Não há dúvida, porém, de que a fé dos católicos na real presença de Cristo eucarístico não se fundamenta sobre tal episódio, mas, sim, sobre as afirmações da S. Escritura e da Tradição, que o magistério da Igreja sustentou inabalavelmente através dos séculos. Lanciano, para quem tenha a evidência dos fatos, vem a ser ilustração da verdadeira fé.
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Comentário: Alguns leitores de PR enviaram a esta revista o texto que se segue, referente a Lanciano e à S. Eucaristia, pedindo a sua publicação. A redação de PR não se furta a difundir tal artigo. Verdade é que a fé dos católicos na real presença de Cristo eucarístico não se funda propriamente sobre o episódio narrado, mas, sim, antes do mais, sobre os textos da S. Escritura interpretados pela Tradição oral e pelo magistério da Igreja. Mesmo sem Lanciano a fé seria sólida e inabalável, porque baseada com muita clareza sobre os mais firmes alicerces da Revelação Divina, como se demonstra no artigo deste fascículo às págs. 118-128. Lanciano, para quem tenha a evidência dos fatos, vem a ser ilustração das verdades da fé.
LANCIANO E A FÉ EUCARISTICA
1. O núcleo
Lanciano é uma pequena cidade da Itália, na província dos Abruzos. Foi ali que, no século oitavo, há 1.200 anos, deu-se um milagre extraordinário na Igreja de São Legociano, durante a celebração da Santa Missa. Um monge basiliano daquele convento começou a duvidar se na Hóstia estaria verdadeiramente o Corpo de Cristo e no Cálice, o Seu Sangue. Foi então que se realizou o milagre. A Hóstia grande tornou-se repentinamente Carne e o vinho consagrado mudou-se em Sangue, verdadeiro Sangue, que coagulou e se dividiu em cinco glóbulos de forma e tamanhos diferentes. O monge, atônito, ainda pensou em esconder o prodígio, mas, perante a realidade do caso extraordinário, confessou a sua falta de Fé e o milagre com que o Senhor viera confirmá-lo.
Hoje, a 1.200 anos de distância, as relíquias sagradas mantêm-se bem conservadas e praticamente intactas. A Carne, guardada entre dois cristais, tem a forma de Hóstia Redonda, com seis centímetros de diâmetro, mais grossa nos bordos que no centro, onde há um pequeno espaço vazio. No meio da Carne, vislumbram-se algumas manchas brancas de finíssima espessura, restos das primitivas espécies do pão. A Carne aparece de cor castanho-escuro, que se torna rosada quando se coloca uma luz por trás do relicário. O Sangue, coagulado, tem uma cor vermelho-escura e é formado por cinco gotas diferentes e separadas com o peso total de
A antiga igreja de São Legociano, que alguns identificam com São Longino (o oficial romano que trespassou o Coração de Cristo, originário de Lanciano), foi substituída pela atual, dedicada a São Francisco; é aos franciscanos que ela pertence.
Os Papas enriqueceram-na com privilégios, dum modo particular Leão XIII, que, em 1887, concedeu «in perpetum» (para sempre) indulgência plenária a todos os fiéis que visitarem este Santuário nos oito dias anteriores à festa anual, que cai no último domingo de outubro. Os fiéis, no decurso dos tempos, porfiaram em enriquecer e embelezar tanto o altar como o Sagrado Relicário, que, na forma atual é de prata dourada, foi inaugurado em abril de 1773 e mede
2. Os exames científicos: conclusões
Repetidas vezes, no decorrer dos séculos, fizeram-se exames e reconhecimentos das Sagradas Relíquias, dum modo particular em 17 de fevereiro de 1574, e em
Nos nossos tempos, de tanta crítica e de dúvidas, exigia-se um estudo rigoroso e científico. Para isso, no dia 18 de dezembro de 1970, às 9 horas e 30 minutos, o Relicário foi trazido do altar para a sacristia e colocado em cima de uma mesa coberta de panos brancos. Com licença da Santa Sé, o arcebispo de Lanciano, Dom Pacífico Perantoni, na presença de vários sacerdotes, concedeu ao Dr. Oduardo Linoti, professor de Anatomia, Histologia Patológica e de Microscopia, e Diretor Clínico dos Hospitais Reunidos de Arezzo, autorização para proceder ao exame científico das Sagradas Relíquias.
Cortados os selos e abertas as redomas, o Prof. Linoti cortou com uma tesoura pequeníssimas partes da Carne e do Sangue coagulado, que levou para estudo nos laboratórios da Faculdade de Medicina na Universidade de Sena. Depois de rigorosos e minuciosos exames radiológicos, anatômicos e histológicos, em que foi ajudado por vários analistas, sobretudo pelo Dr. Rugério Bertelli, professor de Anatomia da mesma Universidade, chegou às conclusões que apresentou em sessão pública no dia 4 de março de 1971, na igreja de São Francisco. Estavam presentes o arcebispo, párocos, superiores de casas religiosas, presidente da Câmara, autoridades civis, judiciárias, militares e acadêmicos, vários médicos e muito povo. Eis as conclusões:
A carne é verdadeira carne, o Sangue é verdadeiro sangue.
A Carne é tecido muscular do coração (miocárdio).
O Sangue e a Carne são de pessoa humana.
A Carne e o Sangue são do mesmo grupo sangüíneo (AB),
o que indica tratar-se duma mesma pessoa.
5. O diagrama do Sangue corresponde a sangue humano, fresco, tirado de um corpo humano, NAQUELE MESMO DIA.
6. Nem na Carne nem no Sangue foram encontrados quaisquer preparados para os preservar da corrupção. São carne e sangue simples, naturais.
7. A conservação destas relíquias, deixadas no seu estado natural durante tantos séculos e expostas à ação de agentes físicos, atmosféricos e biológicos, é fenômeno que não tem explicação.
Antes ainda de se tornar públicas as conclusões, os peritos que intervieram nas análises, enviaram telegrama ao Superior dos franciscanos de Lanciano: «Et Verbum Caro factum est», i.é. «E o Verbo se fez Carne». Brilhante ato de fé.
Pela primeira vez, no decurso da História, ao menos quanto ao milagre eucarístico de Lanciano, a ciência, dotada de meios excepcionais e precisos, oferece-nos dados categóricos e decisivos que confirmam a validade e a certeza sobre o milagre. Foi lavrada uma ata com o relatório médico e conclusões científicas e tiradas várias cópias. Uma delas foi entregue ao Santo Padre, Paulo VI, outras ao arcebispo da diocese, às Cúrias Generalícia e Provincial dos Frades Franciscanos.
Depois de tornados públicos os resultados, os peregrinos acorreram cada vez mais numerosos, a contemplar e venerar o Corpo e o Sangue de Cristo. Tão espantoso milagre é mais uma prova do que sabemos pela fé: que na Consagração o pão deixa de ser pão para se tornar Corpo de Cristo e o vinho deixa de ser vinho para se tornar o Sangue de Cristo. Em Lanciano aparece um sangue VIVO, atualmente vivo, porque análises mostraram o sangue como se fosse tirado, naquele momento, de uma pessoa viva, e não de um cadáver. E uma prova de que Jesus ressuscitou, pois sua Carne que está na Eucaristia não é de um morto, mas de um ser vivo. E carne viva, gloriosa, de Deus vivo e glorioso. Comenta o escritor francês Jean Ladame:
«Há um fato que me impressiona ainda mais: a carne que se conserva no Relicário é carne do Coração. Não a de uma outra parte do corpo adorável de Jesus, mas do músculo propulsor do Sangue, que, portanto, dá vida para o corpo inteiro do músculo que é o símbolo mais manifesto e eloqüente do amor do Salvador para conosco».
3. Observações finais
A natureza «humana» do Sangue e da Carne do «Milagre Eucarístico» foi conhecida por meio de precipitação segundo o método de Lhenuth. O grupo sangüíneo AB a que pertencem o «Sangue e a Carne» é muito vulgar entre os judeus. Para os que negam o Sobrenatural, o milagre de Lanciano apresenta um problema insolúvel. E que não é possível explicá-lo humanamente. Por outro lado, exclui-se qualquer hipótese de burla ou falsificação; ninguém seria capaz de retirar num coração humano que, como se sabe, é um músculo aberto por dentro, um pedaço uniforme de fibra muscular. E, se tal fosse possível, tanto esse tecido como o Sangue estariam mortos e sujeitos à decomposição. A análise científica, porém, demonstrou que as espécies de há 1.200 anos se apresentavam tais como se naquele instante houvessem sido retiradas de um corpo vivo. Na análise do Sangue notou-se a presença de proteínas e sais minerais, nomeadamente cloretos, fosfatos e ainda magnésio, potássio, sódio (em quantidade reduzida) e cálcio. Isto, apesar de as gotas de Sangue do Cálice se encontrarem expostas à ação dos agentes biológicos, pois estão guardadas apenas num Cálice de
Lanciano é a prova tangível da verdade das palavras sacramentais: «Isto é o meu Corpo; isto é o meu Sangue». E também a confirmação de que a presença real se mantém para lá da Missa sob as espécies do pão e do vinho consagrados, como, aliás, sempre foi ensinado pela Igreja.
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