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quinta-feira, 7 de junho de 2007

Ciência e Fé: os cientistas são incrédulos?

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 073/1964)


1) «A Religião depaupera a inteligência e impede o progresso das ciências. Os grandes cientistas dos últimos tempos constumam ser agnósticos ou incrédulos!»


Em «P. R.» 8/1958, qu. 2 e 52/1962, qu. 1, já tratamos das relações entre a fé e a razão (ou a ciência), mostrando não haver conflito entre uma e outra; muito ao contrário, evidenciou-se que a própria razão, aplicando-se ao estudo com lealdade, faz finalmente que o homem se veja diante de uma realidade miste­riosa, transcendente, realidade que é precisamente o objeto pro­fessado pela fé.

Em conseqüência, parece muito lógico dizer-se que a fé e a Religião são imperativos aos quais leva a própria inteligência humana convenientemente aplicada ao estudo. Acontece, porém, que a adesão às proposições da fé não depende apenas da inte­ligência, mas também de um conjunto de fatores, entre os quais figura o comportamento ético ou moral do indivíduo: há, sem dúvida, pessoas que dificilmente ou jamais chegarão a crer por­que seu gênero de vida não o permitiria; entregam-se obcecadamente a situações de vida para as quais a idéia de Deus seria um espantalho. Esta complexidade do assentimento de fé deve ser levada em conta sempre que se apontam nomes de cientistas ateus ou arreligiosos. De resto, só Deus vê o íntimo das consciên­cias; só Deus sabe quantos são verdadeiramente ateus ou quan­tos morrem sem reconhecer o Senhor.

Em todo caso, quando se diz que houve e há muitos cientis­tas incrédulos e que a ciência leva ao agnosticismo, fala-se sem conhecimento, pois, na verdade, a história ensina que a grande maioria dos homens de ciência - e mesmo os mais famosos entre eles - foram religiosos.

Tem-se demonstrado isto na base de estatísticas. Vamos aqui repro­duzir uma destas, a qual nos permitirá deduzir algumas significativas conclusões.


1. Um inquérito

Apresentaremos os resultados das pesquisas efetuadas por A. Eymieu e publicadas por este autor na sua obra «La part des croyants dans les progrès de la science au XIX siècle: I Dans les sciences exates; II Dans les sciences naturelles» (Librairie Académique Perrin 1920), assim como no artigo «Science et Religion» do «Dictionnaire Apologétique de la Foi Catholique» IV. Paris 1928, 1241-1253.

Este inquérito sugue logo de inicio três breves observações:

a) limita-se ao séc. XIX, pois este é tido como o século do ateísmo e da incredulidade por excelência. Nas épocas anteriores reconhe­cer-se-á com mais facilidade que houve - e em grande número - cien­tistas religiosos.

b) O inquérito enumerou cientistas que tiveram fé... Fé em que? - Ao menos na existência de Deus e da alma. Este é o fundamento mínimo sobre o qual se baseiam a religião natural e a sobrenatural. Está claro que não é sempre fácil averiguar qual a posição dos homens de ciência perante estas duas pilastras da Religião, pois os temas dos quais trataram e sobre os quais escreveram eram outros (ciências pro­fanas); sobre alguns nomes, portanto, podem pairar dúvidas.

c) O tipo de ciências examinadas no inquérito foi o das «ciências que permitem prever os fenômenos da natureza e dominá-los» (Claude­-Bernard): «ciências exatas» (matemática, astronomia, física e química) e ciências naturais (referentes ao mundo inanimado, sem vida, e ao mundo animado ou vivo). São ciências empíricas, as quais se devem as grandes descobertas de que se gloria o mundo moderno; tais disciplinas são as que gozam de mais prestígio no público e são as que os adversá­rios geralmente lançam contra a Religião. Inegavelmente possuem mais afinidade com a Religião algumas outras disciplinas como a história, a exegese bíblica, a filosofia, embora não deixem de ser também explo­radas contra a fé.

Tendo que limitar o campo das pesquisas, concentrar-nos-emos no primeiro tipo de saber acima apresentado.

A fim de não alongar por demais a exposição, tivemos que adotar estilo esquemático, limitando-nos a indicação dos principais nomes e de algum traço característico de um ou outro deles. Ulteriores indicações sobre a biografia e o pensamento dos cientistas citados poderão ser encontradas na obra de Eymieu ou em enciclopédias.

A. As ciências «exatas»

a) Matemática

São geralmente apontados como os grandes pioneiros da Matemática moderna

Karl Friedrich Gauss (1777-1855), Augustin-Louis Cauchy (1789­-1857) e Jules-Henri Poincaré (1854-1902).

Em segundo plano indicam-se Joseph-Louis Lagrange (1736-1813), Niels Henrik Abel (1802-1829), Evaristo Galois (1811-1832), Georg Fried­rich Bernhard Riemann (1826-1866), Karl Weistrass (1815-1897) e Char­les Hermite (1822-1901).

Nesta lista, Lagrange e Galois pertenceram provavelmente a categoria dos indiferentes; Poincaré, a dos agnósticos. Os de­mais demonstraram ser profundamente religiosos, sendo que Niels Abel conservou sempre a sua ardorosa fé de protestante.

b) Astronomia

Dois grandes vultos merecem citação antes dos demais no séc. XIX: Pierre Simon de Laplace (1749-1827) e Urbain Le Verrier (1811-1877). Este último foi um cristão notável; Laplace, apesar do que se tem dito, conservou a fé durante a vida e morreu como cristão (a teoria de Laplace, ou seja, da nebu­losa donde se formou o universo, não contradiz a Bíblia; cf. «P. R.» 26/1960, qu. 4; 29/1960, qu. 1 e 5).

Ainda muitos outros nomes se poderiam citar, os quais neste setor deram honra tanto a ciência como a fé: Arthur Cayley, Charles Babbage, Hermann Grassmann, Alfred Gautier, Gaspar Santini, Valentino Cerruti, Rodolfo Wolf, João Frank Encke, Johannes von Lamont, Wil­liam Huggins, Charles Brior, Mathias Olbers, etc.

c) Física

Dois nomes de homens religiosos encabeçam, por sua projeção científica, a lista dos físicos do século passado: Jean-Baptiste Joseph Fourier (1769-1830) e Victor Regnault (1810-1878).

Em meados do século XIX começou a ser cultivada a ter­modinâmica ou a ciência da energia calórica (da temperatura), tendo a frente Marc-François Seguin (1786-1875) e Nicolas Léonard Sadi Carnot (1796-1832). A respeito da mentalidade de Carnot, pairaram dúvidas até que um neto do mesmo, o tenente­-coronel Carnot, escreveu ao diretor de conceituada revista de França em 24 de fevereiro de 1923, desfazendo as hesitações e apresentando seu avô como «profundamente espiritualista», como «crente muito propenso a mística».

Não se poderiam esquecer outros nomes de grandes físicos que foram simultaneamente homens de fé, como Rodolfo Júlio Emanuel Clausius (1822-1888), Hermann Ludwig Ferdinand Helmholtz (1821­-1894), William Thomson (1824-1907) e, principalmente,

James Watt (1736-1819), que pôs a máquina a vapor a serviço da indústria; Claude François Dorothée de Jouffroy d'Abbans, a quem se deve o primeiro navio a vapor,

Joseph Michel Montgolfier (1740-1810), que deu início aos aeróstatos; Clement Ader, que em 1897 conseguiu pela primeira vez fazer decolar um avião; Wilbur Wright, que em 1903 voou propriamente de avião.


Foram todos estes, como dizíamos, homens de reconhecida fé.

d) Ótica

Orientaram os trabalhos da ótica na primeira metade do séc. XIX: Thomas Young (1773-1829), Joseph Fraunhofer (1787-1826), Léon Foucault (1819-1868), Armand Hippolyte Louis Fizeau (181.9-1896) e, maxime, Jean Augustin Fresnel (1788-1827).

Levaram vida de cristãos fervorosos, exceto Foucault, que somente no decurso de sua última doença, após maduras deliberações, voltou à prática da religião.

Mais ainda: merecem menção no mesmo setor João Pedro Minkelers, o inventor da iluminação a gás (1784); João Nicéforo Niepce, o inventor da fotografia; Gabriel Lippman, o pri­meiro autor de fotografias em cores (1891) ; David Brewster, Jacques Babinet, Joseph Plateau. Todos professaram a fé, che­gando alguns a notável piedade.

e) Eletricidade

Ciência do séc. XIX por excelência, começa com quatro grandes nomes: Alessandro Volta (1745-1827), Hans Christian Oerstedt (1777-1851), André-Marie Ampère (1775-1836) e Mi­chel Faraday (1791-1867).

Destes grandes cientistas, Oerstedt e Faraday foram protestantes fervorosos; Volta foi católico fiel. Quanto a Ampère, após crise reli­giosa, recuperou a fé, proclamou-a com eloqüência, e morreu à seme­lhança dos santos homens de Deus.

Na segunda metade do séc. XIX, distinguiram-se: James Clerk Maxwell (1831-1879), que formulou a teoria eletromagné­tica da luz, teoria aprofundada por Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894) e Henri Becquerel (1852-1908), que descobriu a ra­dioatividade da matéria.

Estes três cientistas professaram sua Religião, sendo que Maxwell e Becquerel o fizeram fervorosamente. Becquerel, aliás, dizia que, após abandonar a fé, fora a esta reconduzido pela ciência: «Foram os meus estudos mesmos que me levaram a Deus e à Religião».

f) Química

O desenvolvimento da ciência do átomo foi outro dos gran­des méritos do séc. XIX.

Neste campo destacam-se as figuras de John Dalton (1766­-1844), Joseph Louis Gay-Lussac (1778-1850), Amadeo di Qua­ma di Avogadro (1776-1856), Pierre-Louis Dulong (1785­338), Alexis Thérèse Petit (1791-1820), Jean Jacob Berzélius (1779-1848) e outros mais, que perfazem um total de vinte nomes famosos.

Ora dentre esses vinte grandes químicos, cinco há cuja posição perante a Religião nos fica desconhecida: Petit, Berthollet, Mitscherli Laurent e Kékulé. Os demais (pairando dúvidas apenas sobre Gaay Lussac) foram homens de fé, alguns mesmo fervorosos, como Berzélius, Priestley, Davy, Dumas, Wurtz, Chevreuil, Thénard, Liebig.

Passemos agora a

B. As ciências da natureza

Há certos grandes vultos que se projetam sobre toda a história das ciências naturais no séc. XIX:

Georges Léopold Chrétien Frédéris Dagobert Cuvier (1769-1832), Jean-Baptiste Pierre Antoine Monet de Lamarck (1744-1829), Étienne Geoffrey Saint-Hilaire (1772-1844), Charles Darwin (1809-1882), Claude Bernard (1813-1878), Louis Pasteur (1822-1895). - Todos deram testemunho de fé, com exceção de Darwin, que, embora não tenha professando o ateísmo, se mostrou flutuante e vago perante a idéia de Deus (ver pág. 15 deste fascículo).

Claude Bernard afirmou no leito de morte: «Quero morrer na crença de minha mãe».

Pasteur foi certa vez interpelado por um de seus alunos, que se admirava por ter o mestre conservado a fé após tanto estudo e reflexã­o. Respondeu então:

«É exatamente por ter estudado e refletido muito que conservei a minha fé de bretão. Se eu mais tivesse refletido e estudado, a minha fé seria de bretã», isto é, ainda mais fervorosa (sf. «Revue des ques­)ns scientifiques» XXXIX pág. 385).

Em particular, analisemos

a) As ciências da Terra (geologia, paleontologia... )

Contam com o concurso de Friedrich Heinrich Alexander von Humboldt (1769-1859), Leopold von Buch (1774-1853), William Buckland (1784-1856), Alexandre Brongniart (1770­-1847), Charles Lyell (1791-1875), Jean-Baptiste Armand Louis Léonce Alie de Beaumont (1798-1874), Marcel-Alexandre Bertrand (1831-1914), Edward Suess (1831-1914), Antônio Stoppani (1824-1891), Jean-Baptiste Julien .d'Omalius . d'Halloy (1783-1875), James Dwight Dana (1813-1895) ;

Michel Auguste Lévy (1844-1911), que é o fundador da pe­trografia francesa;

Alcide Dessalines d'Orbigny (1802-1857), Joaquim Barrande (1799-1883), Louis Agassiz (1807-1839), Edward Drin­ker Cope (1840-1897), Karl Alfred Zittel (1839-1909), que são os beneméritos da Paleontologia.

Em suma, num total de 24 vanguardeiros das ciências da Terra no século passado, há um ateu (Suess); um agnóstico, indiferente, mas tolerante e respeitoso (Lévy); um cuja mentalidade nos fica encoberta (von Buch); os demais vinte e um nomes exprimem personalidades que não hesitaram em professar a crença em Deus.

b) As ciências da vida

a') A Botânica, disciplina muito antiga, realizou grandes progressos no séc. XIX por obra dos sábios

Antoine Laurent de Jussieu (1748-1836) e Agostinho Pyranne de Candolle (1778-1841), em Morfologia;

Charles François Brisseau de Mirbel (1776-1854), Hugo von Mohl (1805-1872), Jakob Mathias Schleiden (1804-1881), Karl Wilhelm Nägeli (1844-1912), Eduard Strasburger (1844­-1912), Filipe Eduardo Leão van Tieghem (1839-1914), em Anatomia;

Joseph Gottlieb Külreuter (1733-1806), Christian Konrad Sprengel (1750-1816, Julius von Sachs (1832-1897), Gregor Mendel (1822-1884), Carlos Vítor Naudin (1817-1899), em Fi­siologia e Genética.

Sem nos alongar na menção de outros nomes relevantes, realçamos que, dos cientistas citados, Strasburger foi incrédulo; Nägeli e van Tieghem foram indiferentes a Religião; Mohl e Kölreuter não nos são suficientemente conhecidos. Os restantes patentearam suas crenças religiosas.

b') A Zoologia se beneficiou grandemente pelos estudos de Pierre André Latreille (1762-1833), Johannes Friedrich Blumenbach (1752-1840), Antônio Luís Dugès (1797-1833), e João Henrique Casimiro Fabre (1823-1915), João Luís Armando de Quatrefages de Bréau; todos, homens de fé.

Fabre, por exemplo, declarou certa vez a um visitante que lhe per­guntara se acreditava em Deus: «Não posso dizer que acredito em Deus; vejo-O. Sem Ele, nada compreendo; tudo são trevas. Considero o ateísmo um capricho e a doença do nosso tempo. Mais facilmente me arrancariam a pele do que a fé».

e') A Anatomia tem como pioneiros alguns estudiosos que abertamente professaram a Religião: Marie-François-Xavier Bichat (1771-1802), fundador da Anatomia geral; Teodoro Schwann (1810-1882), o criador da Histologia; Karl Ernst von Baer (1792-1876), o pai da Embriologia moderna; Jean-Jacques­-Marie Cyprien Coste (1807-1873), cientista notoriamente aberto para as verdades religiosas.

d') Fisiologia. Além do nome de Claude-Bernard, devem­-se ressaltar os de Charles Bell (1774-1842), Marie-Jean-Pierre Flourens (1794-1867), Francisco Magendie (1783-1855), Frie­drich Tiedemann (1871-1861), Alfred Wilhelm Volkmann (1801­-1877), Henrique Milne-Edwards (1800-1885), Karl Friedrich Wilhelm Ludwig (1816-1895), Elie de Cyon (1843-1912). Com exceção de Magendie, que foi materialista, estes estudiosos afir­maram publicamente suas convicções religiosas.

Como renovadores da Neuropatologia, citam-se João Domingos Esquirol (1772-1840), Guilherme Benjamim Duchenne (1806-1875) e João Martinho Charcot (1825-1893). Este último foi incrédulo; Esquirol, um cristão professo, ao passo que não há clareza sobre o modo de pensar de Duchenne.

Em Psicofisiologia, salientaram-se José Frederico Bérard (1789­-1828), homem de fé firme, e Pedro-João Jorge Cabanis (1757-1808), o qual professou com energia o materialismo e o ateísmo, mas na vida prática não conseguiu ser coerente com seus dizeres, pois se comportou como homem de fé. Neste setor não se poderiam ignorar dois grandes cientistas incrédulos: Karl Vogt e Jakob Moleschott.

e') Medicina e Cirurgia. Na dianteira destes estudos figu­rou, antes de Claude Bernard e Pasteur, a corrente dita Fisioló­gica, de tendências materialistas, cujo principal representante foi Francisco José Vítor Broussais (1772-1838).

Fazia eco a esta corrente a Escola do Organicismo, fundada por Luís Leão Rostan (1791-1866). Este sábio, embora tenha tido discípulos ma­terialistas, não era destituído de fé religiosa, chegando mesmo a pre­tender que as suas doutrinas demonstravam a existência da alma e pos­tulavam a existência de Deus.

A corrente materialista, porém, fez época, cedendo à Escola dita Anatomopatológica, de tendências opostas, cujos grandes vultos são: Renato Teófilo Jacinto Laënnec (1781-1826), Gui­lherme Francisco Laënnec, Gaspar Lourenço Bayle (1774­-1816), Guilherme Dupuytren (1777-1835), José Cláudio Antelmo Récamier (1774-1852), Gabriel Andrai (1797-1876), Jean Cruveilhier (1791-1874). Todos estes viveram como bons cris­tãos, exceção feita de Dupuytren, o qual se converteu na última hora de sua vida.

De maneira especial, a Cirurgia deve seu desenvolvimento ao cul­tivo de quatro ramos de pesquisas: a Anestesia, por parte de James Young Simpsom (1811-1870); a Forcipressão, por parte de Eugênio Koeberle (1828-1915) e Júlio Emílio Péan (1830-1898); a Antissepsia, estudada por Joseph Lister (1827-1912); a Assepsia, a qual se aplicaram Ernst von Bergmann (1836-1906) e Luis Félix Terrier (1837-1908). -Desses cientistas, Koeberle, de católico praticante que era, caiu no indiferentismo, ao passo que Péan percorreu a via oposta; Terrier, que se dava por livre-pensador, pediu os sacramentos da S. Igreja du­rante a sua última doença; os demais enumerados professaram sem­pre a fé.

Podem-se notar ainda os seguintes nomes de grandes cirurgiões que deram testemunho da sua crença religiosa: Dominique Jean Larrey, Amédée Bonnet, Auguste Nélaton, Luigi Porta, von Langenbeck, Richard von Volkmann, J. M. Nussbaum, Teodoro Billroth, Aristides Augusto Estanislau de Verneuil, Luís Xavier Eduardo Leopoldo Ollier, Marie-Marallin Lucas Championnière, Eduardo Delanglade.

Estes dados, que se poderiam sem dúvida multiplicar, exigem agora

2. Reflexão e conclusão

1. Eymieu, ao terminar a exposição dos resultados do seu inquérito, verifica ter recenseado 364 nomes dentre os maiores sábios no decorrer do séc. XIX.

Desses 364, 151 foram pioneiros de pesquisas importantes ou de novos ramos de estudos. Dentre tais iniciadores, 11 se mantiveram lacônicos quanto à sua posição religiosa. Ficam, em conseqüência, 140, assim distribuídos: 127 homens de fé, 4 ateus, 5 indiferentes, 4 agnósticos. O que quer dizer que, entre 35 sá­bios, em média 32 professaram convicções religiosas, um se mos­trou agnóstico, um indiferente e um ateu.

Claro está que tais cifras são apenas aproximativas, ficando su­jeitas a revisão. Contudo não é temerário dizer que refletem de perto a realidade. Os retoques que lhes fossem feitos, não as alterariam essencialmente; muito menos inverteriam as proporções assinaladas. Quem verifica quão ampla foi a participação dos homens de fé nas grandes descobertas que impulsionaram a ciência moderna, pode per­guntar se ainda resta algum empreendimento digno de nota a ser atri­buído aos sábios incrédulos casualmente esquecidos no inquérito.

2. Quais seriam então as conclusões decorrentes dos resul­tados colhidos por Eymieu?

O próprio Eymieu formula três grandes proposições sugeri­das pelas cifras apuradas

1) Afirmar que os sábios são geralmente incrédulos, equi­vale, numa palavra, a faltar à verdade.

2) Os cientistas como tais não estão obrigados a se pro­nunciar sobre Religião. Acontece, porém, que os maiores dentre eles, os pioneiros das pesquisas científicas, deram espontâneo testemunho à fé assim como à ciência; professaram simultaneamente Religião e Ciência.

Isto quer dizer que não viram conflito entre uma e outra destas disciplinas.

Ora, se não viram tal conflito, eles que conheciam bem a ciência, pode-se dizer, sem receio, que tal conflito de fato não existe.

Como então se explica que alguns pensadores, julguem haver ta1 antagonismo?

Não é em nome da ciência que eles assim falam, mas por inspiração de outro fator, outro fator que será talvez «preconceito, falsa filosofia, sentimentalismo, inexato conhecimento da Religião, da história ou coisa semelhante». Pois bem; inegavelmente contra este outro fator a Reli­gião entra (e quer entrar) em conflito!

3) O inquérito deu a ver que, entre os grandes pioneiros da ciência do séc. XIX, precisamente os homens de fé constituíram notável maioria. É de crer, porém, que, se se estendesse o inter­rogatório a todos os homens (sábios e ignorantes) das nações do séc. XIX (daquelas mesmas nações donde se originaram os cien­tistas), certamente não se verificaria a proporção de 32 varões de fé em cada grupo de 35 cidadãos (não consideramos aqui as mulheres, que em geral são religiosas). Ao contrário, apurar-se­-ia talvez uma minoria apenas de varões de fé ou de varões pron­tos a professar a Religião por suas palavras e seus atos.

Isto quer dizer que os cientistas e sábios do séc. XIX tive­ram mais fé do que a maioria dos seus contemporâneos. A sua própria ciência os terá imunizado do contágio da incredulidade que o ambiente do século tentava de vários modos incutir, con­tágio ao qual não puderam resistir os cidadãos mais simples ou menos eruditos; a pouca ou nula ciência destes terá permitido que se deixassem arrastar ao materialismo e à indiferença reli­giosa, ao passo que a ciência sólida alimentava a chama da Religião nos genuínos sábios.

Disto se pode deduzir que, longe de haver conflito, há, antes, particular afinidade entre autentica ciência e Religião ou fé. Tinha razão, portanto, o sábio Pasteur, ao asseverar: «La science rapproche l'homme de Dieu. - A ciência torna o homem mais próximo de Deus».

Os dados da presente resposta foram colhidos imediatamente do artigo «Science et Religion» da autoria de A. Eymieu no «Dictionnaire Apologétique de la Foi Catholique» IV 1241-1253. - Os seus dizeres parecem não ter perdido a força persuasiva nos dias atuais.

3. De resto, inquérito semelhante foi levado a efeito por E. Den­nert, que publicou os resultados na sua obra «Religion der Naturforscher»:

Procurou examinar qual terá sido a posição religiosa de 300 estu­diosos da natureza e médicos famosos dos últimos tempos, chegando aos seguintes resultados:

20 se apresentaram contrários a Religião ou ateus;

38 não foram suficientemente explícitos para permitir um juízo neste setor;

os demais 242 (dentre 300) não somente nutriram sentimentos reli­giosos em seu íntimo, mas fizeram, com maior ou menor ardor, profis­são pública dos mesmos. Os estudiosos da natureza tendem muito espontaneamente a prorromper em hinos de entusiástico louvor ao Criador.

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