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terça-feira, 13 de março de 2007

Aborto: e traumatismos psicológicos

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 413/1996)


Publicamos, a seguir, o artigo sobre as conseqüências psicológicas do aborto, da autoria do Dr. L. Clemente de S. Pereira Rolim, especialista em Clínica Médica pela AMB e pós-graduando da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESP-EPM. Endereço para correspondência: Rua Arthur de Azevedo 560, CEP 05404-001 São Paulo (SP); fone 852-3077; Fax 280-1722. CRM 54415 - Medicina Interna.

As observações do Dr. Pereira Rolim são de grande atualidade, pois dissipam graves ilusões relativas ao "aborto como solução". A experiência de numerosas mulheres que cometeram aborto, ensina que ele fere não somente a criança, mas também a mãe - e quiçá para o resto da vida -, provocando remorso por um ato cometido como pretenso alívio de uma situação indesejada.

INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ E SEQÜELAS PSICOLÓGICAS

Às vezes, pretende-se justificar o aborto como a única saída para situações angustiantes que uma gravidez não desejada pode trazer. Há inclusive alguns países que admitem a angústia da mulher como indica­ção para abortar. No entanto, a pior angústia vem depois do aborto. Esta é a conclusão a que chegou a Dra. Mary Simon, psicóloga da Clínica Ginecológica Universitária de Würzburg (ALEMANHA), em uma pesquisa publicada na conceituada revista DEUTSCHE TAGESPOST (4-VII-92).

É interessante constatar que os transtornos psicológicos causados pelo aborto são poucas vezes mencionados na literatura médica especi­alizada. Daí a razão deste artigo que, sem se ater a considerações morais ou éticas e sem chutometrias, visa a mostrar a realidade crua dos fatos. Os dados que são apresentados a seguir, foram todos obtidos de países onde o aborto é legal há mais de trinta anos e realizado nas melhores condições de higiene e assepsia, como é o caso da Inglaterra, da Checoslováquia, do Japão, da Alemanha e dos Estados Unidos. Além da referência supra citada, remetemos o leitor aos artigos relacionados na bibliografia.

TRANSTORNOS PSÍQUICOS

Basicamente, três tipos de fenômenos psíquicos ocorrem nas mulhe­res que fazem aborto:

Sentimentos de remorso e culpa (60% das mulheres);

Oscilações de ânimo e depressões (30 a 40%);

Choro imotivado, medos e pesadelos (35%).

Quanto ao sentimento de culpa, já tentaram atribuí-lo a crenças religi­osas. Certamente, há sentimentos de culpabilidade originados por convic­ções religiosas, mas a maior parte destes sentimentos posteriores ao aborto têm muito pouco que ver com a crença religiosa. O aborto viola algo de muito profundo na natureza da mulher. Ela é naturalmente a origem da vida e é normal que a mulher grávida esteja consciente de que cresce uma criança dentro dela. A mulher que aborta voluntariamente, sabe que ma­tou o seu filho. Não é, pois, de admirar o aparecimento de sentimentos de culpa, de autocensura e de estados depressivos.

Um psiquiatra sensato disse uma vez que é mais fácil tirar a criança do útero da mãe, do que fazê-la desaparecer do seu pensamento. Inclusi­ve em países de cultura não cristã, como o Japão (onde o aborto livre é legal há 42 anos), há estudos de grande amplitude, mostrando que 73% das mulheres que praticaram o aborto se sentiam "angustiadas" com o que tinham feito. Porém, voltando ao trabalho da Dra. M. Simon, o que mais chama a atenção, não são as seqüelas psíquicas que ocorrem pós­ aborto, mas sim os mecanismos que as mulheres desenvolvem para se libertarem dos seus complexos de culpa. Novamente três tipos de me­canismos ocorrem: repressão, projeção e confrontação. Vejamos cada um deles em particular.

Repressão

A Dra. Simon explica que 61% das mulheres que entrevistou, evi­tam pensar no aborto e reprimem estes pensamentos, desenvolvendo então sintomas de origem psíquica (psicossomáticos): dores de cabeça, verti­gens, tonturas e cólicas abdominais. Este fenômeno também é muito co­nhecido na medicina como somatização. É um dado significativo: em 70% das mulheres surgem pensamentos de como seriam as coisas se a cri­ança abortada vivesse agora, e 52% delas se incomodam ao verem mu­lheres grávidas, porque lhes recordam seus próprios filhos abortados.

Projeção

Aqui as mulheres projetam para outros a responsabilidade do próprio aborto. Em geral, são mulheres instáveis psiquicamente, mas, sobretudo, dependentes economicamente do pai da criança. Cedem à pressão do marido, do parceiro ou mesmo do ambiente, e abortam.

Posteriormente, quando culpam o marido pelo aborto, aparecem ver­dadeiras neuroses sexuais: sentimentos de ódio, frigidez e depressões caracterizam a convivência matrimonial-sexual de inúmeros casais que fizeram o aborto. Estatísticas recentes comprovam que, só nos Estados Unidos, 50% dos casais que fizeram aborto se separaram após o mesmo.

Muitas mulheres também acusam os médicos de não as ter informa­do o suficiente sobre as possíveis conseqüências psíquicas do aborto. Se soubessem, antes de abortar, dos riscos para sua saúde física e psíquica, não o teriam feito. No total, 45% das mulheres voltariam atrás se pu­dessem, pois consideraram sua anterior decisão de abortar prejudi­cial e equivocada.

Era freqüente, no questionário formulado pela Dra. Simon, ler res­postas do tipo: "atribuo aos que me rodeavam uma grande parte de culpa na minha decisão de abortar" ou "o pai da criança não a que­ria"; uma das pacientes declarou entre lágrimas: "os médicos decidiram sem contar comigo; assustaram-me, dizendo que a criança poderia nascer malformada. Se eu estivesse outra vez na mesma situação, levaria adiante a gravidez, mesmo que meu filho fosse um débil men­tal. É carne da minha carne e sangue do meu sangue: eu o amaria".

Confrontação

O terceiro e menor grupo de mulheres entrevistadas tenta recuperar seu equilíbrio psíquico, enfrentando conscientemente o fato do aborto, e conversam francamente com pessoas de sua confiança (abrem-se com uma amiga, a mãe, um psicólogo ou um médico), porém nunca com o médico que realizou o aborto. Em geral, tentam, primeiro, reconhecer sua culpa; não a reprimem nem a projetam sobre outros, e tampouco procu­ram justificar-se.

Depois, arrependem-se do que fizeram sentindo dor e tristeza pelo filho morto.

CONCLUSÕES

Os fatos comprovam que o aborto não é uma solução para dificulda­des psicossociais. Pelo contrário, após o aborto persiste a crise e se acres­centa o risco de novas e mais graves conseqüências psíquicas. Uma mu­lher que, em geral, reage emocionalmente de forma instável quando sub­metida a situações estressantes, responderá à tensão psicológica do aborto com anomalias psíquicas ainda mais fortes. Por isso, as adolescentes são mais propensas a desenvolverem seqüelas psicológicas após um aborto.

A envergadura da ruína psíquica que sobrevêm após o aborto, é muito maior do que se pensava antes. Portanto, pergunta-se: aqueles que de­fendem ou indicam o aborto, têm consciência do que realmente es­tão causando à mulher? Em todo o mundo, como conseqüência do gran­de número de abortos que se praticam, está aparecendo um exército de mulheres com graves neuroses pós-aborto.

Os países desenvolvidos começam a repensar suas leis abortistas. Para citar um exemplo, transcrevo a seguir parte de um manifesto assina­do por 35 personalidades americanas (o governador da Pensilvânia, Robert Casey; o médico da Universidade de Chicago, Prof. Leon R. Kass e inú­meros políticos e líderes religiosos das mais distintas confissões), publi­cado na revista FIRST THINGS (NEW YORK, NOVEMBER/92):

"...Após vinte anos de aborto sem restrições na sociedade ame­ricana, constata-se que a mortalidade infantil continua sendo uma das mais altas dos países industrializados; continua a haver cada vez mais casos de maus tratos às crianças (e mais graves); continu­am os abortos clandestinos... O aborto livre não satisfez a nenhuma verdadeira necessidade das mulheres, nem lhes devolveu a dignida­de. De fato, produziu exatamente o contrário: estimulou a irrespon­sabilidade dos homens e jovens, que encontram no aborto uma escu­sa fácil para fugir de suas obrigações; aumentou enormemente a ex­ploração das mulheres pela indústria do aborto... A licença para abor­tar não proporcionou liberdade nem segurança às mulheres..."

Como médico, sinto-me no dever de alertar as mulheres que pensam em abortar (principalmente as adolescentes) e também a todos os cole­gas que atendem a estas pacientes, lembrando umas palavras da Dra. M. Simon: "O aborto não somente aniquila uma vida humana ainda não nascida, mas também arruína a psique da mulher."

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1) Relatório Wynn: Margarett and Arthur Wynn. Some consequences of induced Abortion to Children Born Subsequently, Foundation of Education and Research in Child Bearing, London. 1975.

2) Klinger, A.: Demographic Consequences of the Legalization of Abortion in Eastern Europe. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 8: 680. 1970.

3) Kotasek, A.: Artificial Termination of Pregnancy in Czechoslovakia. Joumal of Sex. Research, 7:240. 1971,

4) Meyerowitz, S.; Satloff, A.; Romano, J.: Induced Abortion for Psychiatric Reasons. American Joumal ofPsychiatry, 127: 1153. 1971. 5) Hendricks-Matthews, M.: Psychological Sequelae from Induced Abor­tion: a Follow-up Study of Women Who Seek Post Abortion Counse­ling. Doctoral Dissertation. Ann Arbor, Michigan, University Microfims International. 1983.

6) Roa - A.: EI Embrión, lo Humano y lo Humanizado. Revista Médica de Chile, 120: 323. 1992. "

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Possam os leitores divulgar amplamente estes dados de importância capital neste momento de nosso Brasil. Não somente a fé os recomenda, mas também o bom senso e a solidariedade humana. Nos debates sobre o aborto não se levam na devida consideração tão momentosas observa­ções propostas por beneméritos pesquisadores.

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