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terça-feira, 1 de maio de 2007

Maçonaria: mais uma vez a maçonaria

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 195/1976)

De vez em quando ouvem-se comentários no sentido de que a nossa revista «Pergunte e Responderemos» estaria sendo simpática à Maçonaria.

A bem da verdade, julgamos oportuno observar o seguinte:

PR não tem tomado iniciativas próprias nem proposto alguma teoria particular no tocante às relações da Igreja com a Maçonaria. Todavia em seu n° 179/1974, pp. 415-426 a nossa revista publicou e explicitou, com fidelidade, um documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (sediada em Roma) datado de 19/07/74. Nesse documento a S. Igreja declarava:

1)Continua em vigor o cânon 2.335, que censura com excomunhão os fiéis católicos que entrem na Maçonaria ou em outra sociedade que trame contra a Igreja.

2) Este cânon há de ser interpretado em sentido estrito. Ele atinge a Maçonaria na medida em que esta trama contra a Igreja, e precisamente por este motivo. Isto quer dizer: se alguma Loja Maçônica não trama contra a Igreja (o que outrora não se ouvia dizer e hoje é dito vez por outra), o fiel católico que nela ingresse não cai sob excomunhão.

O motivo de tal atitude de Roma é o fato de que muitos bispos, sacerdotes e fiéis leigos afirmam haver hoje em dia Lojas Maçônicas que não tramam contra a Igreja, mas são neutras do ponto de vista religioso.

A Santa Sé não quis dirimir a questão: há ou não há Lojas Maçônicas inócuas à fé católica e à S. Igreja? Não lhe era possível fazer isto, dada a complexidade do assunto, nem era sua intenção proceder a pesquisa de tal gênero, que seria sempre incompleta. Mas o que interessava à S. Congregação para a Doutrina da Fé era levar em conta a possibilidade (apontada em casos concretos e definidos) de haver Lojas Maçônicas inócuas. Se as há (não é Roma quem dirime a questão), é compreensível que as autoridades romanas não desejem excomungar quem a elas se filie (o que seria injusto e antípastoral).

Perguntará alguém: mas como pode um fiel católico saber se tal ou tal Loja é ou não infensa à Igreja, visto que a Maçonaria é sociedade secreta, que só aos poucos revela os seus segredos?

A esta pergunta (formulada pelo próprio episcopado brasileiro reunido em Itaici, SP, de 19 a 26 de novembro de 1974) a S. Congregação para a Doutrina da Fé respondeu aos 12/03/1975, declarando:

"Seria talvez desejável (mas certamente não suficiente e não de se esperar) uma declaração pública por parte da Loja em questão, na qual se dissesse que não entra nos intentos dela combater a Igreja. Parece, entretanto, que se possa dar fé àqueles que, inscritos há anos na Maçonaria, solicitam espontaneamente ser admitidos aos sacramentos (o que lhes era antes negado por esse motivo), declarando - 'onerata ipsorum conscientia' - que a Loja na qual estão inscritos não persegue e não tem mais exigido deles compromissos contrários à sua reta consciência cristã.

Não parece, por outro lado, conveniente que os Bispos façam, ao menos na atual situação dos fatos, publicamente declarações sobre esta ou aquela Loja".

Esta resposta diz respeito aos maçons que têm anos de militância na Maçonaria e podem atestar, por experiência pessoal, o que a sua Loja pensa e faz. A esses maçons que peçam os sacramentos da Igreja, alegando inocuidade (sem que nada desabone esta afirmação), pode-se dar crédito.

Quanto aos católicos que ainda não pertencem à Maçonaria e nela desejam entrar, para que o possam fazer de consciência tranqüila, procurem previamente certificar-se dos rumos filosóficos adotados pela Loja a que se candidatam. Procurem chegar à possível clareza, usando de sinceridade para consigo mesmos, para com a Igreja e para com Deus. Se se lhes toma evidente que em tal Loja não há intenções anticatólicas, entrem...; estarão obrigados, em consciência, a deixar a Loja, sob pena de excomunhão, no dia em que adquirirem a certeza de que a respectiva Loja agride, de algum modo, a Igreja (sua doutrina, suas pessoas ou suas instituições). Não é necessário que haja complô secreto ou planejamento de ação hostil para que os membros de tal Loja sejam passivos de excomunhão. - A resposta de Roma datada de 12/02/1975 foi abordada em PR 188/1975, pp. 372-375.

É este o teor das declarações mais recentes de Roma sobre a Maçonaria. Como se vê, tais documentos nada definem a respeito da Maçonaria nem implicam na retratação de algum cânon da Igreja (não foi abolido o cân. 2.335). Apenas explicam o sentido de tal cânon em nossos dias: esta lei da Igreja foi redigida numa época (1917) em que se supunha que todas as Lojas maçônicas tramavam contra a Igreja; por isto não se podia admitir sequer a hipótese de se fazer alguma distinção no tocante à aplicação universal do cânon 2.335. Ora hoje em dia se diz haver Lojas inócuas; a Santa Sé, sem julgar esta notícia, apenas declara que, no caso de se dar tal hipótese, o cânon não tem aplicação (como é compreensível). Estamos diante de assunto complexo, no qual a Igreja nada quis propor em termos dirimentes; apenas tencionou levar em consideração situações novas, na medida em que estas realmente existam.

De resto, a temática abordada pelos documentos de Roma e por PR se limitava estritamente à questão: estará em vigor a excomunhão para todos os fiéis católicos que entrem na Maçonaria? - Da resposta de Roma e dos artigos de PR (cujo teor foi atrás recordado) não se segue a conveniência de se celebrar a S. Missa em dia aniversário de alguma Loja maçônica. Este outro aspecto da questão é independente do que foi abordado em PR; depende de «decisão local». Veja-se a propósito a nota colocada à p. 112 deste fascículo.

PR sempre procurou ser fiel à Igreja e ao público que confia na linha doutrinária adotada por esta revista. Manter-se-á firme neste propósito. De resto, a redação deste periódico será sempre grata às observações ou sugestões que lhe venham da parte dos amigos, no intuito de melhorar constantemente o serviço que a revista pode prestar aos estudiosos católicos e não católicos.

Estêvão Bettencourt O. S. B.

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