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terça-feira, 1 de maio de 2007

Maçonaria: católico e maçom?

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 386/1994)


Em síntese: A Maçonaria atrai muitos homens não tanto por sua mensagem doutrinária quanto pela perspectiva de ajuda e promoção que ela oferece aos seus membros. Todavia a filiação à Maçonaria é considera­da pela Igreja Católica pecado grave, pois as concepções de Deus e religião, assim como o processo de iniciação secreta imposto aos novos membros contrariam as noções do Cristianismo relativas a Deus e aos sacramentos. - Ultimamente a Grande Loja Unida da Inglaterra declarou não se opor à Religião nem ter sacramentos e dogmas. É de notar, porém, que a Grande Loja Unida da Inglaterra não representa a Maçonaria toda; até hoje as Lo­jas Maçônicas são, todas, sociedades secretas, que têm seu rito de iniciação e suas "surpresas" para quem a elas se filia, “surpresas" que podem con­flitar com os princípios fundamentais do candidato. Ademais quem procu­ra a Maçonaria somente por causa das vantagens profissionais que daí po­dem provir, não será nem autêntico maçom, nem autêntico católico - o que não pode deixar de doer a quem tenha honra e brio.

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A questão das relações entre Catolicismo e Maçonaria se põe freqüen­temente, visto que muitos católicos são convidados a entrar na Maçonaria, onde julgam que desfrutarão de benefícios no plano econômico e profis­sional, sem prejuízo para a sua fé.

A questão parece assumir, em nossos dias, novos aspectos. Eis por que a consideramos mais uma vez em PR, já a tendo abordado em PR 171/1974, pp. 104-125; 179/1974, pp. 415-426; 254/1981, pp. 78-96; 258/1981, pp. 305-313; 259/1981, pp. 399-406; 291/1986, pp. 347-356; 369/1993, pp. 59-80; 373/1993, pp. 275-282.

1. A POSIÇÃO OFICIAL DA IGREJA

O último pronunciamento da Santa Sé a respeito da Maçonaria data de 26/11/1983, por ocasião da promulgação do atual Código de Direito Canônico. A Congregação para a Doutrina da Fé emitiu então a seguinte Declaração:

"Tem-se perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da Maçonaria pelo fato de que, no novo Código de Direito Canônico, ela não vem expressamente mencionada como no Código anterior.

Esta Sagrada Congregação quer responder que tal circunstância é devida a um critério redacional, seguido também quanto às outras associações igualmente não mencionadas, uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas.

Permanece, portanto, imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e, por isto, permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave, e não podem aproximar-se da Comunhão.

Não compete às autoridades eclesiásticas locais pronunciar-se sobre a natureza das associações maçônicas com um juízo que implique derrogação de quanto foi acima estabelecido, e isto segundo a mente da Declaração desta Sagrada Congregação, de 17 de fevereiro de 1981 (cf. AAS 73, 1981, pp. 240s).

O Sumo Pontífice João Paulo II, durante a audiência concedida ao subscrito Cardeal Prefeito, aprovou a presente Declaração, definida em reunião ordinária desta Sagrada Congregação, e ordenou a sua publicação.

Roma, da Sede da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 26 de novembro de 1983.

Joseph Card. RATZINGER
Prefeito

Fr. Jerôme HAMER O.P.

Secretário"

As razões da incompatibilidade entre Maçonaria e Catolicismo professada na Declaração acima são, entre outras:

A Maçonaria bifurca-se em Maçonaria Regular e Maçonaria Irregular. Esta última rejeita o apelativo e o conceito de Grande Arquiteto do Universo e se tem mostrado abertamente contrária à igreja Católica, promo­vendo campanhas contrárias à escola particular, à assistência religiosa nos hospitais públicos, nos quartéis, nos educandários.., Além disto, é a res­ponsável pela "Questão Religiosa" no Brasil (1871-1875), litígio entre o Governo e a Igreja, que redundou na prisão de dois Bispos contrários à Maçonaria: Dom Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, de Olinda-Recife, e D. Antônio de Macedo Costa, de Belém do Pará. Na América Latina a Maçonaria Irregular exerceu forte ação anticlerical; tenha-se em vista o México (ver PR 336/1990, pp. 238s). É dita "Irregular" precisamente por­que se afasta dos princípios tradicionais da Maçonaria como os concebeu o seu primeiro legislador, o pastor presbiteriano James Anderson em 1723.

A Maçonaria Regular professa a concepção de Deus dita "deísta", ou seja, a que a razão natural pode atingir; admite "a religião na qual todos os homens estão de acordo, deixando a cada qual as suas opiniões particu­lares". Esta noção de Deus e de Religião é vaga e não condiz com o pensa­mento cristão, que reconhece Jesus Cristo e as grandes verdades por Ele reveladas.

Além disto, tanto a Maçonaria Regular como a Irregular têm seu pro­cesso de iniciação secreta. Propõem o aperfeiçoamento ético do homem através da revelação de doutrinas reservadas a poucos e recebidas dos "grandes iniciados" do passado - entre os quais alguns maçons colocam o próprio Jesus Cristo. Celebram também ritos de índole secreta ou

esoté­rica, que vão sendo manifestados e aplicados aos membros novatos à me­dida que progridem nos graus de iniciação. - Ora um tal processo de for­mação contrasta com o que o Cristianismo professa: este não conhece verdades nem ritos reservados a poucos; nada tem de oculto ou esotérico.

Há, porém, algo de relativamente novo no horizonte, algo que parece mudar a situação.

2. A GRANDE LOJA UNIDA DA INGLATERRA

Em 1985 a Grande Loja Unida da Inglaterra, que é considerada a Mãe ou Matriz de todas as Lojas Maçônicas, declarou que “a Maçonaria não é uma religião, nem um substitutivo de religião", que "é aberta aos homens de todos os Credos", que "não existe um deus maçônico", mas "o maçom pode observar os compromissos assumidos em relação a Deus co­mo entendido na religião que ele professa", que "a Maçonaria não tem dogmas nem teologias", "não oferece sacramentos", "não procura a salva­ção através de obras, verdades secretas ou outros meios" e, por fim, que “a Maçonaria não é indiferente à Religião, e os seus ensinamentos morais são aceitáveis a todas as Religiões" (ver G. Di Bernardo, Filosofia della Massoneria, artigo Massoneria e Religione, pp. 77-79).

Estas afirmações são importantes e inovadoras em relação ao passado da Maçonaria. Todavia merecem algumas observações:

1) A primeira refere-se à origem dessa declaração encontrada na obra de G. Di Bernardo; é opinião do autor ou corresponde à orientação oficial e recente da Maçonaria da Inglaterra? Se é orientação oficial, convém que a Maçonaria no mundo inteiro o diga publicamente e demonstre de maneira concreta que ela não tem sacramentos nem constrange a liberdade religiosa de seus membros.

2) A Maçonaria inglesa, da qual faz parte a Grande Loja Unida da Inglaterra, é geralmente regular; conserva princípios tradicionais que respeitam a Religião. Pode ter assumido uma orientação liberal. Todavia pode-se crer que também a Maçonaria a Irregular, que se distanciou da Regular em meados do século XIX, tenha também assumido princípios mais condizentes com a Religião e seus requisitos?

3) Até hoje o processo de iniciação, com a revelação de sentenças e ritos à elite maçônica, é vigente no Brasil. A Maçonaria, em qualquer de seus ramos e Lojas, continua sendo uma sociedade secreta; ela sempre o foi, de modo que se descaracterizaria se deixasse de ser secreta ou praticar graus de iniciação reservados a uma elite. Essas etapas de iniciação fazem da Maçonaria uma espécie de religião, que se assemelha ao gnoticismo (estima da gnose ou do conhecimento superior) e ao esoterismo.

Eis por que continua a haver incompatibilidade entre Maçonaria e Catolicismo. Pode ocorrer que a Maçonaria, no futuro, se torne menos radical e severa. Por ora permanece em vigor a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé segundo a qual é ilícito a um católico filiar-se à Maçonaria; isto lhe acarreta a privação dos sacramentos, pois redunda em pecado grave.

Eis, porém, que alguém dirá que se filia à Maçonaria unicamente em vista de ajuda profissional e econômica, sem a intenção de absorver conceitos típicos das Lojas Maçônicas. A esse católico seria preciso lembrar que não seria nem autêntico maçom nem autêntico católico: não autêntico maçom, porque oportunista e desfrutador não plenamente integrado na Maçonaria; não autêntico católico, porque viveria em situação irregular perante a Igreja e o Senhor Deus, violando uma norma eclesiástica fundamentada em sérias pesquisas e experiências. Ora a falta de autenticidade e coerência é algo que não somente empalidece o nome de alguém, mas faz sofrer a quem tenha honra e brio.

Ademais, quem se filia a uma sociedade secreta, não pode prever o que lhe acontecerá, o que se lhe pedirá ou imporá; não sabe se lhe será fá­cil guardar sua liberdade de opções pessoais. Embora tencione manter fi­delidade a seus princípios íntimos, pode-se ver em encruzilhadas constran­gedoras. A fim de ilustrar esta afirmação, seja mencionado o seguinte tó­pico:

No Ritual de Iniciação do 13° grau do Rito Escocês Antigo e aceito, o Grão-Mestre lembra aos candidatos:

"Quando fostes iniciados na nossa Ordem, manifestastes a idéia de Deus segundo o vosso critério e em harmonia com as vossas crenças religio­sas. Ainda que aprovemos vossa maneira de pensar sobre este importante assunto, desejamos que amplieis aquelas primeiras opiniões sobre a exis­tência de Deus e queremos perguntar-vos se houve alguma mudança com relação ao que então dissestes, como conseqüência dos estudos maçônicos ou dos ditames de vossa consciência. Os maçons não podem fomentar a existência de Deus segundo o conceito comum das religiões positivas, já que neste caso teríamos que mostrar-nos partidários de uma ou outra cren­ça religiosa, e bem sabeis que isto seria contrário ao princípio da máxima liberdade consignado em nossos estatutos'

Na verdade, o Grande Arquiteto do Universo, para aqueles que o pro­fessam, é um Deus "deísta", vago, indefinido, impessoal, uma "força cons­trutora, ordenadora e evolutiva".

É para desejar que a declaração atribuída à Grande Loja Unida da In­glaterra signifique abertura crescente da Maçonaria ao Cristianismo, que está no berço da primeira Loja Maçônica fundada na Inglaterra em 1723.

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