Em síntese: O Dr. Alexandre Dorozynski publicou um artigo na revista "Science et Vie" de junho 1973, em que expõe o declínio do uso da pílula anticoncepcional e os resultados obtidos pelos estudiosos na procura de novos métodos anticoncepcionais. Especialmente digna de nota é a notícia de que nos EE. UU. dois médicos já descobriram um produto apto a regular o ciclo da mulher: em conseqüência, esta poderá abster-se de anticoncepcionais (que são sempre nocivos em certo grau) e observar o seu ciclo menstrual com a certeza de não ser surpreendida por indesejada gravidez. Parece que pouco falta para que tal descoberta possa ser entregue ao uso público.
O Dr. Dorozynski acentua enfaticamente os efeitos negativos dos anticoncepcionais. Estes parecem, em última instancia, violentar a consciência humana, que, espontaneamente, tende a respeitar a vida.
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Comentário: Está constantemente em foco na imprensa a famosa pílula anovulatória, produzida, pela primeira vez, pelo Dr. Gregory Pincus em 1952. Sabe-se que, logo que foi oferecida ao grande público, gozou de grande voga. Vasta bibliografia anunciava, nos anos de 60, que a pílula anticoncepcional parecia ser a solução para o problema da limitação da natalidade. Todavia médicos e moralistas mostraram-se divididos frente ao novo contraceptivo: enquanto muitos clínicos apontavam efeitos nocivos decorrentes do uso da pílula, numerosos pensadores, inclusive S. Santidade o Papa Paulo VI, rejeitavam a pílula como sendo algo que fere os princípios da sadia moralidade. Em sua encíclica «Humanae Vitae» (nº 24), sobre o controle da natalidade, o S. Padre em 1968 exortava os homens de ciência a que procurassem descobrir uma pílula que tornasse regular o ciclo da mulher, permitindo assim ao casal recorrer à continência periódica sem o perigo de gravidez para a esposa.
Pois bem. Após mais de vinte anos de uso da pílula anovulatória, pergunta-se: que decorre da experiência assim feita? Que pensam hoje os estudiosos a respeito do controvertido assunto?
Estas questões foram recentemente abordadas pelo Dr. Alexandre Dorozynski em artigo intitulado «La pilule? Il y a mieux... » (A pílula? Há coisa melhor... ), da revista «Science et Vie» t. CXXIII, nº 669, junho 1973, pp. 55-57.[1] O autor afirma que tem caído notoriamente na França e em outros países o número de pessoas que usam a pílula. A seguir, enumera as novas pesquisas que vêm sendo realizadas pelos cientistas para descobrir algo de melhor do que a pílula, merecendo então especial realce a noticia de uma pílula reguladora do ciclo da mulher.
Dado o grande interesse de que se reveste tal artigo, vamos abaixo resumi-lo, visando assim a servir ao público brasileiro .
1. Declínio da pílula
Em 1968 o uso da pílula foi oficialmente autorizado ao público na França. Desde então até 1971, o seu consumo cresceu gradativamente naquele país, chegando a atingir 5% das mulheres da França, que podem escolher entre vinte fórmulas de pílula anticoncepcional lançadas no mercado francês.
Em 1972, porém, a pílula caiu a uma cota de consumo inferior à de 1968. Semelhante declínio se tem verificado em outros países: na Suécia, por exemplo, primeiro país europeu que tenha recorrido em larga escala à pílula, esta vai sendo menos e menos utilizada.
E por quê?
- A eficácia da pílula como contraceptivo não deixa dúvidas; é de 99,6 em 100 casos, embora essa eficácia ainda não seja de todo explicada. Acontece, porém, que um conjunto de motivações médicas e morais concorrem para alijar a pílula.
Com efeito, os médicos verificam que esta acarreta efeitos ulteriores desagradáveis ou mesmo perigosos, como hipertensão, enfartes, náuseas, retenção de água, aumento de peso, esterilidade definitiva... Doutro lado, patenteia-se que a consciência manifesta aversão espontânea a qualquer intervenção física ou química nos processos que dão origem a um ser humano. Essa aversão não parece depender do grau de cultura da mulher, pois ocorre em pacientes alfabetizadas como em não alfabetizadas, em mulheres «emancipadas» como em «não emancipadas»,- ela se registra tanto em paises altamente desenvolvidos (Suécia, França....) como em países pobres e menos desenvolvidos (Egito, Índia...); dir-se-ia que é espontâneo e geral o repúdio de intervenções artificiais no processo genital do ser humano.
Em substituição à pílula propriamente dita, foi produzida a dita «mini-pílula», cujos efeitos esterilizantes e nocivos à saúde seriam reduzidos... Todavia essa nova fórmula só concorreu para lançar ainda maior descrédito sobre a pílula.
Em conseqüência, as pesquisas dos cientistas em torno da contracepção prosseguiram por caminhos diversos, chegando a resultados surpreendentes, dos quais o mais alvissareiro é o seguinte:
Independentemente um do outro, puseram-se a trabalhar na mesma linha o Dr. Roger Guillemain, francês, membro do Instituto Salk dos EE. UU. (Califórnia), e o Dr. Andrew Schally, de Nova Orleães (U.S.A.). Ambos pensaram em regrar o ciclo da mulher de tal forma que lhe baste praticar a abstenção durante certos dias do mês para poder ter sua vida sexual sem o risco de gravidez. Essa regulação parece que realmente se pode obter mediante injeção de dose ínfima do hormônio da fecundidade, ou seja, do extrato hipofisiário designado por LH/RH. Esse extrato provoca a secreção do hormônio estimulante do folículo, que estimula os folículos ovarianos; acarreta outrossim a secreção do hormônio luteinizante, LH, que provoca a ovulação. - O Dr. Guillemain, em colaboração com o Dr. Sam Yen, da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, recebeu autorização para proceder a ensaios do novo produto em quinhentas mulheres. Os resultados até agora são de todo positivos: verifica-se que a nova fórmula é inócua e eficaz durante vários ciclos ovulatórios consecutivos. Procuram agora os médicos substituir a referida injeção por uma pílula reguladora que não venha a ser destruída pelos sucos gástricos.
As pesquisas assim delineadas correspondem ao que o S. Padre Paulo VI almejava em sua encíclica «Humanae Vitae»:
"Queremos agora exprimir o Nosso encorajarnento aos homens de ciência, os quais podem dar um contributo grande para o bem do matrimônio e da família e para a paz das consciências, se se esforçarem por esclarecer mais profundamente, com estudos convergentes, as diversas condições favoráveis a uma honesta regulação da procriação humana. É para desejar muito particularmente que, segundo os votos já expressos pelo Nosso Predecessor Pio XII, a ciência médica consiga fornecer uma base suficientemente segura para a regulação dos nascimentos, fundada na observância dos ritmos naturais. Deste modo, os homens de ciência, e de modo especial os cientistas católicos, contribuirão para demonstrar que, como a Igreja ensina, não pode haver contradição verdadeira entre as leis divinas que regem a transmissão da vida e as que favorecem o amor conjugal autêntico" (n° 24).
A pílula reguladora será o método ideal para limitar a natalidade, pois em nada violará as leis da natureza, mas, ao contrário, secundará e beneficiará o ritmo nativo do organismo feminino sem o intoxicar.
Ao lado, porém, deste tipo de estudos, devem-se aqui mencionar vários outros, atualmente em curso no mundo dos cientistas.
3. Outros esterilizastes femininos
Enumeraremos sete pistas pelas quais enveredam os estudiosos e pesquisadores de laboratório.
1) Os Drs. Guillemain e Schally também têm procurado realizar a síntese de hormônios análogos ao LH/RH; de acordo com o momento em que fossem ministrados, tais preparados poderiam impedir a ovulação ou eliminar o óvulo fecundado. - Este novo método é diretamente esterilizante ou mesmo abortivo - o que o assemelha, do ponto de vista moral, à pílula anticoncepcional.
2) A firma norte-americana Upjohn vem estudando um progestativo sintético, do qual uma injeção trimestral e intramuscular bastaria para garantir o efeito contraceptivo. O novo produto, chamado «Dopo-provera», está sendo experimentado em certos países da Europa, ao passo que as autoridades dos EE. UU. proibiram a aplicação do mesmo a mulheres norte-americanas, visto que já provocou câncer
3) O Prof. Allen Menge, da Universidade de Michigan, identificou doze antigenes distintos no esperma do coelho; injetados na fêmea, esses antigenes provocam no útero da mesma a formação de anticorpos que tornam o espermatozóide impotente. Menge está procurando apresentar ao público esses antigenes sob forma de vacina.
4) Erwin Goldberg e William Zinkham, da Universidade John-Hopkins, de Filadélfia, identificaram no esperma e nas glândulas sexuais masculinas uma enzima que vem a ser um contraceptivo e imunizador natural; chama-se lactato-desidrogenase (LDH-X) e destrói os espermatozóides. Sob forma de vacina, é 100% eficaz quando aplicado à fêmea do macaco. Falta agora aplicá-lo à mulher.
5) Alex Shivers, da Universidade de Tennesse, descobriu um antigene para o ovário feminino: esse produto impede o espermatozóide de atravessar a membrana exterior do óvulo, ou seja, a zona pellucida. Shivers está atualmente procurando o meio adequado para introduzir essa substância concentrada no corpo humano; deverá injetá-la diretamente no aparelho genital ou introduzi-la no sistema de circulação do sangue?
6) David Bishop, da Escola de Medicina de Ohio, propõe utilizar uma outra enzima - o sorbitol desidrogenase – para interromper a formação de espermatozóides no homem. Essa enzima seria colocada nos órgãos de produção dos espermatozóides e funcionaria como um saboteador numa fábrica.
7) Os Drs. Oikawa e Yanagimachi, da Escola de Medicina de Hawai, Honolulu, em colaboração com o Prof. Nicolson, do Instituto Salk, verificaram que certos anticorpos extraídos principalmente das sementes de aveia se combinam com proteínas da zona pellucida para torná-la impermeável ao espermatozóide, como faz o antigene ovariano de Shivers. Esses anticorpos são fito-aglutininas, que reproduzem o efeito do espermatozóide; na verdade, sabe-se que, logo que este tenha penetrado no óvulo, a zona pellucida do óvulo se torna impermeável.
Seja-nos aqui permitida uma observação:
Deve-se reconhecer o notável esmero das pesquisas científicas que acabam de ser assinaladas. Todavia é preciso lembrar que ciência sem consciência (ética ou moral) não realiza a perfeição do homem. Todos os novos produtos aqui recenseados vêm a ser recursos para que, em última análise, se contrarie à natureza do amor humano: este é por si unitivo e fecundo. Querer tirar-lhe a fecundidade pode implicar em degradação do amor; este poderá vir a ser mero instinto cego e egoísta, que manipula o sexo e, de modo especial, reduz a mulher a instrumento do prazer do homem ou a objeto que se vende ou aluga a preço conveniente.
Além dos novos produtos que agem sobre o organismo feminino (exceto o de nº 6), a fim de impedir a fecundação, outros vão sendo estudados cuja atuação se dá no organismo masculino.
4. Processos de atuação sobre o homem
Distinguem-se aqui a chamada «pílula alemã» e a vasectomia.
4.1. A «pílula alemã»
Trata-se de um produto que torna o homem impotente, agindo simultaneamente sobre o seu psiquismo (apaga os instintos reprodutores) e sobre a sua fisiologia (reduz
Tal pílula, fabricada na base de acetato de ciproterona, foi descoberta pelo Dr. Fredmund Newmann, da firma alemã Schering, e já foi experimentada pelo Dr. Petry, de Hamburgo, em cinco pacientes voluntários. Logrou, sem demora, grande aceitação até mesmo por parte das autoridades governamentais.
Assim, por exemplo, acontecia nos cárceres da Alemanha Federal que certos delinqüentes sexuais podiam recuperar a liberdade caso aceitassem a castração física. Ora essa medida acaba de ser «humanizada»: o poder legislativo alemão admite a «castração química» na base de acetato de ciproterona. Na Suíça, os delinqüentes sexuais que aceitaram tal tipo de tratamento (castração pela pílula), têm sido punidos menos severamente do que de costume. Na Inglaterra, o assunto foi debatido no Parlamento; todavia um delinqüente sexual recidivo, preso, já obteve a libertação mediante tratamento com a «pílula alemã». Esta é mais eficaz do que o eletrochoque...
Ainda se deve mencionar a
4.2. Vasectomia
Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Suíça, como na Índia e na China, tem sido praticada a vasectomia. É operação simples, realizável em meia-hora, com anestesia local apenas; consiste em se praticarem duas incisões nos canais condutores dos espermatozóides que saem dos testículos. Mais de um milhão de homens já se submeteu a essa cirurgia nos EE. UU.
A vasectomia tem sido substituída por uma intervenção ainda mais requintada, que se deve ao engenheiro Dr. Louis Bucale, da «Byonix Corporation», de Nova Iorque: os referidos canais condutores não são inutilizados definitivamente por incisões, mas são dotados de minúsculas válvulas de ouro, ... válvulas que podem ser abertas ou fechadas por um cirurgião, segundo o alvitre do paciente. Já cem pessoas se sujeitaram a tal intervenção no «Medical Center» de Nova Iorque. Em última instância, são propostas mesmo válvulas de silicônio, aço inoxidável e material poroso inalterável; estes elementos dispensam ulteriores intervenções do cirurgião, pois o próprio paciente, aplicando um ímã, pode abrir ou fechar as válvulas.
A título de complementação, diga-se que também a ligadura de trompas na mulher vai sendo substituída pelo recurso a «clips», pinças, rolhas, que servem para obstruir a passagem através das trompas. Ao referir tais dados, observa o Prof . Dorozynski:
"As técnicas cirúrgicas (de esterilização) parecem - apenas parecem - menos perigosas (do que os métodos químicos), mas elas afetam a personalidade, pois são assemelhadas a uma castração e repercutem de maneira negativa sobre o conjunto da personalidade" (art. cit., p. 57).
Passemos agora a uma
5. Reflexão final
As notícias até aqui apresentadas são concebidas estritamente como subsídios para a informação científica. O leitor benévolo relevará o que elas têm de minucioso; tais dados pertencem ao teor da exposição científica.
O Prof. Alexandre Dorozynski, que comenta tais notícias no mencionado artigo de «Science et Vie», acentua com ênfase o que os processos artificiais de limitação da natalidade têm de violento e anti-humano . Facilmente provocam traumas e complexos nos respectivos pacientes, pois todo ser humano - seja masculino, seja feminino, seja de alta, seja de modesta cultura - experimenta em si o respeito espontâneo à vida. Contrariar esse respeito é tocar uma das fibras mais íntimas e delicadas da pessoa humana; as conseqüências negativas dessa violentação cedo ou tarde tendem a se revelar ou no físico ou no psíquico da pessoa violentada.
São palavras do Prof. Dorozynski:
"O fracasso da pílula é assaz eloqüente: o ato procriador, em última análise, não se pode reduzir a uma sucessão de funções biológicas, qualquer que seja o nível cultural da mulher" (art. cit., p. 57).
"Médicos e sociólogos tomaram recentemente consciência de um fato desconcertante: a realidade da contracepção é totalmente diferente da idéia que eles haviam concebido a respeito" (art. cit., p. 55).
Donde a conclusão do autor, muito séria, embora formulada em tom jocoso:
"Afinal, diante de tantos esforços altamente competentes, realizados milhões de vezes sobre legiões de camundongos, ratos, cobaias, coelhos e macacas..., diante dessa conspiração internacional que visa a impedir Espérmato de se encontrar com Ovula, quem não sente a emoção do espectador que assiste à paixão contrariada de Romeu e Julieta?
Se o método néo-Ogino é tão eficaz quanto promete, e visto que é o método que mais respeita os processos naturais, quase se chega a desejar que uma convenção internacional ponha termo à conspiração dos novos Capulets e Montaigus,[2] que procuram proibir o encontro do espermatozóide e do óvulo" (art. cit. p. 57).
Estas palavras, provenientes de um homem de ciência, que não pretende ser um moralista, mas um observador objetivo da realidade, têm significado especialmente ponderoso. Elas vêm oportunamente ao encontro dos votos que a consciência cristã formula diante do árduo problema dos anticoncepcionais.
ESTÊVAO BETTENCOURT O.S.B.
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NOTAS:
[1] O artigo é assinado à p. 57 pelo Dr. Alexandre Dorozynski. No índice da revista, porém, vem atribuído ao Dr. Jean Ferrara. - No decorrer destas páginas, não podendo dirimir a dúvida assim originada, suporemos a autoria do Dr. Dorozynski.
[2] Capulets (Cappelletti) e Montaigus (Montecchi) eram duas famílias de Verona (Itália) no séc. XVI, que rivalizavam entre si. Julieta terá pertencido aos Cappelletti e Romeu aos Montecchi. Shakespeare inspirou-se desses personagens para escrever a sua famosa peça “Romeu e Julieta”
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