(Revista Pergunte e Responderemos, PR 322/1989)
Em síntese: O presente artigo considera as principais teses do Marxismo e lhes formula um comentário, tentando demonstrar a inépcia dessa doutrina para atender aos mais genuínos anseios do ser humano. A cosmovisão marxista, materialista como é, não atinge o âmago do ser humano, que tem aspirações transmateriais, tendendo ao Absoluto e ao Infinito.
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Muitos pensadores, inclusive russos, dizem (forçando um pouco as
É certo que muitos daqueles que se dizem marxistas, nunca estudaram "O Capital" de Marx; muito menos leram o grande acervo de obras que cercam Karl Marx, como as de Hegel, Engels, Feuerbach... Trata-se de escritos de difícil leitura, redigidos no século passado, para os quais se requer tempo e certo preparo filosófico. Os marxistas geralmente professam o socialismo de Karl Marx não porque conheçam todo o seu pensamento, mas porque
aspiram à justiça social e julgam que Marx é o arauto de uma sociedade justa e digna.
Para facilitar o nosso estudo, proporemos sucessivamente sentenças marxistas, fiéis à mente de Marx, Feuerbach e sua escola. A seguir,
1. A Matéria
1.1. Marxismo: Tudo o que é real, é material. Existe somente a matéria. O que se chama 'espírito', não é mais do que o produto supremo (superestrutura) da matéria.
Comentário: Marx deixou-se impressionar excessivamente pela importância bruta da realidade material. Não levou em conta suficiente o fato de que, embora a matéria condicione o modo de pensar de muitos homens, em numerosos outros casos o pensar do homem é que plasma e condiciona a matéria. A carência de bens materiais pode até suscitar um modo de pensar mais livre (menos obcecado pelas coisas visíveis); a grandeza e a nobreza da pessoa podem desenvolver-se heroicamente na sobriedade de bens materiais - o que nem sempre acontece quando o homem é dominado pela obsessão de valores materiais. Diz-se até popularmente: "Quase tudo se fez de quase nada", isto é: as grandes façanhas e empresas da história nasceram em berço pobre e foram construídas a partir do ideal ou das idéias de seus respectivos autores; as idéias foram anteriores à matéria e a plasmaram.
Com isto não se quer dizer que o ideal do homem seja a penúria de bens materiais (deve-se propugnar a suficiência); mas quer-se dizer que existem valores imateriais, espirituais (o amor, a bondade, a dedicação a uma causa nobre, a gratuidade...), que dão feito à matéria e a condicionam em vez de ser condicionados por ela. Muitas vezes na história o idealismo de um homem, de uma mulher ou de um grupo sobrepujou a força bruta de estruturas materiais.
Passando para o plano da Filosofia, podemos dizer: o homem é capaz de conceber noções imateriais (que abstraem da matéria), como são as de justiça, direito, amor, bondade, verdade...; tais conceitos correspondem a realidades, mas não são conceitos materiais, visto que não representam objetos quantitativos e dimensionais.
Ora, se o homem é capaz de produzir noções imateriais, ele deve possuir dentro de si um princípio imaterial ou espiritual, dado que efeito e causa são proporcionados entre si. Tal princípio espiritual é o que se chama alma humana. Esta não é matéria, mas está unida à matéria do corpo, de modo a formar com este um só princípio de ação. Mais precisamente: a alma humana, tendo o seu intelecto, serve-se do cérebro para pensar, mas não é o cérebro.
1.2. Marxismo: A matéria é eterna, incriada e indestrutível.
Comentário: Se a matéria é eterna e incriada, ela é absoluta ou
Todavia tal afirmação é falsa, pois contém em si urna contradição: o Absoluto não evolui, não muda, pois toda evolução e mudança supõe
Ademais a ciência do século XX já ultrapassou a dos tempos de Marx (1818-1883); é freqüente hoje admitir-se o big bang ou uma explosão inicial, que deve ter ocorrido há 18 bilhões de anos aproximadamente. Além disto, verifica-se que o universo tende à neutralização ou à morte térmica de todas as suas energias (lei de entropia). O big bang ocorrido na matéria inicial suscita algumas perguntas: Por que existe a matéria? Donde vem ela, já que a matéria é imperfeita e evolutiva? Quem lhe deu as leis da sua evolução? Por que essa evolução segue uma linha sempre ascendente? - A evolução é finalista ou obedece a uma finalidade, que a polariza.
Estas perguntas nos levam a admitir um Ser Inteligente e Sábio,
Mais: se a matéria mesma fosse absoluta e eterna, ela deveria conter em suas mínimas partículas originárias inteligência e liberdade de opção, pois ela teria programado com suma sabedoria e precisão o gigantesco processo de sua evolução. Este, tendo começado há 18 bilhões de anos, passou pela origem da vida há 3 bilhões de anos, pela dos vertebrados há 500 milhões de anos, pela dos primatas há 70 milhões de anos e pela do homem
2. Religião e Moral
2.1. Marxismo: "A religião é o ópio do povo" (Marx). É elemento ideológico, que as classes dominantes impõem às dominadas para que se
Comentário: A religião é a atitude que decorre da tomada de consciência de que a existência de seres relativos, volúveis e contingentes exige a de um Ser Absoluto e Necessário. Este Ser Absoluto é Inteligência e Amor, fonte da inteligência e do amor encontrados nas criaturas.
A tomada de consciência de que esse Ser Absoluto (Deus) existe, suscita um relacionamento chamado religião. Esta não é alienante nem destruidora dos valores humanos; ao contrário, é a única atitude capaz de dar ao homem um sentido de vida ou razões sólidas para viver, trabalhar, amar e ter esperança. Diz o Concílio do Vaticano II:
“A Igreja sustenta que o reconhecimento de Deus não se opõe de modo algum à dignidade do homem, já que esta se fundamenta e se aperfeiçoa no próprio Deus.... A Igreja ensina, além disto, que a esperança escatológica não diminui a importância das tarefas terrestres, mas, antes, apóia o seu cumprimento com motivos novos. Faltando, ao contrário, o fundamento divino e a esperança da vida eterna, a dignidade do homem é
prejudicada de modo gravíssimo, como se vê hoje com freqüência; e os enigmas da vida e da morte, da culpa e da dor continuam sem solução; assim os homens muitas vezes são lançados ao desespero" (Const. Gaudium et Spes n° 21).
A concepção de que a religião é ópio do povo baseia-se em deformações ou caricaturas de religião, que infelizmente têm ocorrido na prática de
2.2. Marxismo: As normas morais fazem parte de superestrutura
Comentário: As normas morais se baseiam, em última análise, não no sistema econômico, mas na própria dignidade da pessoa humana. Esta traz em si a lei natural ("não mates, não roubes, respeita pai e mãe..."), que dita os princípios aptos a garantir a realização e evitar a destruição da pessoa humana. Essa lei natural existe em todos os homens igualmente, sem referência às respectivas condições econômicas ou sociais; assim será sempre moralmente mau violar o direito do homem à vida, à boa fama, à livre informação, à locomoção... A lei natural está impregnada no próprio ser do homem por obra daquele que o criou (Deus) e o chama, desta maneira, à plenitude da vida e da felicidade.
Por mais nobre que seja o ideal acariciado por alguém, o fim não justifica todos os meios, pois há meios que são, em si mesmos, imorais e indignos; o seu emprego desfigura a pessoa humana como tal.
3. O Homem
3.1. Marxismo: A evolução da matéria leva ao surto do homem. Este fato tornou-se possível graças ao trabalho. Trabalhando, os macacos tomaram uma posição erecta, ficando com as mãos livres. O trabalho coletivo provocou a necessidade da linguagem. Os homens fabricaram ferramentas; tornaram-se carnívoros; donde resultou o desenvolvimento do cérebro. Posteriormente domesticaram os animais, instituíram a agricultura, a pequena indústria, o comércio, a navegação, a arte, a ciência, a religião, a política, o direito, o idealismo...
Comentário: Deve-se reconhecer que as diferenças morfológicas existentes entre os primeiros homens e os antropóides são de pouca monta. Mas o homem, desde o limiar de sua existência na pré-história, tem expressões psicológicas inéditas, que bem o distinguem dos não-homens: assim a
Mais: o homem - e só o homem - é capaz de formular conceitos abstratos e universais (justiça, honestidade, amor...); ele pode realizar raciocínios, estabelecer relações e proporções, deduzir e induzir, inventar, produzir a ciência, as artes, o direito, a política..., em suma: a civilização. Além disto, possui a faculdade de ser livre ou a possibilidade de autodeterminação entre
Ora, como dito, grande parte de tais funções são imateriais, não sujeitas ao determinismo material ou ao espaço e ao tempo. Por isto não podem ser produzidas por um princípio material. Só podem ser explicadas pela presença do espírito ou de uma alma espiritual no homem.
Por sua vez, o espírito, sendo imaterial, não pode ser oriundo da matéria, pois o efeito é sempre proporcionado à causa; a matéria é um ser determinado, limitado, essencialmente diverso do espírito. Por conseguinte, conclui-se que a alma humana é criada diretamente por Deus.
Na base destas reflexões, deve-se dizer que o homem começou a existir na face da Terra quando Deus criou o espírito ou a alma humana e a infundiu nos primatas irracionais.[2] O ser humano assim constituído foi tomando contato com o mundo e desenvolvendo suas numerosas possibilidades de conhecer, querer e amar.
Somente por recurso a este raciocínio filosófico se podem explicar o aparecimento e a implantação do homem com suas potencialidades sobre a Terra. Os marxistas apresentam apenas uma descrição dos fenômenos ou das expressões progressivas do homem sem explicar adequadamente por que apareceram tais fenômenos especificamente humanos.
3.2. Marxismo: O homem é essencialmente um ser de necessidades materiais (comer, beber, vestir-se, defender-se...). Para satisfazer-lhes, elabora seus produtos e assim procura saciar-se. Vai melhorando cada vez mais a qualidade de seus artefatos materiais - o que explica o progresso da civilização.
Comentário: Não se pode adequadamente definir o homem apenas como "um ser de necessidades materiais". É claro que todo ser humano, desde que nasce, experimenta carências materiais básicas, como as de comer, beber... Mas, ainda que tenha essas lacunas preenchidas, ele é inquieto e sequioso de algo mais; ele quer sempre superar-se ou ultrapassar a si mesmo em demanda do desconhecido (uma expressão deste anseio são as viagens de exploração do Universo através de foguetes espaciais).
Conforme bons psicólogos, a necessidade mais fundamental do ser humano é a de conhecer o sentido da vida, os porquês e para quês do existir, do trabalhar, do sofrer, do ter esperança...; quem não sabe por que vive, por que trabalha e sofre, pode também desinteressar-se do comer e beber ou da conservação da própria existência; nos campos de concentração muitos dos prisioneiros que não viam sentido em sua vida ou que haviam perdido toda esperança, deixavam-se morrer nas pranchas de dormir sujas e anti-higiênicas, ainda que espancados e maltratados...
Os homens primitivos podem ter tardado em descobrir suas exigências mais profundas; nisto assemelhavam-se às crianças. Estavam numa fase inicial de desenvolvimento. Todavia já se lhes aplicava a definição de Aristóteles
(+
encontram-se pinturas e artefatos que exprimem o pensamento racional do próprio homem das cavernas.
Os cristãos sabem que o vivente racional foi por Deus chamado a ser "Filho de Deus" (cf. GI 4,6; Rm 8,15). Isto quer dizer: a pessoa humana tem um componente corpóreo com suas qualidades próprias; tem outrossim um componente espiritual (ao qual se há de subordinar o corpóreo) e a
4. 0 Trabalho
4.1. Marxismo: O trabalho é o elemento primário gerador de
humanismo. E isto por dois motivos: 1) cria produtos que saciam as necessidades humanas; 2) desenvolve as faculdades do homem. Por isto o trabalho é o feito primário, radical e originante da história.
Comentários: Sem dúvida, o trabalho é um dos elementos mais importantes para a auto-realização da pessoa. É, sim, mediante o trabalho que o homem coopera para a evolução e o aperfeiçoamento da Terra e da humanidade.
impõem-se, porém, duas observações:
a) por trabalho não se deve entender apenas o produtivo, industrial ou comercial, mas também toda atividade que encaminhe à elevação e ao
b) o trabalho é um dos fatores criadores da história, mas nem sempre o mais importante. Deve-se dizer que o elemento mais profundamente gerador de verdadeiro humanismo é o amor, entendido como atitude, de ajuda e serviço desinteressado aos demais homens. Ora é de notar que a palavra "amor-serviço" não faz parte do vocabulário marxista típico, ao passo que "luta, ódio, guerrilha, revolução violenta..." são termos clássicos do linguajar marxista.
4.2. Marxismo: A família é conseqüência do impulso sexual, que procura seu objeto natural. No estádio mais antigo da humanidade, existia
promiscuidade sexual. Depois, originou-se a família poligâmica e comunitária. Quando começou o regime da propriedade particular, apareceu o matrimônio monogâmico, pois o homem quis saber exatamente quem eram seus filhos para transmitir-lhes as suas riquezas como herança. O homem fez da mulher a sua propriedade particular. Constituiu-se assim a família patriarcal, em que o homem era o senhor e os demais membros, inclusive a esposa, eram escravos. Quando a propriedade particular desaparecer, extinguir-se-á a família monogâmica e as uniões sexuais durarão apenas enquanto durar o amor.
Comentário: As pesquisas antropológicas modernas refutam a tese acima, que data do século passado. Demonstram que a família apareceu de formas múltiplas, não podendo ser reduzida a um só modelo para todos os povos. Deve-se até dizer que a família monogâmica é, em muitas tribos, anterior à poligamia e independente de fatores econômicos; não está ligada à propriedade particular.
Aliás, a antropologia filosófica, levando em conta todos os dados da realidade humano-social, verifica que o matrimônio monogâmico é a modalidade natural da família; somente na família monogâmica e estável são garantidas a auto-realização dos cônjuges e a devida educação dos filhos. O amor que une os esposos, há de ser entendido não apenas como atração
4.3. Marxismo: Se um homem tira de outro os produtos do seu trabalho e os acumula, dá origem à propriedade particular e à conseqüente divisão da sociedade em dominadores e dominados. Disto decorrem todos os males da sociedade capitalista. O proletário é reduzido à miséria ou à condição de máquina, ao passo que o capitalista se aliena na posse do dinheiro.
Comentário: Deve-se reconhecer que a propriedade particular, em vários casos, teve e tem origem na apropriação injusta de bens alheios. Disto, porém, não se segue que a propriedade particular tenha sido e seja sempre injusta. Ao contrário, a propriedade particular, quer de bens de consumo, quer de meios de produção, é direito natural da pessoa, a vários títulos:
a) é a expressão e o produto próprio da inteligência e do engenho do indivíduo, que é anterior à comunidade;
b) é fator necessário para estimular o trabalho e a criatividade; sem o quê, pode o trabalhador perder o interesse pelo que faz;
c) é penhor de liberdade e independência da pessoa humana;
d) é garantia de segurança da pessoa, da família e da sociedade;
e) por direito natural também, a propriedade particular há de ser orientada ao serviço do bem comum; sobre ela pesa uma hipoteca social.
Em nossos dias, a posse particular de bens é minuciosamente
5. Economia
5.1. Marxismo: O regime capitalista está baseado na mais-valia. Com efeito; o capitalista aluga a força de trabalho do proletário e lhe paga um
Comentário: A teoria marxista da mais-valia não resiste a um exame mais atento. Com efeito; o valor de determinado produto não se deve apenas ao trabalho, mas também à natureza ou à matéria bruta sobre a qual o homem trabalha; há mesmo valores independentes do trabalho. O próprio Marx reconhece: "O trabalho não é a única fonte dos valores de uso produzidos por ele ou na riqueza material. Ele é o pai, e a terra é a mãe" (O Capital). Por conseguinte, o valor de determinada mercadoria deve ser distribuído entre o trabalho e o capital.
Para mostrar que a teoria da mais-valia (ou teoria de que o lucro é
Um capitalista fornece água a um estabelecimento. Para acionar a bomba que lhe pertence, emprega dois homens, que abastecem o estabelecimento com x litros de água por dia. Neste contexto, conforme a teoria marxista, há uma mais-valia que representa precisamente o lucro do capitalista. Se, porém, este substituir os dois empregados por dois cavalos, que conseguem, graças ao seu maior vigor, fornecer duas vezes mais litros de água, o lucro obtido pelo capitalista será mais elevado; apesar disto, não havendo mais trabalho humano, não haverá mais-valia no sentido marxista. Contudo o serviço prestado será indubitavelmente mais útil; por isto terá um valor de troca (preço) superior, embora a mais-valia tenha desaparecido. - Donde se vê que o valor de troca não está necessariamente ligado ao trabalho e pode existir sem que haja qualquer mais-valia. É certo também que o capital se pode aumentar sem exploração do trabalhador; isto se dá mediante convênios que complementam duas ou mais indústrias ou lojas entre si, mediante o aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho, pelo engenho, a constância e a perspicácia dos proprietários, pelo aproveitamento de oportunidades.
De resto, os próprios Governos comunistas, embora neguem o regime da mais-valia, praticam-na de forma velada, caindo assim em evidente
Verifica-se, aliás, que nos países comunistas continua a vigência do
Note-se também que nos países comunistas se restaura a classe dominante, que é a dos governantes e seus colaboradores. Na Rússia Soviética, chama-se Nomenklatura, cujo funcionamento é descrito por Michael Voslensky no livro Nomenklatura. Os privilegiados na URSS, comentado em PR 265/1982, pp. 483-498. Ver também a obra de Milovan Djillas, A nova Classe. Ed. Agir, Rio de Janeiro.
5.2. Marxismo: A concorrência de capitalistas contra capitalistas fará que os mais poderosos destruam os mais fracos. Assim diminuirá cada vez mais o número de capitalistas. Em conseqüência, também aumentará o número de proletários explorados, que, tornando-se multidões, ganharão enorme poder para derrubar o capitalismo. Por conseguinte, este se autodestruirá por efeito de sua própria lógica.
Comentário: A história ou o processo de desenvolvimento industrial
O fato de que as previsões marxistas relativas à autodestruição do
5.3. Marxismo: A sociedade é superior à pessoa. O homem só alcança a sua realização como membro de uma sociedade civil. O sujeito de direitos e deveres é a sociedade; é também ela o sujeito da liberdade. O indivíduo recebe da sociedade seus direitos, seus deveres e sua liberdade.
Comentário: Aqui temos uma expressão típica do coletivismo marxista, que é capaz de sufocar o indivíduo em benefício, presumidamente, da
Em perspectiva cristã, afirma-se que a pessoa humana é anterior e superior à sociedade. Independentemente da sociedade, ela é o sujeito primeiro da liberdade, dos direitos e dos deveres. Estes não lhe são outorgados pela coletividade, mas derivam-se da própria índole da pessoa, que o Cristianismo diz ser imagem e semelhança de Deus. Verdade é que á pessoa precisa da
As relações que ligam os homens entre si, são dos mais diversos tipos: relações de amor, família, defesa, expressão artística, expressão religiosa,
5.4. Marxismo: A estrutura do homem e da sociedade consta unicamente de bens materiais. Essa estrutura gera as suas superestruturas, que são
superestruturas são todas relativas e oscilam em função da distribuição dos bens materiais ou da economia.
Comentário: Os fatores econômicos, como dito, não são necessariamente decisivos na vida da sociedade. Esta não tem uma causa única do seu desenvolvimento. Pode-se dizer que a sociedade e a história são movidas por vasto complexo de elementos, ora dependentes, ora independentes uns dos outros. Muitos movimentos "revolucionários" da história tiveram na sua
Em última análise, a sociedade e a história têm como ator básico o ser humano, que não está sujeito ao determinismo ou a leis necessárias, mas é criativo e livre; o homem é um sistema de fatores múltiplos, que se
combinam imprevisivelmente. Por isto torna-se difícil - se não impossível - estabelecer leis fixas e determinantes do processo histórico.
Contra o relativismo jurídico, moral e religioso (relativismo devido à oscilação dos fatores econômicos), deve-se afirmar que muitos dos
A inteligência humana é precisamente a faculdade de intus-legere ou de ler as linhas essenciais e permanentes da realidade; na base deste exercício, ela formula princípios objetivos, necessários e universais, que explicitam os valores permanentes do homem. Sirva de exemplo, como dito, a Declaração dos Direitos Humanos.
5.5. Marxismo: A história, movida por fatores econômicos, desenvolve-se em cinco grandes etapas, que são: coletivismo pré-histórico,
Comentário: A história humana tem-se desenvolvido de modos muito diversos nos vários continentes, visto que depende de fatores múltiplos e
divisão marxista em cinco etapas é excessivamente simplificadora da realidade, apoiando-se, em última análise, num falso determinismo econômico. O curso atual da história, nos países mais desenvolvidos em todos os sentidos, leva a crer que a humanidade não caminha para o comunismo, mas para sistemas sócio-econômicos que procuram conjugar a liberdade e a dignidade da pessoa humana com formas de colaboração social e comunitária.
De resto, a etapa comunista assinalada por Marx não parece ser senão um sonho romântico absolutamente inexeqüível. Os países que têm feito a experiência do marxismo, em vez de se encaminharem mais e mais para o comunismo, distanciam-se progressivamente deste e reassumem instituições rejeitadas por Marx; tenham-se em vista a Rússia, a China, a Hungria... A abolição da propriedade particular, a supressão das classes, o
desaparecimento do Estado, a supressão do dinheiro, da polícia, dos tribunais... são teses utópicas, nas quais ninguém acredita com seriedade. A natureza humana, boa como tal, é marcada por tendências à desordem (pecado original!) - orgulho, avareza, ódio, injustiça -, das quais só os mais santos conseguiram libertar-se. Os bens materiais e os fatores econômicos excitam a cobiça, o hedonismo, a ganância... É, antes, a elevação do homem no plano espiritual que o torna morigerado e santo.
Ademais pergunta-se: conforme Marx, a história procede segundo o ritmo de tese, antítese e síntese (que é o da dialética da matéria), pois a realidade é essencialmente dialética. Ora não será que a própria etapa comunista, uma vez atingida, será superada pela lei da dialética? Esta não deverá recomeçar o processo de antítese e síntese (nova)? Caso alguém responda que não, concluir-se-á que a realidade não é essencialmente dialética.
6. Conclusão
Acabamos de percorrer os traços principais do marxismo ortodoxo, verificando que não se sustentam, como, aliás, a própria experiência de mais de setenta anos evidencia. Nas raízes da ideologia marxista existe a sadia
aspiração à justiça social. O Cristianismo compartilha este mesmo anseio, mas desenvolve-o em direção diferente, penetrando mais fundo dentro da problemática: sim, o homem é um mistério, um ser material que não é apenas matéria, mas tem um quê de transcendente ou de espiritual. Somente quem respeita este aspecto da pessoa, pode responder satisfatoriamente aos seus anelos. Por isto a Igreja elabora a sua Doutrina Social (formulada nas Encíclicas papais), que procura tirar diretamente do Evangelho as normas do autêntico comportamento do homem
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NOTAS:
[1] Cf. Carlos Valverde, Tesis de Marx. Tesis sobre Marx. Cuadernos BAC no 65. Madrid (Mateo Inurria 15, Madrid 16) 1983.
Paul-Eugene Charbonneau, Marxismo e Socialismo Real. Ed. Loyola, São Paulo 1984.
[2]Ver pp. 123s. 126s deste fascículo.
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