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segunda-feira, 16 de abril de 2007

Homossexualismo: tendências modernas

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 298/1987)


A Congregação para a Doutrina da Fé publicou em outubro pp.uma Carta sobre o homossexualismo, tendo em vista modernas tendências a legi­timar tal prática. Para facilitar a feitura de tal texto, que vai adiante transcrito, apresentamos as suas principais linhas:

1) É notória a insistência dos que desejam legitimar o homossexualis­mo. O caso Curran, recém-ocorrido, o atesta bem; cf. PR. 294/1986, p, 498.

2) A prática homossexual continua sendo tachada de antinatural e anti­-bíblica. A tendência, porém, ao homossexualismo não é, como tal, pecamino­sa, se a pessoa não lhe dá o seu consentimento. A distinção entre sentir e consentir é clássica em Teologia Moral; alguém pode sentir ímpetos de rai­va, mas, se não lhes consente, não está pecando.

3) Os homossexuais são chamados a guardar a castidade - o que po­de ser crucificante. Aceita, porém, em união com o sacrifício de Cristo, esta renúncia pode tornar-se fonte de paz e de alegria interior.

4) Não seja a pessoa humana considerada apenas segundo a sua di­mensão sexual. Há vários níveis de realização da personalidade, que os ho­mossexuais podem plenamente atingir.

5) Queiram os pastores colaborar zelosamente na observância dos princípios da Moral e no acatamento ao Magistério da Igreja, ao mesmo tempo que exercem seu zelo pastoral em relação a todos os homens.

CARTA AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA

SOBRE O ATENDIMENTO PASTORAL DAS

PESSOAS HOMOSSEXUAIS

1. O problema[1]

1. O problema do homossexualismo e do juízo ético acerca dos atos homossexuais tornou-se cada vez mais objeto de debate público, mesmo em ambientes católicos. Em tal discussão, propõem-se muitas vezes argumentos e exprimem-se posições não conformes com o ensi­namento da Igreja Católica, que suscitam justa preocupação em todos aqueles que se dedicam ao ministério pastoral. Por esse motivo esta Congregação julga o problema tão grave e difundido que justifica a pre­sente Carta sobre o atendimento pastoral às pessoas homossexuais, Carta dirigida a todos os Bispos da Igreja Católica.

2. Naturalmente, não se pretende elaborar neste texto um tratado exaustivo sobre problema tão complexo. Prefere-se concentrar a atenção no contexto especifico da perspectiva moral católica. Esta encontra apoio também nos resultados seguros das ciências humanas, as quais, também, possuem objeto e método que lhes são próprios e gozam de legítima autonomia.

A posição da moral católica baseia-se na razão humana iluminada pela fé e guiada conscientemente pela intenção de fazer a vontade de Deus, nosso Pai. Desta forma, a Igreja está em condições não somente de poder aprender das descobertas científicas, mas também de transcender-lhes o horizonte; ela tem a certeza de que a sua visão mais completa res­peita a complexa realidade da pessoa humana que, nas suas dimensões espiritual e corpórea, foi criada por Deus e, por sua graça, é chamada a ser herdeira da vida eterna.

Somente em tal contexto poder-se-á compreender com clareza em que sentido o fenômeno do homossexualismo, em suas múltiplas dimen­sões e com seus efeitos sobre a sociedade e sobre a vida eclesial, é um problema que afeta propriamente a preocupação pastoral da Igreja. Por isto mesmo, requer-se dos seus ministros atento estudo, empenho con­creto e reflexão honesta, teologicamente equilibrada.

2. Mal-entendidos

3. Já na "Declaração acerca de algumas questões de ética sexual" de 29 de dezembro de 1975, a Congregação para a Doutrina da Fé tratava explicitamente deste problema. Naquela Declaração, salientava-se o de­ver de procurar compreender a condição homossexual e se observava que a culpabilidade dos atos homossexuais deve ser julgada com pru­dência. Ao mesmo tempo, a Congregação levava em consideração a dis­tinção feita comumente entre a condição ou tendência homossexual, de um lado, e, do outro, os atos homossexuais. Estes últimos eram descritos como atos que, privados da sua finalidade essencial e indispensável, são "intrinsecamente desordenados" e, como tais, não podem ser aprovados em nenhum caso (cf. n.8, parágr.4).

Entretanto, na discussão que se seguiu à publicação da Declaração foram propostas interpretações excessivamente benévolas da condição homossexual, tanto que houve quem chegasse a defini-la indiferente ou até mesmo boa. Ao invés, é necessário precisar que a particular inclina­ção da pessoa homossexual, embora não seja em si mesma um pecado, constitui, no entanto, uma tendência, mais ou menos acentuada, para um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista moral. Por este motivo, a própria inclinação deve ser considerada como objetivamente desordenada.

Aqueles que se encontram em tal condição deveriam, portanto, ser objeto de uma particular solicitude pastoral, para não, serem levados a crer que a realização concreta de tal tendência nas relações homossexuais seja uma opção moralmente aceitável.

3. Causas dos equívocos

4. Uma das dimensões essenciais de autêntico atendimento pas­toral é a identificação das causas que provocaram confusão quanto ao ensinamento da Igreja. Entre elas, deve-se assinalar uma nova exegese da Sagrada Escritura, segundo a qual a Bíblia ou não teria nada a dizer acerca do problema do homossexualismo, ou até mesmo tacitamente o aprovaria, ou então ofereceria prescrições morais tão condicionadas cul­tural e historicamente, que afinal não mais poderiam ser aplicadas à vida contemporânea. Tais opiniões, gravemente errôneas e desorientadoras, requerem, portanto, especial vigilância.

5. É verdade que a literatura bíblica é tributária das várias épocas nas quais foi escrita, com relação a grande parte dos seus modelos de pensamento e de expressão (cf. Dei Verbum,12). Certamente, a Igreja de hoje proclama o Evangelho a um mundo bastante diferente do mundo antigo. Por outro lado, o mundo no qual foi escrito o Novo Testamento estava já consideravelmente mudado, por exemplo, quanto à situação na qual foram escritas ou redigidas as Sagradas Escrituras do povo judeu.

Deve-se ressaltar todavia que, embora no contexto de uma diversi­dade notável, existe evidente coerência no interior das mesmas Escritu­ras, no que diz respeito ao comportamento homossexual. Por isto, a doutrina da Igreja acerca deste ponto não se baseia apenas em frases isoladas, das quais se podem deduzir argumentações teológicas

discutí­veis, e sim no sólido fundamento de um testemunho bíblico constante. A atual comunidade de fé, em ininterrupta continuidade com as comunida­des judaicas e cristãs no seio das quais foram redigidas as antigas Escri­turas, continua a alimentar-se com aquelas mesmas Escrituras e com o Espírito de Verdade do qual elas são a Palavra. É igualmente essencial reconhecer que os textos sagrados não são realmente compreendidos quando interpretados de um modo que contradiz à vigente Tradição da Igreja. Para ser correta, a interpretação da Escritura deve estar em acordo efetivo com esta Tradição.

A este respeito, assim se exprime o Concílio Vaticano II: "É claro que a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, por sapientíssima disposição de Deus, estão entre si tão relacionados e uni­dos, que não podem subsistir independentemente, e todos juntos, se­gundo o modo próprio de cada um, sob a ação de um só Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas" (Dei Verbum, 10). À luz dessas afirmações aqui se delineia sucintamente o ensinamento da Bíblia sobre a matéria.

4. A doutrina bíblica

6. A teologia da criação, presente no livro do Gênesis, fornece o ponto de vista fundamental para a adequada compreensão dos proble­mas suscitados pelo homossexualismo. Na sua infinita sabedoria e em seu amor onipotente, Deus chama à existência toda a criação, como re­flexo da sua bondade. Cria o homem à sua imagem e semelhança, como varão e mulher. Por isto mesmo, os seres humanos são criaturas de Deus chamadas a refletir, na complementariedade dos sexos, a unidade interna do Criador. Eles realizam esta função, de modo singular, quando, me­diante a recíproca doação esponsal, cooperam com Deus na transmissão da vida.

O capítulo 3 do Gênesis mostra como esta verdade acerca da pes­soa humana como imagem de Deus foi obscurecida pelo pecado original. Dai provém inevitavelmente uma perda da consciência acerca do caráter de aliança, próprio da união que as pessoas humanas mantinham com Deus e entre si. Embora o corpo humano conserve ainda o seu "signifi­cado esponsal", este, agora, é obscurecido pelo pecado. Assim, o dete­rioramento devido ao pecado continua a desenvolver-se na história dos homens de Sodoma (cf. Gén. 19, 1-11). Não pode haver dúvidas quanto ao julgamento moral aí expresso contra as relações homossexuais. Em Levítico 18,22 e 20, 13, quando se indicam as condições necessárias para se pertencer ao povo eleito, o Autor exclui do povo de Deus os que têm um comportamento homossexual.

Tendo como tela de fundo esta legislação teocrática, São Paulo de­senvolve uma perspectiva escatológica, dentro da qual repropõe a mes­ma doutrina, elencando também entre aqueles que não entrarão no reino de Deus os que agem como homossexuais (cf. 1Cor 6,9). Em outra pas­sagem do seu epistolário, baseando-se nas tradições morais dos seus an­cestrais, mas colocando-se no novo contexto do confronto entre o cris­tianismo e a sociedade pagã do seu tempo, ele apresenta o comporta­mento homossexual como um exemplo da cegueira em que caiu a hu­manidade. Tomando o lugar da harmonia original entre Criador e cria­tura, o grave desvio da idolatria levou a todo tipo de excessos no campo moral. São Paulo aponta o exemplo mais claro desta desarmonia exata­mente nas relações homossexuais (cf. Rom. 1, 18-32). Enfim, em perfeita continuidade com o ensinamento bíblico, na lista dos que agem contra­riamente à sã doutrina, são mencionados explicitamente como pecadores aqueles que praticam atos homossexuais (cf. 1Tim 1,10).

5. Matrimônio e homossexualidade

7. A Igreja, obediente ao Senhor que a fundou e a enriqueceu com a dádiva da vida sacramental, celebra no sacramento do matrimônio o desígnio divino da união do homem e da mulher, união de amor e capaz de dar a vida. Somente na relação conjugal o uso da faculdade sexual pode ser moralmente reto. Portanto, uma pessoa que se comporta de modo homossexual, age imoralmente.

Optar por uma atividade sexual com pessoa do mesmo sexo equivale a anular o rico simbolismo e o significado, para não falar dos fins, do desígnio do Criador a respeito da realidade sexual. A atividade homossexual não exprime uma união complementar, capaz de transmitir a vida e, portanto, contradiz à vocação a uma existência vivida naquela forma de autodoação que, segundo o Evangelho, é a essência mesma da vida cristã. Não quer dizer que as pessoas homossexuais não sejam freqüentemente generosas e não se doem, mas, quando se entregam a uma atividade homossexual, elas reforçam dentro delas mesmas uma inclina­ção sexual desordenada, caracterizada em si mesma pela autocompla­cência.

Como acontece com qualquer outra desordem moral, a atividade homossexual impede a auto-realização e a felicidade porque contrária à sabedoria criadora de Deus. Refutando as doutrinas errôneas acerca do homossexualismo, a Igreja não limita, antes pelo contrário, defende a li­berdade e a dignidade da pessoa, compreendidas de modo realista e au­têntico.

6. Grupos de Pressão

8. O ensinamento da Igreja de hoje encontra-se, portanto, em con­tinuidade orgânica com a visão contida na Sagrada Escritura e com a constante tradição. Embora o mundo de hoje esteja, sob diversos pontos de vista, realmente mudado, a comunidade cristã é consciente do vínculo profundo e duradouro que a une às gerações que a precederam "no sinal

da fé".

No entanto, um número cada vez mais largo de pessoas, mesmo dentro da Igreja, exerce fortíssima pressão para levá-la a aceitar a condi­ção homossexual como se não fosse desordenada e a legitimar os atos homossexuais. Os que, no interior da Igreja, pressionam nesta direção, freqüentemente mantém estreita ligação com os que agem fora dela.

Ora, tais grupos externos são movidos por visão oposta à verdade acerca da pessoa humana, verdade que nos foi revelada plenamente no mistério de Cristo. Embora de modo não de todo consciente, eles mani­festam uma ideologia materialista, que nega a natureza transcendente da pessoa humana bem como a vocação sobrenatural de cada indivíduo.

Os ministros da Igreja devem agir de modo que as pessoas homos­sexuais confiadas aos seus cuidados não sejam desencaminhadas por estas opiniões, tão profundamente opostas ao ensino da Igreja. Contudo o risco é grande e existem muitos que procuram criar confusão quanto à posição da Igreja e aproveitar-se de tal confusão em favor de seus pró­prios objetivos.

9. Mesmo dentro da Igreja formou-se uma corrente, constituída por grupos de pressão com denominações diferentes e diferente ampli­tude, que tenta impor-se como representante de todas as pessoas ho­mossexuais que são católicas. Na realidade, seus adeptos são, na maioria dos casos, pessoas que ou desconhecem o ensinamento da Igreja, ou procuram subvertê-lo de alguma maneira. Tenta-se reunir sob a égide do catolicismo pessoas homossexuais que não têm a mínima intenção de abandonar o seu comportamento homossexual. Uma das táticas usadas é a de afirmar, em tom de protesto, que qualquer crítica ou reserva às pes­soas homossexuais, à sua atitude ou ao seu estilo de vida é simplesmente uma forma de injusta discriminação.

Em algumas nações funciona, como conseqüência, uma tentativa de pura e simples manipulação da Igreja, conquistando-se o apoio dos pastores, freqüentemente em boa fé, no esforço que visa mudar as nor­mas da legislação civil. Finalidade de tal ação é ajustar esta legislação à concepção própria de tais grupos de pressão, para os quais o homosse­xualismo é, pelo menos, uma realidade perfeitamente inócua, quando não totalmente boa.

Embora a prática do homossexualismo esteja ameaçando seria­mente a vida e o bem-estar de grande número de pessoas, os fautores desta corrente não desistem da sua ação e recusam levar em considera­ção as proporções do risco que ela implica.

A Igreja não pode despreocupar-se de tudo isto e por conseguinte mantém firme a sua posição clara a respeito, posição que não pode, cer­tamente, modificar-se sob a pressão da legislação civil ou da moda do momento. Ela se preocupa também, sinceramente, pelos muitos que não se sentem representados pelos movimentos pró-homossexuais e por aqueles que poderiam ser tentados a crer em sua propaganda engana­dora. Ela é consciente de que a opinião segundo a qual a atividade ho­mossexual seria equivalente à expressão sexual do amor conjugal ou, pelo menos, igualmente aceitável, incide diretamente sobre a concepção que a sociedade tem da natureza e dos direitos da família, pondo-os se­riamente em perigo.

7. Respeitar não é legitimar

10. É de se deplorar firmemente que as pessoas homossexuais te­nham sido e sejam ainda hoje objeto de expressões malévolas e de ações violentas. Semelhantes comportamentos merecem a condenação dos pastores da Igreja, onde quer que aconteçam. Eles revelam uma falta de respeito pelos outros que fere os princípios elementares sobre os quais se alicerça uma sadia convivência civil. A dignidade própria de cada pessoa deve ser respeitada sempre, nas palavras, nas ações e nas legislações.

Todavia, a necessária reação diante das injustiças cometidas contra as pessoas homossexuais não pode levar, de forma alguma, à afirmação de que a condição homossexual não seja desordenada. Quando tal afir­mação é aceita e, por conseguinte, a atividade homossexual é considera­da boa, ou quando se adota uma legislação civil para tutelar um com­portamento ao qual ninguém pode reivindicar direito algum, nem a igreja nem a sociedade em seu conjunto deveriam surpreender-se se depois também outras opiniões e práticas distorcidas ganham terreno e se au­mentam os comportamentos irracionais e violentos.

8. Culpabilidade atenuada

11. Alguns afirmam que a tendência homossexual, em certos ca­sos, não é fruto de uma opção deliberada e que a pessoa homossexual não tem outra alternativa, sendo obrigada a se comportar de modo ho­mossexual. Por conseguinte, afirma-se que, em tais casos, ela agiria sem culpa, não sendo realmente livre.

A este propósito, é necessário referir-se à sábia tradição moral da Igreja, que alerta para as generalizações no julgamento dos casos indivi­duais. De fato, em um determinado caso, podem ter existido no passado, e podem subsistir ainda, circunstâncias tais que reduzem ou até mesmo eliminam a culpa do indivíduo; outras circunstâncias, ao contrário, po­dem agravá-la. Em todo o caso, deve-se evitar a presunção infundada e humilhante de que o comportamento homossexual das pessoas homos­sexuais esteja sempre e totalmente submetido à coação e, portanto, seja sem culpa. Na realidade, também às pessoas com tendência homosse­xual deve ser reconhecida aquela liberdade fundamental que caracteriza a pessoa humana e lhe confere a sua particular dignidade. Como em toda conversão do mal, graças a tal liberdade, o esforço humano, iluminado e sustentado pela graça de Deus, poderá permitir-lhes evitar a atividade homossexual.

9. Abraçar a Cruz

12. Que deve fazer, então, uma pessoa homossexual que procura seguir o Senhor? Substancialmente, tais pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus na sua vida, unindo ao sacrifício da cruz do Senhor todo sofrimento e dificuldade que possam experimentar por causa da sua condição. Para quem crê, a cruz é um sacrifício frutuoso, pois daquela morte derivam a vida e a redenção. Ainda que se possa prever que qual­quer convite a carregar a cruz ou a compreender de tal forma o sofri­mento do cristão será ridicularizado por alguns, é preciso recordar que é este o caminho da salvação para todos aqueles que seguem o Cristo.

Não é outro, na realidade, o ensinamento transmitido pelo apóstolo Paulo aos Gálatas, quando diz que o Espírito produz na vida do fiel "a­mor, alegria, paz, paciência, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão e autodomínio" e mais adiante: "Não podeis pertencer a Cristo sem cru­cificar a carne com as suas paixões e os seus desejos" (Gál. 5, 22-24).

Todavia, este convite é facilmente mal interpretado, se é considera­do apenas como um inútil esforço de auto-renegação. A cruz é, sem dú­vida, renegação de si mesmo, mas no abandono à vontade daquele Deus que da morte faz brotar a vida e habilita os que nele depositam a sua confiança a praticarem a virtude em lugar do vício.

Só se celebra autenticamente o Mistério Pascoal quando se deixa que ele impregne o tecido da vida cotidiana. Recusar o sacrifício da pró­pria vontade na obediência à vontade do Senhor é, de fato, opor obstá­culo à salvação. Exatamente como a Cruz é o centro da manifestação do amor redentor que Deus tem por nós em Jesus, assim o fato de

confor­marem a negação de si mesmos ao sacrifício do Senhor constituirá para homens e mulheres homossexuais uma fonte de autodoação que os sal­vará de uma forma de vida que continuamente ameaça destruí-los.

As pessoas homossexuais, como os demais cristãos, são chamadas a viver a castidade. Dedicando-se com assiduidade a compreender a na­tureza do chamado pessoal que Deus lhes dirige, serão aptas a celebrar mais fielmente o sacramento da Penitência e a receber a graça do Senhor que, neste mesmo sacramento, se oferece para generosamente poderem converter-se mais plenamente ao seu seguimento.

10. A colaboração dos pastores

13. É evidente, por outro lado, que uma clara e eficaz transmissão da doutrina da Igreja a todos os fiéis e à sociedade no seu conjunto de­pende em grande parte do ensinamento correto e da fidelidade daqueles que exercem o ministério pastoral. Os Bispos têm a responsabilidade particularmente grave de preocupar-se de que seus colaboradores no ministério e, sobretudo, os sacerdotes, sejam corretamente informados e pessoalmente bem dispostos a comunicar a todos a doutrina da igreja na sua integridade.

São dignas de admiração a particular solicitude e a boa vontade demonstradas por muitos sacerdotes e religiosos, no atendimento pas­toral às pessoas homossexuais; esta Congregação espera que tal solicitu­de e boa vontade não diminuam. Estes zelosos ministros devem nutrir a certeza de que estão seguindo fielmente a vontade do Senhor quando encorajam a pessoa homossexual a levar uma vida casta e relembram a dignidade incomparável que Deus lhe deu também.

11. Acatar o Magistério

14. Considerando tudo o que precede, esta Congregação deseja pedir aos Bispos que sejam particularmente vigilantes com relação aos programas que, de fato, tentam exercer pressão sobre a Igreja a fim de que ela mude a sua doutrina, embora às vezes verbalmente neguem que seja assim. Um estudo atento das declarações públicas neles contidas e das atividades que promovem revela uma calculada ambigüidade, atra­vés da qual procuram desviar pastores e fiéis. Por exemplo, costumam citar o ensinamento do Magistério, mas somente como uma fonte facul­tativa na formação da consciência; sua autoridade peculiar não é

reco­nhecida. Alguns grupos costumam até mesmo qualificar de "católicas" as suas organizações ou as pessoas às quais pretendem dirigir-se, mas, na realidade, não defendem nem promovem o ensinamento do Magistério; ao contrário, às vezes, atacam-no abertamente. Mesmo reafirmando a vontade de conformar sua vida ao ensinamento de Jesus, de fato os membros desses grupos abandonam o ensinamento da Sua Igreja. Este comportamento contraditório de forma alguma pode receber o apoio dos Bispos.

12. Os programas pastorais

15. Esta Congregação encoraja, pois, os Bispos a promoverem, nas suas dioceses, uma pastoral para as pessoas homossexuais, plenamente concorde com o ensinamento da Igreja. Nenhum programa pastoral au­têntico poderá incluir organizações em que pessoas homossexuais se as­sociem entre si, sem que fique claramente estabelecido que a atividade homossexual é imoral. Uma atitude verdadeiramente pastoral incluirá a necessidade de evitar, para as pessoas homossexuais, as ocasiões próxi­mas de pecado.

Devem ser encorajados os programas em que tais perigos sejam evitados. Mas é necessário deixar bem claro que afastar-se do ensino da Igreja ou fazer silêncio em torno dele, sob o pretexto de oferecer um atendimento pastoral, não é forma legitima nem de autêntica atenção nem de pastoral válida. Em última análise, somente aquilo que é verda­deiro pode ser também pastoral. Quando não se tem presente a posição da Igreja, impede-se a homens e mulheres homossexuais de receberem o atendimento de que necessitam e ao qual têm direito.

Um programa pastoral autêntico ajudará as pessoas homossexuais em todos os níveis da sua vida espiritual, mediante os sacramentos e, particularmente, a freqüente e sincera confissão sacramental, como tam­bém através da oração, do testemunho, do aconselhamento e da atenção individual. Desta forma, a comunidade cristã na sua totalidade pode chegar a reconhecer sua vocação de assistir estes seus irmãos e irmãs, evi­tando-lhes tanto a desilusão como o isolamento.

13. As diversas dimensões da pessoa

16. Desta abordagem diversificada podem advir muitas vantagens, entre as quais não menos importante é a constatação de que uma pessoa homossexual, como, de resto, qualquer ser humano, tem uma profunda exigência de ser ajudada contemporaneamente em vários níveis.

A pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, não po­de definir-se cabalmente por uma simples e redutiva referência à sua orientação sexual. Toda e qualquer pessoa que vive sobre a face da terra conhece problemas e dificuldades pessoais, mas possui também oportu­nidades de crescimento, recursos, talentos e dons próprios. A Igreja ofe­rece ao atendimento da pessoa humana aquele contexto de que hoje se sente a exigência extrema, e o faz exatamente quando se recusa a consi­derar a pessoa meramente como um "heterossexual" ou um "homosse­xual", sublinhando que todos têm uma mesma identidade fundamental: ser criatura e, pela graça, filho de Deus, herdeiro da vida eterna.

14. Iniciativas prudentes

17. Apresentando à atenção dos Bispos estes esclarecimentos e orientações pastorais, esta Congregação deseja ajudar os seus esforços no sentido de assegurar que o ensinamento do Senhor e da Sua Igreja acerca deste importante tema seja transmitido integralmente a todos os fiéis.

À luz do que se acaba de expor, os Ordinários locais são convida­dos a avaliar, no âmbito da própria competência, a necessidade de parti­culares iniciativas. Além disso, se julgarem útil, poder-se-á recorrer a uma ação mais extensa, coordenada a nível das Conferências episcopais nacionais.

Os Bispos serão particularmente solícitos em apoiar, com todos os meios à sua disposição, o desenvolvimento de formas especializadas de atendimento pastoral às pessoas homossexuais. Isto poderia incluir a co­laboração das ciências psicológicas, sociológicas e médicas, mantendo-se sempre na plena fidelidade à doutrina da Igreja.

Os Bispos, sobretudo, não deixarão de solicitar a colaboração de todos os teólogos católicos, os quais, ensinando o que a Igreja ensina e aprofundando com as suas reflexões o significado autêntico da sexuali­dade humana e do matrimônio cristão no plano divino, como também das virtudes que este comporta, poderão desta forma oferecer um válido auxilio neste campo especifico da atividade pastoral.

Particular atenção deverão ter os Bispos, além disso, ao escolher os ministros a serem encarregados desta delicada tarefa, de modo que es­tes, graças à sua fidelidade ao Magistério e ao seu elevado grau de matu­ridade espiritual e psicológica, possam ser de real ajuda às pessoas ho­mossexuais, de forma que elas alcancem o seu.bem integral. Tais

minis­tros rechaçarão as opiniões teológicas que são contrárias ao ensinamento da Igreja e que, portanto, não podem servir como diretrizes no campo pastoral.

Será conveniente além disso promover adequados programas de catequese, baseados na verdade acerca da sexualidade humana, na sua relação com a vida da família, tal como é ensinada pela Igreja. Tais pro­gramas, com efeito, fornecem um ótimo contexto, dentro do qual pode ser abordada também a questão do homossexualismo.

Esta catequese poderá ajudar inclusive as famílias em que se en­contrem pessoas homossexuais, a enfrentar um problema que as atinge tão profundamente.

Deve ser retirado todo apoio a qualquer organização que procure subverter o ensinamento da Igreja, que seja ambígua quanto a ele ou que o transcure completamente. Tal apoio, mesmo só aparente, pode dar ori­gem a mal-entendidos graves. Uma atenção especial deveria ser dedica­da à programação de celebrações religiosas e ao uso, por parte desses grupos, de edifícios de propriedade da Igreja, inclusive a possibilidade de dispor das escolas e dos institutos católicos de estudos superiores. Para alguns, tal permissão de utilizar uma propriedade da Igreja pode parecer apenas um gesto de justiça e de caridade, mas, na realidade, ela contradiz às finalidades mesmas para as quais aquelas instituições foram fundadas, e pode ser fonte de mal-entendidos e de escândalo.

Ao avaliar eventuais projetos legislativos, dever-se-á pôr em pri­meiro plano o empenho na defesa e promoção da vida da família.

15. Conclusão

18. O Senhor Jesus disse: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (Jo 8,32). A Sagrada Escritura manda-nos realizar a verdade na caridade (cf. Ef. 4,15). Deus, que é ao mesmo tempo verdade e amor, chama a Igreja a pôr-se ao serviço de cada homem, mulher e criança, com a solicitude pastoral do nosso Senhor misericordioso. É com este espírito que a Congregação para a Doutrina da Fé endereça a presente Carta aos Bispos da Igreja, na esperança de que lhes sirva de ajuda no atendimento pastoral a pessoas cujos sofrimentos só poderão agravar-se por doutrinas errôneas, enquanto que a palavra da verdade os aliviará.

O Sumo Pontífice João Paulo II, no decurso da Audiência concedida ao Prefeito abaixo-assinado, aprovou e ordenou a publicação da presente Carta, decidida em reunião ordinária desta Congregação.

Roma, da sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 12 de outu­bro de 1986.

JOSEPH Card. RATZINGER

Prefeito

+ ALBERTO BOVONE
Arcebispo tit.
de Cesaréia de Numídia
Secretário

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NOTA:

[1] Os subtítulos devem-se a PR.

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