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segunda-feira, 2 de abril de 2007

Deus, existência do mal: sei, mas não me conformo

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 372/1993)

Em síntese: O mal ou a infelicidade dos homens no mundo é, não ra­ro, motivo de perplexidade e de desafio a Deus. O artigo considera, em ter­mos filosóficos (aptos a falar a qualquer leitor), o que é o mal e como Deus se comporta frente ao mal que decorre das limitações das criaturas. Se Deus quis criar (e Ele o quis para comunicar a sua perfeição a outros se­res), Ele só podia criar seres limitadamente perfeitos, pois um ser ilimita­damente perfeito seria outro Deus - o que vem a ser um absurdo. Deus, porém, nunca permitiria o mal que as criaturas cometem se não tivesse re­cursos em sua sabedoria para tirar dos males bens ainda maiores (S. Agos­tinho).

A mentalidade antropocêntrica dificulta ao homem de hoje compre­ender o relacionamento da criatura com o Criador. O verdadeiro enfoque é teocêntrico, pois o homem é pequeno demais para bastar a si; Ele foi feito para se consumar em outrem ou no Bem Supremo Infinito, único capaz de saciar sua capacidade de Absoluto e de Infinito.

***

Está constantemente em discussão a questão do mal (físico e moral) no mundo. Assume várias modalidades, uma das quais foi recentemente re­colocada aos olhos do público num periódico de Curitiba:

Se Deus existe e é bom, devia ter feito o homem feliz, isento de do­enças, lutos, misérias, fome. "Se dependesse de mim, teria criado a mim e a eles não apenas bons, como tão bons que nem vontade nem capacidade para o mal possuíssemos. Pois não é inteiramente bom quem sequer pode fazer o mal...

Grito, diante da dor universal e da ilusão com que a suportamos, o mesmo que a poetisa diante do trespasse dos bons e belos sábios: Sei que assim é, mas não o aceito e sobretudo não me conformo!' " (Gazeta do Povo, Curitiba, 13/12/92).

A conseqüência que Emir Caluf, autor das palavras acima, tira é que afinal nem Deus nem deuses existem!

O problema não é novo, mas, visto que volta sempre à baila, será abordado mais uma vez nas páginas seguintes. O assunto, aliás, já foi considerado em PR 247/1980, pp. 304-306; 297/1987, pp. 61-69.

1. DEUS E O MAL: COMO EXPLICAR?

1) Antes do mais, coloca-se a pergunta: este mundo, aparentemente desarrumado como é, que origem terá tido? Veio do acaso? É eterno? Tem um Criador?

A resposta não é difícil.

a) O acaso não é sujeito que produza seus efeitos. É simplesmente o nome que damos à nossa ignorância; quando ocorre um acontecimento cu­jas causas não conhecemos, dizemos que se deu por acaso. De resto, ao lado das falhas que verificamos no mundo, existe tão estupenda ordem (ima­ginem-se o "infinitamente" grande do cosmos e o "infinitamente" peque­no do átomo) que este mundo exige uma Inteligência que o tenha planeja­do e lhe tenha dado existência; o "jogo de roleta" da natureza nunca ex­plicaria a realidade de uma só molécula de ADN.

b) Se o mundo fosse eterno ou sem princípio, seria Absoluto, seria o próprio Deus. Ora isto é contraditório, porque este mundo é marcado pela dependência, a mudança e a contingência ..., notas que se opõem aos con­ceitos de Absoluto e de Eterno.

c) Resta, pois, dizer que este mundo tem um Criador. Supõe um Ser, fonte de todas as perfeições nele existentes, Ser incriado, infinitamente perfeito, que é a causa adequada e necessária para explicar a realidade do cosmos.

2) O mundo foi criado por amor. Nenhum interesse particular pode ter movido Deus a criar. Por definição, Ele é perfeito e feliz. Se tirou do nada as criaturas, fê-lo unicamente para dar-lhes parte na sua vida e cumulá-las de bens. Um famoso axioma neoplatônico reza: "O bem é difusivo de si", isto é, todo ser bom tende a comunicar a sua bondade a outros, pa­ra fazê-los felizes. - Não há outra explicação plausível para a existência do mundo.

3) Há agora uma importante observação: Deus criou cada ser perfeito na sua linha própria, isto é, fez o mineral perfeito como mineral, o vegetal perfeito como tal, o homem perfeito como homem. Todavia nenhuma dessas criaturas é perfeita de modo absoluto - nem o pode ser -- porque fo­ram todas tiradas do nada e são constantemente ameaçadas a cair no nada. Uma criatura incapaz de falhar seria Deus. Só Deus, por ser o Absoluto, é isento de falhas por sua própria natureza, ao passo que a criatura, pelo fa­to mesmo de ser criatura, é falível. Assim, por exemplo, a violeta é perfei­ta como violeta, mas não conhece, não fala e está sujeita a murchar. O ho­mem é perfeito como homem, mas está sujeito às falhas do raciocínio, ao ímpeto das paixões.

4) Isto explica que, no mundo presente, haja falhas e desgraças:

- a natureza irracional conhece suas falhas: enchentes, secas, incên­dios, terremotos, crianças que nascem deficientes... Isto tudo se explica pelo exercício mesmo das leis naturais: evaporação provocada pelo calor, onda de frio que liquefaz o vapor de água, donde aguaceiro...; faísca de raio que cai numa floresta, donde incêndio...; imperfeita combinação dos genes de uma criança...

- o homem como criatura racional também falha, porque pode fazer mau uso da sua liberdade, provocando furtos, morticínios, guerras, donde procedem a peste, a fome, a miséria...

5) o Senhor Deus não quer intervir no mundo, coibindo ou teleguian­do, a todo momento, as criaturas para que nunca falhem. Isto daria origem a um mundo artificial ou de marionetes, como alguns preconizam. Se deu a liberdade do homem, o Criador quer respeitá-la, deixando que se exerça, pois a liberdade é um dom que dignifica o homem, elevando-o acima da categoria dos robôs automáticos. Em linguagem precisa, devemos dizer: Deus não quer o mau procedimento do homem nem os males em geral, mas Ele os permite, porque decorrem da natureza mesma das criaturas; Deus só quer o bem.

6) Deus, porém, não é mero espectador do curso da história. Diz S. Agostinho que Ele nunca permitiria os males se não soubesse tirar do mal bens ainda maiores[1]; Ele tem recursos para fazer que os males redundem em bens para o homem. Isto é tão verídico que já os gregos pré-cristãos afirmavam: Pathos mathos, sofrimento é escola, é educação. Pela dor, mui­tos e muitos indivíduos superam seu egoísmo e se tornam mais compreen­sivos, mais dedicados aos outros. Esta verdade se tornou evidente ao máxi­mo quando Deus permitiu o pecado dos primeiros pais; este acarretou de­sordem para a humanidade, mas também foi ocasião para que o próprio Filho de Deus assumisse a natureza humana e, morrendo na Cruz, transfi­gurasse a dor e a morte, merecendo assim para os homens herança muito mais rica do que aquela perdida pelos primeiros pais.

Este desígnio de Deus frente à liberdade e aos males das criaturas é esboçado pela S. Escritura desde as suas primeiras páginas. Assim, por exemplo, disse José, vendido por seus irmãos a mercadores estrangeiros e levado para o Egito:

"Não fostes vós que me mandastes para cá, foi Deus... O mal que vós queríeis fazer-me, o desígnio de Deus o mudou em bem, a fim de cumprir o que se realiza hoje: salvar a vida de um povo numeroso" (Gn 45,8;50,20).

São Paulo comenta: "Nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam" (Rm 8,28).

Os Santos sempre tiveram a convicção desta verdade, como se depre­ende dos seguintes testemunhos:

São Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consolava sua filha, dizendo: "Nada pode acontecer fora do desígnio de Deus. Ora tudo o que Deus quer, por pior que nos pareça, é o que há de melhor para nós" (Carta à sua filha).

Lady Julian of Norwich escreve: "Compreendi, pois, pela graça de Deus, que era preciso que eu me ativesse firmemente à fé, e acreditasse com não menor firmeza que todas as coisas se voltarão para bem. E verás que todas as coisas se tornarão boas (thou shalt see thyself that all manner of thing shall be well)" (Revelações 32).

7) Está claro que Deus podia ter criado um mundo diferente do nos­so, talvez com menos incidentes. Se Ele quis o que existe, Ele o quis sabia­mente. - De resto, deve-se afastar o conceito de "o melhor mundo possível" ou de um mundo bom em grau superlativo. Tal noção é absurda, co­mo absurdo é o conceito de "o movimento mais rápido possível". Com efeito; o mundo é um conjunto de seres finitos ou limitados; ora qualquer conjunto de seres finitos é suscetível de tornar-se mais perfeito; sempre se lhe poderá acrescentar algum grau de perfeição; nunca, porém, se chegará ao auge da perfeição, pois esta só existe em Deus e não resulta da soma de parcelas de perfeição; toda soma de seres finitos é finita e pode sempre re­ceber um acréscimo.

Em conseqüência, vê-se que a noção de "o melhor mundo possível­ é absurda. Deus quis o mundo que conhecemos, e escapa à inteligência hu­mana saber por que escolheu este e não outro modelo de criatura. Ver o Apêndice a este artigo, pp. 200-202.

8) Em última análise, faz-se mister ainda dizer o que é o mal, pois errôneas noções a respeito dificultam o entendimento da questão. O mal não é um ser, mas é precisamente a carência de um ser devido; é a ausência de algo que não deveria estar ausente. Paralelamente as trevas não são um ser, uma energia negra, como a luz é energia branca; mas as trevas são a au­sência de luz; basta retirar a luz, para que haja trevas. Assim, por exemplo, a cegueira é um mal no homem, porque é a falta de visão numa criatura a quem compete ter olhos; mas a falta de olhos numa pedra não é um mal, porque não toca à pedra ter visão. O pecado é um mal, porque significa uma ação humana que carece de harmonia com o seu Fim Supremo.

Existem dois tipos de mal:

- o mal físico: o que ocorre entre as criaturas irracionais ou também na corporeidade do homem: enchentes, secas, incêndios naturais, genóti­pos defeituosos...

- o mal moral: o que decorre do mau uso da liberdade humana e que nós chamamos pecado.

O mal, como não-ser ou como ausência, não tem causa direta (o não­-ser não precisa de causa direta para existir). O mal só pode ter causa indi­reta, e esta só pode ser a criatura; sim, somente a criatura é capaz de pro­duzir um efeito inacabado ou carente da perfeição que lhe é devida. Em conseqüência, Deus nunca pode ser causa do mal; isto é metafisicamente impossível. Ocorre, porém, que Deus quis criar seres limitadamente perfei­tos, ciente de que falhariam, mas o Criador envolveu tais falhas no seu pla­no de amor, determinando fazer dos próprios males das criaturas a ocasião de maior crescimento na escala do bem. Ele preferiu criar a não criar, e criar com grande liberalidade seres livres e dignos, aos quais levaria o remé­dio no tempo oportuno. Este desígnio de Deus é um fato; a criatura não tem como discutir, pois admitir um Deus omisso, injusto ou maldoso é in­coerência, visto que Deus por definição é sumamente perfeito. Ou Ele é santo em grau máximo, ou não existe. Resta, pois, em última análise ado­rar o plano de Deus e fazer-lhe um ato de confiança irrestrita, pois é certo que Deus não pode errar nem se enganar. São Paulo diz em termos conci­sos e eloqüentes:

"Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus? Acaso dirá a obra ao seu artífice: `Porque me fizeste assim?' " (Rm 9, 20).

Passemos agora a duas observações finais.

2. REFLEXÕES FINAIS

A problemática das relações do homem com Deus em nossos tempos é perturbada por causa de duas concepções falsas muito presentes à men­talidade moderna:

2.1. Antropocentrismo

Desde o século XVI (Renascimento, Reforma protestante) e pelos sé­culos seguintes, com Descartes, Hume, Kant, Augusto Comte, ... o pensa­mento filosófico tende a fazer do homem o centro ou referencial de toda cosmovisão; seria o critério dos valores; nos últimos decênios nem mesmo o homem em geral, mas o eu de cada um vem a ser esse eixo de referências.

Dir-se-ia que a filosofia contemporânea volta à tese do sofista Protá­goras grego (século V a.C.): "O homem é a medida de todas as coisas, da­quelas que são por aquilo que são, e daquelas que não são por aquilo que não são". Para Protágoras, o único critério é somente o homem, o homem individual: "Tal como cada coisa aparece para mim, tal é ela para mim; tal como aparece para ti, tal é para ti". Sendo assim, ninguém está no erro, mas todos estão com a verdade (com a sua verdade).

Este modo de pensar antropocêntrico, individualista e relativista tem suas incidências sobre a própria religiosidade do homem moderno. Desde Lutero, é dito ao cristão que ele a sós pode fazer o livre exame da Bíblia; tirará desta as conclusões que lhe parecerem retas e fundará seu Cristianis­mo próprio. Em nossos dias, tal atitude, freqüente como é, tem dado ori­gem a múltiplas correntes religiosas e até ao ateísmo.

Muito diferente é a concepção que os antigos e medievais professa­vam (e ainda hoje professam numerosos cristãos): Deus é o grande referen­cial do pensamento e o critério dos valores. O objetivo da vida humana é dar glória a Deus - o que não pode deixar de redundar na plena realização do próprio bem. O Evangelho, aliás, incute freqüentemente essa atitude: o homem deve perder sua vida temporal, mortal, para ganhar a vida imortal (cf. Mt 16, 25; Jo 12, 34s); deve abaixar-se para ser exaltado (cf. Lc 14,11); deve servir para ser servido (cf. Mc 10,42-45); deve cair na terra e morrer como o grão de trigo para dar muito fruto (cf. Jo 12,24). 0 Missal Romano acrescenta em uma de suas orações: "Deus, a quem conhecer é viver, a quem servir é reinar..."

Isto não implica masoquismo nem derrotismo, mas significa que o homem é um ser relativo a Deus, e não um ser absoluto; ele tem que re­nunciar a tudo o que o possa afastar de Deus, para se encontrar renovado em Deus. Somente em Deus, o homem encontra sua explicação, sua razão de ser e sua finalidade, porque só Deus é o Bem Infinito, ao qual todo ser na­turalmente aspira; o homem é pequeno demais para bastar a si; ele não pode deixar de se entediar e de definhar, se se fecha em si mesmo. - Esta verdade, que assusta e pode encontrar resistência, contém o segredo da plena consumação do ser humano. Quem a tenta viver, descobre que aí está a verdadeira sabedoria.

2.2. O conceito de felicidade

À primeira vista, felicidade parece significar saúde, dinheiro, amigos, bem-estar temporal, e infelicidade... precisamente o contrário. - Aos pou­cos, porém, todo homem verifica que plena saúde e muitos bens materiais ainda deixam o sujeito frustrado; são bolhas de sabão, pois desfalecem ce­do ou tarde. A fonte da verdadeira felicidade está dentro e não fora do ho­mem; está nos valores éticos e principalmente na descoberta de Deus, o Bem Infinito; Este é o único capaz de satisfazer cabalmente à capacidade de Infinito que todos trazem dentro de si. Está claro que saúde e bens ma­teriais podem contribuir para dar certa felicidade ao homem; mas é de crer que a Providência Divina, em sua sabedoria, sabe ministrar os seus dons de tal modo que cada qual, dentro do seu quadro de vida, encontre alegria e estímulo, independentemente deste ou daquele tipo de valor material. Seja aqui lembrado o famoso axioma: "Mais vale ser do que ter". As vezes o ter dificulta o ser; só Deus sabe o que a cada um convém para que seja sempre mais, usando os bens desta vida.

Se o conceito de felicidade derivada do ser for mais e mais compreen­dido e aceito, o antropocentrismo irá cedendo ao senso de transcendência e de Absoluto, que é a fonte da verdadeira alegria.

A propósito pode-se recomendar a excelente obra de Charles Journet: La Mal. Essai Théologique. Desclée de Brouwer 1961.

APÊNDICE

Aqui seja colocada famosa questão já ligeiramente abordada no corpo do artigo, a fim de se lhe dar mais ampla explanação:

Se Deus é todo-poderoso e infinitamente bom, por que não criou um mundo melhor do que o nosso?

Respondemos por partes:

1) É certo que Deus é todo-poderoso. Se não o fosse, não seria Deus. Ele só não pode fazer coisas absurdas (círculo quadrado, montanhas sem vales...), porque tais coisas não têm sentido em si mesmas (os seus termos se destroem mutuamente).

2) É certo que Deus também é infinitamente bom; caso contrário, não seria Deus. Por definição, Deus é a fonte de toda perfeição.

3) Então, observa-se, deveria fazer um mundo melhor do que o nos­so. Se Ele o podia fazer, Ele também o devia fazer.

- Notemos que certamente Deus podia fazer um mundo melhor do que o nosso; poderia estar intervindo a todo momento para corrigir o curso errôneo das criaturas.[2]

Quanto a dever fazer, é de observar que Deus a nada é obrigado; o que Ele faz, é feito gratuitamente; Ele livremente comunica as suas perfei­ções, como Ele quer. Deus só poderia ser tido como mau se tivesse feito um mundo em que o mal dissesse a última palavra, um mundo em que o absurdo triunfasse de modo geral, um mundo em que só houvesse joio, e não trigo. Ora podemos dizer que, esse mundo mau, presa indiscutida do mal, Deus não o fez; em nosso mundo, o mal é a outra face ou o reverso do bem; é a ocasião do triunfo do bem, é como o joio que cresce com o trigo (joio semeado pelo adversário) e que não deve ser arrancado para não prejudicar o trigo (cf. Mt 13,28-30). Deus estava obrigado, por sua

perfeição, apenas a fazer um mundo no qual o mal não dissesse a última palavra.

Colocado este princípio, observamos que é impossível a nós definir qual o mundo em que o bem triunfe melhor sobre o mal. O mal existirá sempre, pois decorre das limitações (físicas e morais) das criaturas. Pois bem; em que proporção (ou dose) o mal deveria ou não deveria existir no mundo?

É pergunta para a qual não temos resposta. O conceito de "o melhor mundo possível" é absurdo, como o é o conceito de "o movimen­to mais rápido possível", segundo já foi dito. Qualquer tipo de mundo em que haja mescla de bem e mal, poderia ser discutido como sendo (ainda e apesar de tudo) inadequado à Bondade Divina. 0 que sabemos, é que o mundo presente foi por Deus tido como oportuno; não queiramos censu­rar o Criador por causa disto, pois este mundo é certamente o campo em que o bem e o mal se defrontam, com a certeza de que o Bem diz e dirá a última palavra. Imaginar outro tipo de certame entre o Bem e o mal é, da nossa parte, pretensão que não tem fim, é perda de tempo.

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NOTAS:

[1] "O Deus todo poderoso..., por ser soberanamente bom, nunca permitiria que algum mal acontecesse em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para tirar do próprio mal o bem" (Enquirídio 11, 3).

"Deus julgou melhor tirar do mal o bem do que não permitir a exis­tência de mal nenhum" (Enquirídio 27).

[2] Muito oportunas são as reflexões de Jacques Maritain:

"O sistema solar não é uma máquina, como também não o é o univer­so. Resulta da longa evolução histórica de uma multidão de fatores postos em interação, não de antemão unificados... Sem dúvida, a Causa primeira inteligente dirige essa evolução histórica segundo o seu plano criador, mas Deus não é um relojoeiro, um fabricante de relógios, é um Criador de na­turezas. O mundo não é um relógio, mas uma república de naturezas, e a infalível causalidade Divina, pelo fato mesmo de ser transcendente, faz que os acontecimentos ocorram segundo a sua índole própria: de modo necessário, os acontecimentos necessários, de modo contingente, os acon­tecimentos contingentes; de modo fortuito, os acontecimentos fortuitos" (Raison et Raisons, Paris 1947, p. 62).

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