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terça-feira, 3 de abril de 2007

Deus: a criação, obra de Deus

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 425/1997)

Em síntese: Prosseguindo o debate iniciado no artigo anterior, vai abaixo publicado um artigo dos eminentes pesquisadores Prof. Walter González e Prof. Antônio R. Formaggio, ambos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Discorrem sobre uma tentativa de produzir a vida em laboratório, e concluem que a vida está além dos resultados das expe­riências científicas. Fica, pois, espaço para Deus Criador. Este não terá produzido cada criatura em sua modalidade consumada, mas terá incuti­do à matéria inicial, por Ele criada, as leis de sua evolução. - Quem qui­sesse apelar para o livro do Gênesis a fim de ridicularizar a fé e contrapor­-lhe a ciência, não teria entendido o significado do Livro Sagrado.

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O nosso artigo anterior procurou responder a um amigo que, em nome da ciência, acusava a religião de infantilidades e a julgava fadada a desa­parecer. Sem dificuldade, no rol das numerosas publicações sobre tal assunto, encontram-se vozes que, em nome da própria ciência, avivam o senso religioso e a fé em Deus Criador. Entre tais vozes, estão as dos Prof. Walter González, Consultor da NASA, e Antônio R. Formaggio, am­bos cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais; estudiosos capacitados como são, discorrem sobre uma das muitas tentativas de produzir a vida em laboratório; após considerarem declarações daí resul­tantes, concluem que a vida está além dos produtos de laboratório. Abre-­se então espaço para Deus Criador da vida e do mundo. Percebe-se, porém, que o Criador não produziu cada criatura em sua modalidade con­sumada, mas, tendo criado a matéria inicial, lhe terá incutido as leis de sua evolução; esta decorreu, como todo processo natural, com seus aci­dentes, mas dentro do quadro de harmonia geral prevista pelo Criador. Quem quisesse apelar para o livro do Gênesis a fim de ridicularizar a fé e contrapor-lhe a ciência, não teria entendido o significado do texto sagrado.

Reproduzimos, a seguir, o artigo dos dois pesquisadores intitulado "Criação, Obra de Deus", tal como foi publicado no O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 18/10/1994, artigo ainda mais atual em nossos dias do que na data em que foi dado a lume pela primeira vez.

A Criação, Obra de Deus

No artigo A Síntese de organismos vivos (20/9), José Goldemberg discute experiências feitas no Massachusetts Institute of Technology (MIT) sobre sintetização de materiais orgânicos a partir de substâncias quími­cas e tenta relacioná-las com pretensas explicações sobre a origem da vida sobre a Terra.

Infelizmente, essa não é a primeira nem a única tentativa de extrair conclusões tão abrangentes a partir de experimentos tão restritos! Esse tipo de atitude é inconveniente e contraria o verdadeiro método científico, que não permite extrair tais tipos de conclusões (teológicas e filosóficas) a partir de informações puramente restritas ao campo científico.

Considerar que as moléculas sintetizadas artificialmente têm vida unicamente pelo fato de que elas seriam "capazes de fazer cópias com­pletas de si mesmas" é um sério engano! Os cristais também fazem isso e, no entanto, não deixam de ser cristais! Um programa de computador pode fazer o mesmo e, apesar disso, não se pode considerar que ele tenha sido criado "à imagem e semelhança" do seu criador!

Depois do mapeamento do código genético, realizado por Watson e Crick, não se pode achar que a vida foi um acidente ocorrido num canti­nho do Universo! Afirmar que "uma das primeiras moléculas sintetizadas há bilhões de anos adquiriu a forma adequada para armazenar informa­ções, como o código genético faz", é infinitamente mais que esperar que se concretize a probabilidade de que um dentre trilhões de orangotangos, colocados frente a trilhões de pianos, componha a Quinta Sinfonia, de­pois de um número quase infinito de tentativas!

Os elementos inanimados da natureza não são capazes de se relaci­onar com o ambiente adjacente, não têm iniciativa, não têm o ciclo da vida (nascer, alimentar-se, crescer, reproduzir-se, morrer). Por si só, a simples agregação de substâncias orgânicas não resulta num ser vivo - a vida não se pode originar por iniciativa própria da matéria.

Mais ainda, como o próprio professor Goldemberg lembra, a existên­cia do Universo e das suas leis evolutivas globais não poderá ser vislum­brada com experiências como as do tipo MIT. Considerando que Deus criou o Universo e as leis que o regem, não será necessário pensar que Deus tenha de intervir também em cada fase evolutiva, deixando marcas para que o homem venha a descobri-las! Se assim fosse, haveria até uma contradição na atuação criadora global do Universo e das suas leis por parte de um Deus que teria de ir retificando a cada passo evolutivo o plano inicialmente por Ele criado.

Como em muitos outros artigos parecidos com o do professor Goldemberg, já bem conhecidos na literatura (por exemplo, aqueles freqüentemente apresentados por Carl Sagan), parece-nos que a causa do aparente conflito (apresentado apenas por estes cientistas) entre ciência e criação se refere ao inadequado entendimento do Livro do Gênesis. Esse livro não pode ser lido como um texto que narra detalhes científicos da criação (e que, assim, poderiam ser testados por experiências); po­rém, ele nos dá uma idéia global de que foi Deus quem criou todo o Uni­verso e as suas leis. Sobre os detalhes evolutivos (que, indubitavelmente, seguem as leis dadas pelo Criador), cabe à inteligência humana ir escla­recendo-os, sem necessariamente buscar a cada passo uma marca os­tensiva do Criador!

Neste fim de milênio, com os mais recentes avanços da cosmologia e da mecânica quântica, os mais sábios cientistas e pensadores se mos­tram humildes e reconhecem que "Deus não é da ordem da demonstra­ção" e, além disso, enfatizam uma espécie de aliança possível, uma con­vergência, entre a ciência (os saberes físicos) e as coisas de Deus. Esta aliança é, sem dúvida, um desejo profundo da humanidade e torna-se cada vez mais concreta, porém sem concessões à vulgaridade.

Deus jamais se contradiz e a ciência, bem conduzida, jamais chega­rá a conclusões contrárias à fé! A ciência ainda tem muito por fazer na exploração do Universo, e, como diz Robert Jastrow, astrofísico da Nasa, “o cientista escala as montanhas da ignorância e, quando se aproxima da rocha mais alta, preste a conquistar o cume, é saudado pelos teólogos que já lá estavam sentados há séculos!”.

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