determinados grupos etários, aos que abraçaram tal ou tal estado de vida.
O Concílio Vaticano II, interpretação autêntica do Evangelho para os homens de hoje, proclama, sem rodeios e com firmeza, a chamada universal à santidade: "É perfeitamente claro que todos os fiéis, de qualquer estado ou condição, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade" (L.G. nº 40)
Pela história, sabemos que a canonização de crianças mártires não é problema. Mas, uma vez que o Concílio não excetua ninguém, não nos é lícito duvidar de que também as crianças não mártires podem ser canonizadas. Há portanto uma conclusão que se impõe: "Todo homem que atingiu o uso da razão pode chegar aos mais altos cumes da santidade canonizável, no exercício quotidiano do próprio dever".
O Papa Bento XIV a maior autoridade nestes assuntos, diz que, mesmo no caso de crianças mártires, é necessária a aceitação voluntária da morte. À luz desta palavra, nós podemos concluir que os Servos de Deus[1] devem ser considerados mártires, porque sofreram voluntariamente a morte, antecipadamente, no seu coração, porque estavam plenamente convencidos de que iam matá-los e firmemente decididos a morrer[2]. Eles quiseram a morte por um motivo sobrenatural - fidelidade à mensagem recebida, mensagem que está perfeitamente identificada com o depósito da fé e com o Magistério da Igreja. Morreram em seus corações, numa atitude de fé explícita acerca duma verdade revelada: a existência do Céu: "Se nos matarem, não faz mal: vamos mais depressa para o Céu".
Como a sagrada teologia tem afirmado, sempre o batismo de desejo foi considerado suficiente para a justificação, em ordem à salvação eterna. Por que não admitir que também o martírio de desejo basta para a canonização? A resposta afirmativa parece impor-se.
Mas, situando-nos no plano da canonização de crianças, por motivo de heroicidade cristã, temos que concluir que também sob este aspecto os Servos de Deus são canonizáveis, pois as suas vidas foram verdadeiramente heróicas. Com efeito, o professor Pende, Doutor em Medicina, afirma a possibilidade de encontrar fortes experiências espirituais e heroicidade de virtudes, ainda antes da pré-adolescência: "Para nós não é difícil admitir; com fundamentos nos dados da ciência, que numa criança dos quatro aos sete anos, sobretudo se a criança é invadida pela graça, sejam possíveis manifestações de heroicidade, de modo que já em tal idade, como na puberdade, são possíveis volições prudentes e livres, isto é, uma vida espiritual consciente e meritória" (Cit. por Casieri, no livro La Perfezione Cristiana in Benedetto XIV, pag. 118). Ora, se é possível a heroicidade de virtudes em crianças de quatro a sete anos, com maioria de razão podemos encontrá-la na pré-adolescência, dos oito aos treze anos, como realmente verificamos nos Servos de Deus Francisco e Jacinta.
Por seu lado, S. Tomás diz que "todos os meninos que morreram depois do batismo e antes do uso da razão podem ser canonizados". Se esses que são inconscientes e por isso incapazes de virtude são sujeitos de canonização, que dizer daqueles que depois do uso da razão viveram em graça e praticaram virtudes heróicas?!
Há quem diga que a heroicidade de virtudes só é possível quando algum milagre transforma a criança em adulto. Ora é precisamente o caso dos pastorinhos Francisco e Jacinta. A sua vida, depois das aparições, transformou-se de tal modo que somos levados a concluir que estamos verdadeiramente em face de um milagre de ordem moral. Podemos até dizer que a maior e mais chocante prova da veracidade dos acontecimentos da Cova da Iria está precisamente nessa mudança profunda e radical da vida dos Servos de Deus. Basta conhecer a sua fidelidade à oração no mais alto grau, que é a contemplação unitiva, o seu amor a mortificação penitente, reparadora e suplicante, para concluirmos que o dedo de Deus está aqui. A perseverança na oração e penitência que poderíamos considerar talvez normal num adulto em crescimento na fé e no amor; numa criança reveste verdadeiro caráter de heroicidade.
No seu livro - Existência das virtudes heróicas nas crianças - o Padre Garrigou-Lagrange, teólogo de indiscutível autoridade, diz que a heroicidade, mesmo antes da pré-adolescência, é possível; e exemplifica a sua tese precisamente com a vida de Francisco e Jacinta, videntes de Fátima. Nestas crianças, encontramos uma real heroicidade de virtudes (cf. Casieri, 120-121).
Segundo a antiga norma filosófica, que continua atual, "de esse ad posse valet illatio"[3], é possível a virtude heróica nas crianças, porque ai temos diante de nós a realidade que nos impressiona e choca porventura.
Se atendermos ao parecer de pessoas tão competentes, de reconhecida autoridade, aparece clara a possibilidade de viver heroicamente as virtudes na pré-adolescência e, em casos particulares, mesmo antes. Sob o ponto de vista psicológico, temos de reconhecer nos Servos de Deus um esforço árduo e perseverante, em ordem ao seu progresso moral e espiritual, lutando, lutando sempre.
A virtude heróica, canonizável, deve agir por um motivo sobrenatural, sem cálculos e motivos humanos. Sabemos que os Servos de Deus eram sempre impulsionados por algo de sobrenatural: "Porque Nossa Senhora pediu; para a conversão dos pecadores; para que as almas não vão para o inferno; para reparar as ofensas contra o Imaculado Coração de Maria".
A virtude heróica reclama um modo de atuar superior ao que é ordinário em pessoas da mesma idade. Quando e onde encontramos nós crianças que tenham correspondido ao chamamento divino, com heróica perseverança, como Francisco e Jacinta? Mais ainda: Quando e onde encontramos nós adultos que tenham levado a sua vivência cristã a tão alto nível? Não há dúvida: o caminho trilhado pelos Servos de Deus é inequivocamente um caminho extraordinário.
S. Tomás afirma categórico: "Na juventude, e na infância, pode encontrar-se a perfeita idade espiritual". Para Garrigou-Lagrange:
"Nem a velhice nem a idade madura são necessárias à santidade".
Por outro lado, sabemos que o Senhor revela mais vivamente o Seu mistério de amor aos débeis e pequeninos; que em todos os tempos se serviu dos pequenos e fracos para a realização dos Seus desígnios de salvação. Podemos concluir dizendo: Qualquer idade, estado ou condição de vida é suscetível de acolher a graça divina e corresponder em grau heróico; qualquer idade, sob a ação da graça, é capaz de cristianismo heróico; qualquer idade pode realizar virtudes heróicas e ser inscrita no catálogo dos santos. E, se freqüentemente é difícil provar o heroísmo, no caso dos Servos de Deus, esse heroísmo impõe-se ao nosso espírito e ao nosso coração com a claridade de um sol a pino.
Poderíamos ainda acrescentar que a Igreja antecipa a idade dos Santos, antecipando a idade para a recepção dos sacramentos. Pio X, o Papa da Eucaristia, que permitiu a comunhão a partir do uso da razão, anunciou profeticamente: "Deus terá os Seus santos também entre as crianças".
A santidade do Francisco e da Jacinta não é fruto de propaganda; é uma santidade silenciosa, normal. Como disse alguém, a santidade dos pequenos só tem um cronista: Deus.
Na seqüência da nossa celebração, agradecemos ao Senhor estes dois tesouros; pedimos-lhe por intermédio de Maria que a Suprema Autoridade da Igreja proclame, perante o mundo, a santidade heróica destas crianças, para a glória da SSma. Trindade, que eles tanto adoraram e amaram, para a conversão e santificação de todos os homens".
O acume dos peritos da Congregação para as Causas dos Santos (Roma) entre 1981 e 1999 só fez confirmar a sentença dos mestres citados pelo Sr. Bispo de Leiria-Fátima. É notório que todo processo de Beatificação e Canonização vem a ser um crivo fino que procura apurar com lealdade a verdade dos fatos, sem preconceitos em favor de alguma causa. Daí a Beatificação dos dois videntes, apoiada, aliás, sobre dois autênticos milagres obtidos pela intercessão dos dois adolescentes. A Beatificação dos mesmos confirma a genuinidade das aparições e da mensagem de Fátima, assim como é um estímulo para que tomem consciência todos de que a santidade heróica é possível em qualquer faixa etária, pois Deus chama todos os seus filhos à perfeição e jamais à mediocridade.
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NOTAS:
[1] Servos de Deus: Francisco e Jacinta (N.d.R.).
[2] Os videntes foram ameaçados de morte por quem não lhes dava crédito (N.d.R.).
[3] O possível nem sempre é real, mas o real é sempre possível (N.d.R.).
Em síntese: A Beatificação de Francisco e Jacinta Marto, adolescentes e videntes de Fátima, causa surpresa: podem tais crianças ter tido a fé e o amor característicos da santidade proclamada pela Igreja quando beatifica ou canoniza alguém? - A resposta a tal indagação é dada pelo Sr. Bispo D. Alberto Cosme do Amaral numa valiosa homilia proferida na basílica de Fátima aos 20 de fevereiro de 1981, quando se começava a mover o Processo respectivo de Beatificação; o prelado cita testemunhos de peritos que atribuem aos adolescentes a compreensão suficiente para viverem uma santidade heróica.
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A Beatificação de Francisco e Jacinta Marto (13/05/2000), pequenos pastores e videntes de Fátima, suscita questionamentos. Na verdade, os dois morreram em idade adolescente: Francisco nasceu a 11/06/1908 e faleceu aos 4/04/1919, com menos de onze anos de idade, e Jacinta viveu de 11/03/1910 a 20/02/1920 (quase dez anos!). - Donde a pergunta: podem crianças de tão pouca idade ter compreendido a grandeza da fidelidade a Cristo a ponto de poderem ser proclamadas santas? A santidade dos Santos canonizados pela Igreja não requer maturidade tal que um adolescente ainda não pode vivenciar? - A tais perguntas quis o Sr. Bispo de Leiria-Fátima, na época D. Alberto Cosme do Amaral, responder numa homilia bem estruturada, proferida na basílica de Fátima aos 20/02/1981. O texto conserva sua atualidade, de modo que vai, a seguir, reproduzido.
SANTIDADE HERÓICA
"Diante de nós abre-se a perspectiva da Beatificação e Canonização dos Servos de Deus Jacinta Marto e Francisco Marto. A abertura dos processos informativos faz nascer a esperança de que virão a ser beatificados e canonizados.
Unidos na vida, na morte e na glória do Céu, não os separemos hoje na reflexão e na celebração desta tarde. De inicio, acolhamos em nosso coração e em nossas súplicas esta esperança que bem pode tornar-se realidade jubilosa.
Aquela palavra de Jesus - "Sede perfeitos como o Pai do Céu é perfeito" - dirige-se a todos nós e não apenas a um pequeno grupo de privilegiados. Se o Senhor não restringiu o seu apelo, não podemos limitar a capacidade de resposta a certa categoria de pessoas, a determinados grupos etários, aos que abraçaram tal ou tal estado de vida.
O Concílio Vaticano II, interpretação autêntica do Evangelho para os homens de hoje, proclama, sem rodeios e com firmeza, a chamada universal à santidade: "É perfeitamente claro que todos os fiéis, de qualquer estado ou condição, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade" (L.G. nº 40)
Pela história, sabemos que a canonização de crianças mártires não é problema. Mas, uma vez que o Concílio não excetua ninguém, não nos é lícito duvidar de que também as crianças não mártires podem ser canonizadas. Há portanto uma conclusão que se impõe: "Todo homem que atingiu o uso da razão pode chegar aos mais altos cumes da santidade canonizável, no exercício quotidiano do próprio dever".
O Papa Bento XIV a maior autoridade nestes assuntos, diz que, mesmo no caso de crianças mártires, é necessária a aceitação voluntária da morte. À luz desta palavra, nós podemos concluir que os Servos de Deus[1] devem ser considerados mártires, porque sofreram voluntariamente a morte, antecipadamente, no seu coração, porque estavam plenamente convencidos de que iam matá-los e firmemente decididos a morrer[2]. Eles quiseram a morte por um motivo sobrenatural - fidelidade à mensagem recebida, mensagem que está perfeitamente identificada com o depósito da fé e com o Magistério da Igreja. Morreram em seus corações, numa atitude de fé explícita acerca duma verdade revelada: a existência do Céu: "Se nos matarem, não faz mal: vamos mais depressa para o Céu".
Como a sagrada teologia tem afirmado, sempre o batismo de desejo foi considerado suficiente para a justificação, em ordem à salvação eterna. Por que não admitir que também o martírio de desejo basta para a canonização? A resposta afirmativa parece impor-se.
Mas, situando-nos no plano da canonização de crianças, por motivo de heroicidade cristã, temos que concluir que também sob este aspecto os Servos de Deus são canonizáveis, pois as suas vidas foram verdadeiramente heróicas. Com efeito, o professor Pende, Doutor em Medicina, afirma a possibilidade de encontrar fortes experiências espirituais e heroicidade de virtudes, ainda antes da pré-adolescência: "Para nós não é difícil admitir; com fundamentos nos dados da ciência, que numa criança dos quatro aos sete anos, sobretudo se a criança é invadida pela graça, sejam possíveis manifestações de heroicidade, de modo que já em tal idade, como na puberdade, são possíveis volições prudentes e livres, isto é, uma vida espiritual consciente e meritória" (Cit. por Casieri, no livro La Perfezione Cristiana in Benedetto XIV, pag. 118). Ora, se é possível a heroicidade de virtudes em crianças de quatro a sete anos, com maioria de razão podemos encontrá-la na pré-adolescência, dos oito aos treze anos, como realmente verificamos nos Servos de Deus Francisco e Jacinta.
Por seu lado, S. Tomás diz que "todos os meninos que morreram depois do batismo e antes do uso da razão podem ser canonizados". Se esses que são inconscientes e por isso incapazes de virtude são sujeitos de canonização, que dizer daqueles que depois do uso da razão viveram em graça e praticaram virtudes heróicas?!
Há quem diga que a heroicidade de virtudes só é possível quando algum milagre transforma a criança em adulto. Ora é precisamente o caso dos pastorinhos Francisco e Jacinta. A sua vida, depois das aparições, transformou-se de tal modo que somos levados a concluir que estamos verdadeiramente em face de um milagre de ordem moral. Podemos até dizer que a maior e mais chocante prova da veracidade dos acontecimentos da Cova da Iria está precisamente nessa mudança profunda e radical da vida dos Servos de Deus. Basta conhecer a sua fidelidade à oração no mais alto grau, que é a contemplação unitiva, o seu amor a mortificação penitente, reparadora e suplicante, para concluirmos que o dedo de Deus está aqui. A perseverança na oração e penitência que poderíamos considerar talvez normal num adulto em crescimento na fé e no amor; numa criança reveste verdadeiro caráter de heroicidade.
No seu livro - Existência das virtudes heróicas nas crianças - o Padre Garrigou-Lagrange, teólogo de indiscutível autoridade, diz que a heroicidade, mesmo antes da pré-adolescência, é possível; e exemplifica a sua tese precisamente com a vida de Francisco e Jacinta, videntes de Fátima. Nestas crianças, encontramos uma real heroicidade de virtudes (cf. Casieri, 120-121).
Segundo a antiga norma filosófica, que continua atual, "de esse ad posse valet illatio"[3], é possível a virtude heróica nas crianças, porque ai temos diante de nós a realidade que nos impressiona e choca porventura.
Se atendermos ao parecer de pessoas tão competentes, de reconhecida autoridade, aparece clara a possibilidade de viver heroicamente as virtudes na pré-adolescência e, em casos particulares, mesmo antes. Sob o ponto de vista psicológico, temos de reconhecer nos Servos de Deus um esforço árduo e perseverante, em ordem ao seu progresso moral e espiritual, lutando, lutando sempre.
A virtude heróica, canonizável, deve agir por um motivo sobrenatural, sem cálculos e motivos humanos. Sabemos que os Servos de Deus eram sempre impulsionados por algo de sobrenatural: "Porque Nossa Senhora pediu; para a conversão dos pecadores; para que as almas não vão para o inferno; para reparar as ofensas contra o Imaculado Coração de Maria".
A virtude heróica reclama um modo de atuar superior ao que é ordinário em pessoas da mesma idade. Quando e onde encontramos nós crianças que tenham correspondido ao chamamento divino, com heróica perseverança, como Francisco e Jacinta? Mais ainda: Quando e onde encontramos nós adultos que tenham levado a sua vivência cristã a tão alto nível? Não há dúvida: o caminho trilhado pelos Servos de Deus é inequivocamente um caminho extraordinário.
S. Tomás afirma categórico: "Na juventude, e na infância, pode encontrar-se a perfeita idade espiritual". Para Garrigou-Lagrange:
"Nem a velhice nem a idade madura são necessárias à santidade".
Por outro lado, sabemos que o Senhor revela mais vivamente o Seu mistério de amor aos débeis e pequeninos; que em todos os tempos se serviu dos pequenos e fracos para a realização dos Seus desígnios de salvação. Podemos concluir dizendo: Qualquer idade, estado ou condição de vida é suscetível de acolher a graça divina e corresponder em grau heróico; qualquer idade, sob a ação da graça, é capaz de cristianismo heróico; qualquer idade pode realizar virtudes heróicas e ser inscrita no catálogo dos santos. E, se freqüentemente é difícil provar o heroísmo, no caso dos Servos de Deus, esse heroísmo impõe-se ao nosso espírito e ao nosso coração com a claridade de um sol a pino.
Poderíamos ainda acrescentar que a Igreja antecipa a idade dos Santos, antecipando a idade para a recepção dos sacramentos. Pio X, o Papa da Eucaristia, que permitiu a comunhão a partir do uso da razão, anunciou profeticamente: "Deus terá os Seus santos também entre as crianças".
A santidade do Francisco e da Jacinta não é fruto de propaganda; é uma santidade silenciosa, normal. Como disse alguém, a santidade dos pequenos só tem um cronista: Deus.
Na seqüência da nossa celebração, agradecemos ao Senhor estes dois tesouros; pedimos-lhe por intermédio de Maria que a Suprema Autoridade da Igreja proclame, perante o mundo, a santidade heróica destas crianças, para a glória da SSma. Trindade, que eles tanto adoraram e amaram, para a conversão e santificação de todos os homens".
O acume dos peritos da Congregação para as Causas dos Santos (Roma) entre 1981 e 1999 só fez confirmar a sentença dos mestres citados pelo Sr. Bispo de Leiria-Fátima. É notório que todo processo de Beatificação e Canonização vem a ser um crivo fino que procura apurar com lealdade a verdade dos fatos, sem preconceitos em favor de alguma causa. Daí a Beatificação dos dois videntes, apoiada, aliás, sobre dois autênticos milagres obtidos pela intercessão dos dois adolescentes. A Beatificação dos mesmos confirma a genuinidade das aparições e da mensagem de Fátima, assim como é um estímulo para que tomem consciência todos de que a santidade heróica é possível em qualquer faixa etária, pois Deus chama todos os seus filhos à perfeição e jamais à mediocridade.
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NOTAS:
[1] Servos de Deus: Francisco e Jacinta (N.d.R.).
[2] Os videntes foram ameaçados de morte por quem não lhes dava crédito (N.d.R.).
[3] O possível nem sempre é real, mas o real é sempre possível (N.d.R.).
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