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segunda-feira, 23 de abril de 2007

Igreja, riquezas: as riquezas do Vaticano

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 302/1987)

A propósito das famosas riquezas do Vaticano, o jornal O GLOBO, em sua edição de 16/04/87, p.16, publicou as seguintes noticias muito es­clarecedoras:
"PATRIMÔNIO DO VATICANO É DE US$ 561 MILHÕES
CIDADE DO VATICANO - Em entrevista ao jornal especializado em assuntos econômicos "II Sole 24 Ore", o Cardeal Giuseppe Caprio, Pre­feito para Assuntos Econômicos do Vaticano (cargo equivalente ao de Ministro do Tesouro), revelou que o patrimônio total da Santa Sé, incluí­dos os imóveis e investimentos em ações, é de 561 milhões de dólares.
Ele esclareceu, no entanto, que mais da metade desse capital não só não produz renda, como dá prejuízos, tal como ocorre com as escolas e hospitais mantidos pela Santa Sé em Roma. Assim sendo, acrescentou, o patrimônio produtivo não ultrapassa os 269 milhões de dólares.
A entrevista foi dada a propósito do envio, no mês passado, de uma carta do conselho cardinalício encarregado de estudar os problemas fi­nanceiros do Vaticano, aos três mil bispos católicos de todo o mundo. Estes foram instados a sensibilizar os cerca de 800 milhões de católicos do planeta para a necessidade urgente de destinarem maiores quantias ao óbolo de São Pedro, a coleta feita anualmente a 29 de junho, destina­da especificamente à Santa Sé.
Dom Giuseppe Caprio classificou de fantasias as constantes afirma­ções sobre supostas riquezas do Vaticano, dizendo que, além desses exa­geros, os cálculos são feitos sobre uma base falsa, pois neles estão incluí­dos os tesouros artísticos. As pessoas que dizem isso - explicou - não le­vam em conta o fato de que tais tesouros são inalienáveis, e além do mais improdutivos, obrigando o Vaticano a gastar altas somas com sua guarda e conservação.
GRANDES TESOUROS ESTÃO À VISTA DE TODOS
Inalienáveis bens da Humanidade
Os maiores tesouros artísticos do Vaticano não estão escondidos, como muitas pessoas supõem, mas à vista de todos, na própria Basílica de São Pedro, como a "Pietà", ou na Capela Sistina, onde estão os famo­sos afrescos, criações, nos dois casos, de Michelangelo. Outras peças de valor impossível de ser sequer estimado são a "Transfiguração", de Ra­fael, ou o "São Jerônimo", de Leonardo da Vinci.
Embora o patrimônio artístico e arqueológico dos museus do Vati­cano possa ser comparado ao do Museu Britânico, ao do Metropolitan, de Nova York, e ao do Ermitage, de Leningrado, esse acervo, por disposi­ção da própria Santa Sé, que o considera patrimônio de toda a humani­dade, é inalienável.
Outros grandes tesouros, que igualmente jamais passarão para outras mãos, só podem ser vistos, contudo, por poucos religiosos e por um número ainda menor de leigos escolhidos. São documentos, pergami­nhos, miniaturas, Bulas papais e outros testemunhos de toda a história do Cristianismo até nossos dias. Compreensivelmente, eles estão encer­rados a seis metros abaixo do solo, em um aposento de 700 metros qua­drados, especialmente construído com espessas paredes de cimento ar­mado revestido de chumbo, à prova de ataques atômicos. Em outro "bunker" com as mesmas características, igualmente no subsolo, estão encerradas relíquias como manuscritos de São Pedro, Bíblias milenares escritas a pena por monges, uma edição da "Divina Comédia" com ilus­trações originais de Botticelli, as atas do Concílio de Trento e centenas de preciosidades do mesmo nível".
Até aqui a notícia de jornal. Clara como é, possa contribuir para dis­sipar falsas concepções, freqüentemente expressas às cegas, numa do­lorosa repetição de "chavões"!
***
A propósito faz-se oportuno lembrar alguns dados já referidos em PR 292/1986, p. 401:
1) As finanças do Vaticano estão passando por momentos difíceis, pois a Igreja tem desenvolvido e multiplicado seus serviços após o Concí­lio do Vaticano II, a ponto de sentir sério problema econômico. Assim pensemos na ajuda que a Santa Sé envia a todos os países de missão na África, na Ásia, na América; pensemos também nas muitas Comissões que se criaram em Roma nos últimos tempos para atender ao diálogo com os cristãos separados, com as religiões não cristãs, com os ateus, com os homens de cultura...; existem Comissões de Justiça e Paz, para o Apostolado dos Leigos, o Pontifício Conselho Cor Unum... Estas Comis­sões são internacionais, de modo que acarretam despesas de viagens, publicações, pesquisas, etc. Isto explica o aumento de gastos, sem que haja receita regular correspondente.
2) O patrimônio territorial que a Igreja possui (Cidade do Vaticano com museus, pinacotecas, basílicas...) resulta de doações que foram sen­do feitas à Santa Sé desde o século IV. Na Idade Antiga e na Idade Média muitos cristãos, ao morrer ou ao entrar no Mosteiro, doavam suas terras ao bispo de Roma (= o Papa). Em conseqüência, foi-se formando em torno da cidade de Roma o chamado "Patrimônio de São Pedro"; o Pa­pa, sem ser Chefe de Estado, garantia a boa ordem e a paz em favor dos habitantes daquelas terras, enquanto em outras regiões havia desordens e guerras causadas pelas invasões dos bárbaros (vândalos, godos, lom­bardos...). Finalmente em 756 Pepino o Breve da França reconheceu ofi­cialmente o Estado Pontifício, que se formara a partir do amor dos fiéis ao Papa, em conseqüência da tutela amiga que o Pontífice exercia em prol das populações vizinhas. Foi assim que surgiu o Estado Pontifício. Em 1870 este caiu, quando a Itália (que era um conjunto de pequenos Esta­dos independentes) foi unificada. Em 1929 foi restaurado o Estado Ponti­fício como o menor de todos os Estados existentes (= 0,44 km2); os Pa­pas não renunciaram a este minúsculo território porque lhes garante au­tonomia para exercer a sua missão pastoral, que atinge os fiéis do mundo inteiro. Que poderia fazer o Papa se estivesse sujeito ao controle de co­municações telefônicas, telegráficas e outras por parte do Governo da Itália? Por conseguinte, o Estado Pontifício hoje é uma herança legitima do passado, reduzido ao mínimo e destinado a servir à missão da Igreja.
O que está nos museus do Vaticano (quadros de Michelangelo, Ra­fael, Leonardo da Vinci, monumentos do Egito...) resulta do incentivo que os Papas sempre deram às artes, ou provém de doações. São um bem comum de toda a humanidade.
3) O cerimonial que cerca por vezes o Santo Padre, é legado de épocas distantes; teve sua plena razão de ser outrora, quando os costu­mes o exigiam; hoje em dia está sendo mais e mais simplificado; vemos o Papa tomando crianças nos braços, visitando hospitais, prisões, favelas, etc. - A Igreja, porém, julga que, para o culto divino (celebração da S. Missa, por exemplo), se deve sempre utilizar o que haja de melhor; não se trata de usar alfaias ricas, mas objetos dignos e capazes de exprimir eloqüentemente a fé e o amor dos cristãos a Deus.
4) Aqui no Brasil há dioceses que possuem terras, resultantes de doações feitas aos Bispos na época colonial; essas propriedades ajudam a exercer a missão da Igreja, que exige publicações, meios de comunicação social, escolas, templos, etc. Mas também (são a maioria) há dioceses muito pobres, que precisam de recursos de outras dioceses e organiza­ções para poder desenvolver a sua atividade pastoral. Sabemos como é difícil a vida de um Bispo ou de um sacerdote em muitas regiões do Bra­sil e da América Latina.

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