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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Inferno: por que Deus condena ao inferno?

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 029/1960)


«Se Deus quer que todos os homens se salvem, se­gundo ensina São Paulo a Timóteo (cf. 1 Tim 2,1-5), como se pode admitir que alguns incorram em condenação eterna?»

Antes do mais vamos colocar o problema em termos cla­ros ante os nossos olhos; a seguir, analisaremos a sua solução clássica.

1. O problema

1. Compulsando a Sagrada Escritura, o leitor nela en­contra uma série de textos que afirmam a vontade salvífica universal de Deus (ou o desejo que o Senhor tem de salvar todos os homens).

a) Assim desde os inícios do Antigo Testamento ressoa a promessa de um futuro Redentor destinado a todos os homens sem restrição: «Porei inimizades entre a linhagem da mulher e a linhagem da serpente...» (cf. Gên 3,15s).

Quando em 1800 a. C. Deus escolhe Abraão e seus descendentes para constituírem a estirpe do Messias, prediz que por essa dispo­sição serão largamente agraciados todos os povos: «Todas as nações da Terra serão abençoadas por teu intermédio» (Gên 12,2s; cf. 22,18). Por meio de Israel Deus quis proporcionar a salvação ao gênero humano inteiro, como, aliás, freqüentemente inculcam os Profetas: cf. Is 49,6; 53,11; 60,1-4; 66,18-23; Zac 8.20-23; 14,16-19.

Por fim, o Senhor mais de uma vez nas Escrituras Sagra­das declarou explicitamente que «não quer a morte do pecador, mas, sim, que se converta e viva» (Ez 33,11; cf. 18,27s), pois Ele ama todas as criaturas, principalmente os pecadores peni­tentes (cf. Sab ll,24s; 12,16-22).

b) Muito mais rico em testemunhos congêneres é o Novo Testamento, onde Jesus aparece como «o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo» (cf. Jo 1,29) ou como o Filho que Deus Pai, por amor, entregou para salvar o mundo (cf. Jo 3,16). É São Paulo quem com a máxima clareza desvenda o desígnio divino:

«Antes do mais, exorto a que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens. . . Isto é bom e agradável aos olhos de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens: Cristo Jesus, homem, que se deu em resgate por todos» (1 Tim 2,1-6).


Qualquer interpretação restritiva do texto seria alheia à intenção do Apóstolo: a salvação é universal, porque Cristo, o único Salvador, morreu por todos. Note-se, aliás, a tríplice ocorrência do termo «todos» na passagem acima.

São Pedro, por sua vez, faz observar que «o Senhor.. . procede com paciência.... não querendo que alguém pereça, mas, ao contrário, desejando que todos recorram à penitência» (2 Pdr 3,9).

Em conclusão, os textos até aqui citados dão a ver que da parte de Deus não há restrição alguma à salvação dos homens; todos recebem o mesmo chamado e os mesmos meios para entrarem no gozo da bem-aventurança eterna.

2. É inegável, porém, que, não obstante essa vontade salvífica universal, nem todos os homens de fato se salvam, conforme atesta a Sagrada Escritura mesma.

Chama-nos a atenção, por exemplo, o trecho no qual Cristo descreve o julgamento final, prevendo certo número de homens colocados à sua esquerda, onde ouvirão a sentença de repro­vação: «Retirai-vos de Mim...!» «Estes, diz o Senhor, irão para o castigo eterno, ao passo que os justos entrarão na vida eterna» (cf. Mt 25,41. 46).

É notório também o fecho da parábola das dez virgens, das quais cinco, retardatárias por sua negligência, batem à porta do Esposo, ouvindo por resposta: «Em verdade vos digo: não sei quem sois !» (Mt 25,12).

De resto, as parábolas escatológicas (ou concernentes ao fim dos tempos) costumam referir uma sentença de condenação para os que tiverem desprezado a graça de Deus; cf. Mt 25,30 (parábola dos talentos); Lc 19.24-27 (parábola das minas); Mt 24,50s (parábola do servo infiel); Mt 22,13 (parábola dos convidados às núpcias).

São Paulo enumera mesmo algumas categorias de peca­dores que não poderão possuir o Reino de Deus:

«Não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos iludais! Nem os fornicadores, nem os idolatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os infames, nem os fraudulentos, nem os avarentos, nem os ebriosos, nem os caluniadores, nem os ladrões possuirão o Reino de Deus» (1 Cor 6, 9s).


Em outra passagem acrescenta o Apóstolo:


«As obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, magia, inimizades, contenda, ciúme, ira, rixas, discórdias, facções, sentimentos de inveja, embriaguez, orgias e outras coisas semelhantes. Já vos admoestei e de novo admoesto: aqueles que praticam essas coisas, não terão parte no Reino de Deus» (Gál5,19-21).

3. Recapitulando a doutrina da Sagrada Escritura, veri­fica-se que duas proposições são, com igual certeza, incutidas pelo texto bíblico:

Deus quer, sim, salvar todos os homens;


na verdade, porém, nem todos se salvarão.

Daí resulta um problema não desprezível. Com efeito; nada acontece em contrariedade à soberana vontade de Deus, nem mesmo a ruína dos pecadores; como então conciliar a vontade salvífica universal do Criador com a perda dos réprobos de que falam Jesus e o Apóstolo?

A resposta a esta questão foi-se esboçando desde o séc. III (Tertuliano); chegou à sua formulação adequada nos escritos de São João Damasceno († 749), formulação que São Tomaz explicitou e sancionou definitivamente. Consideremo-la rapidamente.

2. A solução clássica

1. Nada acontece sem a participação da vontade de Deus, dizia-se atrás.

Faz-se mister, porém, distinguir entre vontade antece­dente e vontade conseqüente.

Chama-se vontade antecedente a vontade que se aplica ao seu objeto considerado em si mesmo, ou abstração feita das notas con­cretas acidentais de que esse objeto se possa revestir na realidade. Vontade conseqüente, ao contrário, é a vontade que visa o seu objeto tal como ele existe na ordem real, concreta, ou tal como ele se apresenta no plano da história. Pode acontecer que certo objeto, considerado em si mesmo ou em suas notas essenciais, deva ser tido como bom; visto, porém, à luz das circunstâncias concretas em que ele realmente existe, poderá merecer apreciação totalmente diversa.

Aplicando a distinção à questão focalizada, diremos:

Deus, em sua vontade antecedente, quer que todos os homens se salvem. Com efeito; Deus outorgou a todos a mesma natureza sequiosa do Bem infinito. Por conseguinte, considerando o homem segundo as notas essenciais da sua natureza, Deus certamente quer a salvação ou a posse da bem-aventurança para todos os homens; foi em vista da feli­cidade eterna, e somente em vista desta, que o Senhor criou o gênero humano.

Considerando, porém, cada indivíduo humano de per si, tal como comparece perante o juízo de Deus após o currículo desta vida, o Senhor não pode querer que todos tenham indis­tintamente a mesma sorte bem-aventurada, pois nisto haveria injustiça. Na realidade, alguns homens, abusando do livre ar­bítrio, frustram sua vocação para a bem-aventurança eterna, aderindo incondicionalmente às criaturas. Sobre esses o Se­nhor Deus tem que proferir sentença diversa da que compete às almas retas. Portanto, em sua vontade conseqüente, Deus, justo como é, não pode querer a salvação de todos os homens, mas há de querer o castigo dos maus (aliás, esse «querer o castigo dos maus», em última análise, não é senão «respeitar a livre opção dos que se quiseram saciar com as criaturas», como ainda mais claramente diremos abaixo).

Um caso análogo ilustra bem a doutrina proposta. Um juiz, antes que se ponha a julgar as causas dos acusados, quer, em vontade ante­cedente, absolver a todos, se possível. Acontece, porém, que, após examinar processo por processo, em sua vontade conseqüente, ele tem que querer a punição dos réus. Absolver a todos, sem distinção de inocentes e culpados, não seria justo nem contribuiria para o bem comum.

2. Algumas observações tornam-se agora oportunas a fim de se aprofundar quanto acaba de ser dito.

a) Como se entende, a distinção entre vontade antece­dente e vontade conseqüente não implica imperfeição em Deus. Na verdade, tudo é simultâneo perante o Senhor; contudo as criaturas, às quais se aplica a vontade divina, podem e devem ser consideradas segundo modalidades diversas, ou seja, ora em si mesmas, no plano das meras idéias, ora reves­tidas de suas notas concretas e contingentes, no plano das realidades históricas. É o que nos habilita a falar de vontade antecedente e vontade conseqüente em Deus.

b) Note-se ainda que a vontade antecedente do Senhor, que quer salvar todos os homens, não é mera veleidade estéril. Não; é vontade eficaz, no sentido de que ela quer e prepara para todos os homens, indistintamente, os meios necessários à salvação; contudo o Senhor dignou-se condicionar os resultados desses meios à aquiescência do livre arbítrio do homem, de sorte que, embora tudo esteja preparado da parte de Deus, nenhum fruto positivo de salvação se obtenha, caso o homem recuse as graças outorgadas pelo Pai do céu. Em outros termos: Deus, ao querer a salvação de todos os homens em sua vontade antecedente, quer salvar sem extinguir o livre arbítrio do homem; antes,... envolvendo a livre colaboração da criatura; o Todo-Poderoso não quis dotar o homem de livre arbítrio para redu­zi-lo, no momento decisivo, à categoria de autômato.

c) A vontade conseqüente segundo a qual Deus não quer que tal ou tal indivíduo em particular se salve, é vontade meramente permissiva. Na verdade, o Senhor apenas permite que o homem se condene; nunca decreta a condenação da criatura por um ato positivo e explícito. Todas as vezes que uma alma humana se perde, deve-se dizer que foi essa criatura quem escolheu livremente tal sorte, desprezando os auxílios da graça a ela dispensados pelo Criador; Este apenas reconhece o alvitre do livre arbítrio criado; não o violenta, porque a violentação equivaleria a contradição e incoerência por parte do Criador (é por não levarem em conta este pormenor que tantas pessoas não vêem como conciliar a bondade de Deus com a infelicidade póstuma do homem).

d) Naturalmente o estado de condenação não tem fim. Não é necessário que Deus decrete isto por um ato explícito de sua santíssima vontade; a perpetuidade da condenação pós­tuma é simples conseqüência do fato de que a alma humana é por si imortal (não consta de partes que se possam decompor, acarretando a morte); ela permanece, portanto, indefinida­mente na disposição mesma em que a morte colheu o res­pectivo indivíduo.

E porque não poderia a alma mudar de disposições após a morte?

Ela não o pode porque é somente em união com o corpo, nesta vida mortal, que a alma pode adquirir novas idéias e, mediante estas, novos afetos ou novas tendências. . . Tal é a psicologia humana.

e) Eis como em poucas palavras São João Damasceno resume toda a doutrina da vontade salvífica de Deus:


«Deus quer, por sua vontade primária e antecedente, que todos os homens sejam salvos e feitos participantes do seu Reino. Com efeito, Ele nos cria, não para nos punir, mas porque é bom, para nos fazer usufruir da sua bondade. ... Essa vontade primária e ante­cedente coincide propriamente com o desejo de Deus; em Deus está a causa dessa vontade. A outra vontade [ou modalidade do querer] é chamada conseqüente; consiste apenas numa permissão; ela tem sua raiz em nossos atos» (De fide orthodoxa II 29).


Eis os respectivos textos de São Tomaz: In I Sent, dist. XLVI qu. 1. a. 1. ad 2; De verit. qu. XXIII a. 2; S. Theol. I qu. XIX a. 9; qu. XXII a. 2; qu. XXHI a. 5 ad 3.

3. Voltando agora ao texto de São Paulo, 1 Tim 2,1-5, observa­remos um pormenor assaz significativo:


Ao afirmar que Deus quer a salvação de todos os homens, o Apóstolo emprega o verbo thélo (thélei, em 1 Tím 2,4). Ora tal verbo, nos livros do Novo Testamento em geral, significa freqüentemente um desígnio que Deus mesmo se digna condicionar a certos fatores, sem lhe atribuir eficácia absoluta (cf. Mt 23, 37: «Jerusalém, Jeru­salém, .. . quantas vezes quis [ethélesa] Eu reunir teus filhos como a galinha reúne os pintinhos debaixo de suas asas... e tu não o quiseste!»). Ao contrário, quando os escritores sagrados tencionam exprimir um decreto absoluto da vontade divina, usam o verbo bóulo-mai; cf. 1 Cor 12, 11; Lc 10,22; 22.42; Hebr 6.17; Mt 11,27; Mc 15.15; At 13,36; 20,27.

Esta nota filológica corrobora bem a conclusão acima exposta de que a vontade salvífica universal de Deus não é absoluta, mas é. pelo próprio Senhor, condicionada à livre colaboração da criatura humana.

4. A título de ilustração, seguem-se algumas sentenças menos felizes, propostas por S. Agostinho para conciliar a vontade salvífica universal de Deus com a perda dos réprobos:

a) explicação distributiva; Deus não quer propriamente a sal­vação de cada criatura individual, mas a de representantes de todos os tipos humanos (reis, nobres, plebeus, doutos, indoutos. etc.); cf. Enchir. 103;


b) explicação restritiva: Deus quer a salvação de todos os homens que de fato venham a ser salvos; aqueles que se salvam, só se salvam porque Deus o quer. — O S. Doutor ilustra esta interpretação me­diante a seguinte imagem: dado que numa determinada aldeia só haja um mestre de escola, diz-se que todos os habitantes da aldeia recebem dele a sua instrução; é verdade que nem todos vão à escola, mas o fato é que os que vão à escola e aprendem letras só as aprendem por intermédio de tal mestre... Ora, de modo semelhante, conforme S. Agostinho, dir-se-ia que Deus quer salvar todos os homens, não porque de fato todos se salvem, mas porque os que se salvam, só se salvam por vontade de Deus; cf. De praedestin. sanct. 8,14;

c) explicação pedagógica. Na verdade, São Paulo apenas teria intencionado dizer: Deus quer que nós queiramos a salvação de todos os homens. Cf. de corrept. et gratia 15,47.


5. Agostinho só propôs tais sentenças à guisa de hipóteses e nos últimos escritos de sua vida; visava, com isso. reprimir o otimismo herético dos pelagianos. que atribuíam à natureza humana plena capacidade para se salvar por si mesma, sem o auxílio da graça divina. O S. Doutor, porém, nunca retratou a sentença clássica, que ele mesmo adotara em seus escritos anteriores, sentença segundo a qual a salvação é oferecida por Deus a todos os homens sem exceção. Conseqüentemente, não se dará grande peso a alguma das hipóteses acima recenseadas.

3. Declarações do magistério eclesiástico

Não se poderia encerrar a presente explanação sem se citarem algumas importantes afirmações de concílios e Sumos Pontífices. . . Darão a ver melhor como a Santa Igreja sem­pre repeliu qualquer concepção pessimista a respeito da sal­vação eterna, afirmando que só se perdem os homens que livremente resistem à graça divina. Eis os textos que mais interessam ao estudioso da questão:

1) O símbolo niceno-constantinopolitano no séc. IV professa: «O Filho de Deus..., por causa de nós, homens, e da nossa salvação, desceu dos céus... também foi crucificado em nosso favor» (Denzinger, Enchiridion 86).


2) O concilio regional de Aries (475) promulgou uma carta assinada por doze bispos, a qual, entre outras teses, condenava as seguintes: «Aquele que perece, não recebeu os meios para se salvar» (cân. 2); «Cristo não morreu por todos, nem quer que todos os homens se salvem» (cân. 6).


3) O concilio regional de Quierzy (853) teve que tomar posição frente a Godescalco, heresiarca segundo o qual Deus desde toda a eternidade predestinou os réprobos para a condenação eterna. Eis como se pronunciaram os Padres conciliares:


«Deus Todo-Poderoso quer que todos os homens, sem exceção, sejam salvos. Se certos dentre eles se salvam, isto se faz por dom d'Aquele que salva; se, porém, certos perecem, isto acontece por culpa dos que perecem» (cân. 3);


«Não há, não houve, nem haverá jamais algum homem, do qual Cristo Jesus, Nosso Senhor, não tenha tomado a natureza. Da mesma forma, não há, não houve, nem haverá jamais homem por quem Ele não tenha sofrido, se bem que nem todos se beneficiem do resgate mediante o mistério de sua Paixão. O fato de que nem todos se beneficiam do resgate mediante o mistério de sua Paixão, não afeta de modo algum a grandeza e a abundância do preço, mas deve-se unicamente à atitude de quem não tem fé ou de quem não possui a fé que age pela caridade. O cálice da salvação humana, preparado para a nossa fraqueza pelo poder divino, contém o necessário para aproveitar a todos; mas, se alguém não o beber, não será por ele curado» (cân. 4).


4) Em 855 o concílio de Valença (França) afirmava:


«Ninguém é condenado por um juízo prévio de Deus, mas, sim, porque o mereceu mediante a sua própria iniqüidade. Os maus, portanto, perecem não porque não puderam ser bons, mas porque não o quiseram e por sua culpa permaneceram na massa condenada em conseqüência do seu demérito original ou mesmo atual» (cân. 2).


«Reprovamos com horror aqueles... que crêem nessa monstruo­sidade, a saber: que alguns tenham sido predestinados ao mal pela potência divina... de tal sorte que não possam ser senão maus...» (cân 3).


5) Em 1547, o concilio ecumênico de Trento repetia palavras de S. Agostinho assim concebidas:


«Deus não preceitua coisas impossíveis; sempre que preceitua algo, Ele exorta o homem a fazer o que esteja em seu alcance, e a pedir o que ultrapasse esse seu alcance» (Denzinger, ob. cit. 804).


6) Em 1653, o Papa Inocêncio X condenava, entre outras pro­posições de Cornélio Jansênio, a seguinte:


«É semipelagiano (isto é, herético) dizer que Jesus Cristo morreu ou que derramou o seu sangue por todos os homens» (Denzinger 1096).


Essa proposição, interpretada no sentido de que Cristo só morreu pelos predestinados, foi tida como ímpia, blasfematória, injuriosa, ofensiva à bondade divina e herética.


7) Em 1690 Alexandre VIII anatematizava mais as seguintes sentenças jansenistas:


«Cristo se ofereceu a Deus Pai em sacrifício por nós, não pelos escolhidos apenas, mas também por todos as fiéis, e somente por estes» (Denzinger 1294).


«Os pagãos, os judeus, os herejes e outros homens semelhantes não recebem influxo algum de Jesus Cristo; donde deduzirás que sua vontade está destituída de todos os recursos para se impor, assim como de toda graça suficiente» (Denzinger 1295).

Os teólogos modernos têm estendido os seus estudos aos mais variados aspectos do problema: salvação dos pecadores obstinados, dos apóstatas, dos pagãos, das crianças falecidas sem batismo, etc. Concordam em afirmar que Deus quer a salvação de todos, concedendo a cada indivíduo as graças su­ficientes para isso; divergem, porém, entre si, ao tentarem indicar o modo como o Senhor distribui suas graças; em última análise, o motivo dessa divergência acidental é a sobe­rania do comportamento divino, cujas sábias normas o homem jamais poderá discernir cabalmente.

Após quanto foi até aqui ponderado, o cristão fará con­seqüentemente um ato de incondicional entrega às disposições da Providência Divina, que certamente tudo dirige para a santificação dos fiéis. O discípulo de Cristo procurará viver dessa certeza, sabendo que cada um de seus atos o pode e deve encaminhar para a vida eterna. E deixará de lado ques­tões sutis, que só servem para desviar dos verdadeiros valores a atenção dos homens curiosos !

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